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Meio século depois de Woodstock, seus ecos ainda podem ser escutados

Nenhum evento ou festival cultural aqui gerou tantos livros, discos, documentários, imagens, memórias
David Brooks
La Jornada
Cidade do México

Tradução:

Há 50 anos na granja de Max Yasgur no estado de Nova York, realizou-se o festival Woodstock donde se exalou o último suspiro do que se chama “os sessenta”, e desde então prevalece uma profunda nostalgia por algo inocente e consciente ao mesmo tempo.

Nenhum evento ou festival cultural aqui gerou tantos livros, discos, documentários, imagens, memórias (e com este aniversário estão se produzindo mais ainda). Embora digam que “se você lembra de Woodstock, não esteve ali”, o festival é ponto de referência e forma parte do consciente (e provavelmente do inconsciente) coletivo deste país meio século depois. 

Foi uma expressão vital, e precária, uma resposta rebelde contra as convenções e as regras do jogo estadunidense e um sonho efêmero feito realidade durante o que chamaram de “três dias de paz e música”. 

Nenhum evento ou festival cultural aqui gerou tantos livros, discos, documentários, imagens, memórias

Reprodução
A música foi o centro, o eixo, a rota sonora de uma consciência comum formada por resistência às guerras imperiais, ao racismo, à injustiça

Abbie Hoffman, o grande palhaço e intelectual ativista subversivo dessa geração, explicou o que batizou como a “Nação Woodstock”, em seu livro com esse título, e o resumiu, durante seu julgamento (conhecido como “os Oito de Chicago”) que se iniciou um mês depois de 

Woodstock. Ao ser interrogado como testemunha no tribunal, identificou-se assim: Meu nome é Abbie. Sou um órfão da América… resido na Nación Woodstock”.  E isso onde fica? lhe perguntaram.  Respondeu: “É uma nação de gente jovem alienada. A carregamos conosco como um estado de ser da mesma maneira que os Indígenas Sioux carregavam sua nação Sioux com eles. É uma nação dedicada à cooperação versus a competição, à ideia de que as pessoas deveriam ter um melhor médio de intercâmbio que a propriedade ou o dinheiro, de que deveria haver outra base para a interação humana… está em minha mente e nas mentes de meus irmãos e irmãs. Não consiste de propriedade ou material, é de ideia e certos valores… É uma conspiração. Atualmente essa nação está cativa, nas penitências das instituições de um sistema em decadência”.  

Talvez a melhor canção sobre o festival foi uma música de quem nunca conseguiu chegar, Joni Mitchell, cujo refrão é “Somos pó de estrela/Somos dourados/E temos que ir embora /De regresso ao jardim” (em referência ao Jardim do Éden). Um verso contém esta reportagem: “Quando chegamos a Woodstock/Já éramos uma força de meio milhão/E por toda parte havia canto e celebração/E sonhei que vi os bombardeadores… E se estavam tornando mariposas/Sobre nossa nação”. 

 Woodstock realizou-se entre 15 e 17 de agosto de 1969.  Não houve comércio e os participantes não chegaram como consumidores. De fato, quando os organizadores, ao se darem conta que em lugar de 40 mil pessoas que se esperavam estavam chegando 10 vezes mais, declararam que o evento era gratuito. Não houve polícia, nem problemas maiores, um pouco de ácido ruim, e situações caóticas que foram resolvidas – nem todas bem – por uma comunidade autogovernada sem autoridades durante três dias (o grande documentário “Woodstock’ apresentado em 1970 regalou o festival ao mundo e continua sendo o registro definitivo; agora há novos para marcar este aniversario como https://youtu.be/WEaMka89dM4.

A música foi o centro, o eixo, a rota sonora de uma consciência comum formada por resistência às guerras imperiais, ao racismo, às injustiças sociais do país, e um rechaço do “American way of life”.  As canções – estavam aí algumas das mulheres bandas desses tempos – desde Janis Joplin, ao Grateful Dead, Credence, Jefferson Airplane, Sly & The Family Stone, The Who, Crosby, Stills, Nash & Young, Joan Baez, Santana e mais – estavam repletas de histórias dessas lutas e resistências e rebeldias que marcaram os sessenta.

Jimi Hendrix era o encarregado de fechar o festival e sua furiosa e acesa versão do hino nacional, repleta de guerras e gritos, e também de rebelião, foi talvez a mais emblemática do festival.

 

Los ecos de Woodstock aún se escuchan medio siglo después. 

** Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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