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Foto: Jewish Voice for Peace / X

Desinvestimento, transparência, vagas a refugiados: as vitórias de universitários pró-Gaza nos EUA

Após dias de acampamentos em defesa aos palestinos em diversas universidades estadunidenses, estudantes e reitores chegam a primeiros acordos
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Uma universidade aceitou a demanda de desinvestir em Israel e várias outras concordaram em que seus conselhos diretores e administradores de investimentos se reúnam com os estudantes para dialogar sobre se devem ou não retirar seus investimentos em empresas que têm negócios relacionados com a guerra de Israel em Gaza, o que indica que o movimento estudantil de protesto contra a cumplicidade dos Estados Unidos está obtendo alguns triunfos iniciais.

A administração do Evergreen State College em Olympia, Washington, assinou um acordo com os estudantes na semana passada no qual a instituição se compromete a encerrar todo investimento de fundos universitários em qualquer empresa que obtenha lucro com violações aos direitos humanos ou por ocupações ilegais no território palestino.

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Os estudantes dessa universidade ocuparam a praça central do campus em 26 de abril e imediatamente os administradores iniciaram negociações com eles. No início de maio, os administradores da Evergreen concordaram em desinvestir sua carteira de aproximadamente 18 milhões de dólares e os estudantes encerraram sua ocupação.

Até a última terça-feira (7), nenhuma outra universidade concordou em desinvestir, mas após protestos estudantis em várias instituições muito maiores, incluindo a Universidade Brown em Rhode Island, a Universidade de Minnesota e a Universidade Northwestern em Illinois, aceitaram negociar com os alunos e evitar o caminho da repressão escolhido por várias outras instituições acadêmicas.

Representação estudantil

Na Universidade Brown, uma das mais prestigiadas do país da chamada “Ivy League, com quase 9 mil estudantes, seis dias depois que os estudantes montaram uma ocupação, o conselho diretor anunciou um acordo no qual cinco representantes estudantis se reuniriam com eles em maio para apresentar seus argumentos a favor de desinvestir em “empresas que facilitam a ocupação israelense do território palestino” de seu patrimônio de 6,6 bilhões de dólares. A Brown comprometeu-se a que seu conselho diretor vote em setembro se deve ou não proceder com a retirada de seus investimentos nessas empresas.

Na Universidade de Minnesota, uma instituição estatal com 50 mil estudantes, a ocupação estudantil foi encerrada nesta semana depois que o reitor interino concordou em divulgar publicamente os detalhes de seu patrimônio de 3,7 bilhões de dólares e oferecer aos jovens a oportunidade de apresentar seus argumentos à junta diretiva da Universidade neste mês.

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Na Universidade Northwestern, com 22 mil estudantes, perto de Chicago, os estudantes encerraram sua ocupação depois que os administradores concordaram em divulgar os investimentos da instituição de seu patrimônio de 13,7 bilhões.

Enquanto esses acordos de divulgação, e em alguns casos, discussão sobre desinvestimento, estão longe de ser uma retirada de fundos, e com a imprensa financeira argumentando que essa avaliação de investimentos é pouco viável, o acordo apenas para discutir a demanda por desinvestimento foi respondido com fúria por alguns grupos pró-Israel.

Lobby Sionista

O multilionário do setor imobiliário Barry Sternlicht, um grande doador da Universidade Brown, disse ao New York Times na última sexta-feira (3) que a decisão de programar uma votação sobre o desinvestimento era inadmissível e acusou os manifestantes estudantis de serem “ignorantes”.

Em Illinois, o Comitê Judaico Americano e a Liga Anti-Difamação criticaram a Northwestern por sua decisão de se reunir com os manifestantes e negociar apenas a divulgação dos investimentos da universidade. “Northwestern sucumbiu às exigências de uma multidão, que intimidou estudantes judeus, promoveu discursos antissemitas odiosos e cujos membros celebraram os terroristas do Hamas”, acusou Sarah van Loon, diretora regional do Comitê Judaico Americano em Chicago.

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Na Universidade Rutgers, com 37 mil alunos, em Nova Jersey, os estudantes desfizeram a ocupação depois que a instituição anunciou que aceitaria inscrever 10 estudantes deslocados de Gaza e que a reitora se reuniria com os jovens para discutir o tema do desinvestimento. “Nosso compromisso com nossos estudantes é supremo. Estou grata pelo papel de nossa faculdade em guiar e apoiar os alunos para esta resolução pacífica”, afirmou a reitora Francine Conway em comunicado.

Com muitos estudantes chegando ao fim do ano letivo e se retirando durante o verão, ou alguns porque chegaram ao fim dos estudos, os ativistas estudantis consideram que esses passos são a melhor maneira de manter a pressão sobre as universidades para romperem toda colaboração com a guerra de Israel contra os palestinos.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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