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Dowbor: com novo capitalismo, Guedes dorme tranquilo enquanto 4 milhões de crianças passam fome

Desde 2014, com a implantação do teto de gastos e a redução dos direitos trabalhistas, o governo brasileiro passou a dar muito mais dinheiro para as elites, diz o economista
Mariane Barbosa
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

“Não sei como essas pessoas conseguem ficar tranquilas sabendo que tem quatro milhões de crianças passando fome no país. Criança que passa fome afeta o desenvolvimento cerebral, afeta para o resto da vida, isso não é visto como um crime num país que exporta alimento? Isso é bandidagem, é uma farsa, eu não sei como essa gente dorme.”

A declaração foi dada em tom de indignação pelo professor de Economia da PUC-SP Ladislau Dowbor em bate-papo na TV Diálogos do Sul com o jornalista Paulo Cannabrava Filho nesta quarta-feira (27).

Assista à íntegra do programa Dialogando com Paulo Cannabrava:

Conversa teve como eixo central a análise do cenário econômico brasileiro e o escândalo Pandora Papers, que envolve o ministro da economia Paulo Guedes e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto

No bate-papo, Dowbor questiona a crescente desigualdade social em nosso país enquanto explica o quanto a falta de poder aquisitivo da população de baixa renda afeta a capacidade produtiva das empresas brasileiras, o que é, diz, “um claro resultado da falta de investimentos em projetos sociais por parte do governo brasileiro”.

“Quando você tem muita desigualdade, os dois terços da população consomem muito pouco, o que gera uma economia de base estreita, não tem para quem vender”, explica.

De acordo com o professor, durante os anos de 2003 a 2013, os 143 programas sociais implantados pelo Partido dos Trabalhadores devolveram o poder aquisitivo à população de baixa renda, o que impactou positivamente no PIB brasileiro, que chegou a alcançar uma média de 3% ao ano.

“Por que funcionou? Porque gerou demanda. Quando geramos capacidade de consumo para as famílias, mais bem-estar, dinamizamos a atividade empresarial, e isso levou aqueles 18 milhões de empregos formais que foram criados”, explica.

“O que produzimos hoje de bens e serviços no Brasil dá 11 mil reais por mês para famílias de quatro pessoas, mas está indo quase tudo para os bilionários, é vergonhoso”, se indigna.

Desde 2014, com a implantação do teto de gastos e a redução dos direitos trabalhistas, o governo brasileiro passou a dar muito mais dinheiro para as elites, diz o economista

Roberto Parizotti
A Fome Voltou. Lambe lambe em muro na Avenida Paulista, altura da rua Haddock Lobo. São Paulo, SP. 16 de abril de 2021.

Retorno à fome

Para Dowbor, com a Lava-Jato e as manifestações de 2013, a elite brasileira “entrou de sola para desestruturar esse sistema que tava funcionando”. 

O professor cita como exemplo do desmonte a privatização da Petrobras. Antes, o Brasil dominava “o ciclo completo do petróleo”, que vai desde a extração até um sistema de pesquisa de incentivo tecnológico desenvolvido na estatal. Os lucros gerados pela empresa permitiam financiar os programas sociais, que garantiam um retorno ao Estado.

“Mas o que estão fazendo? Privatizando o sistema. E começaram pelo refino. Porque a partir daí, o Brasil precisa exportar o petróleo para refinar lá fora e comprar gasolina a preço do dólar, o que gera lucros fenomenais para os acionistas.”

O economista explica que, a partir de 2014, com a implantação do teto de gastos e a redução dos direitos trabalhistas, o governo brasileiro passou a dar muito mais dinheiro para as elites, que hoje não investem em produção, mas aplicam seu dinheiro em paraísos fiscais. É essa atitude que Dowbor chama de “outro tipo de capitalismo”, pois “o sistema financeiro extrai sem precisar gerar emprego”.

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“O que eles estão fazendo é simplesmente se apropriar de mais dinheiro, inclusive o próprio Paulo Guedes e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, terem contas em paraísos fiscais é absolutamente escandaloso, não tenha dúvida! Na Europa, eles estariam na rua”, ressalta.

“Eles dizem aos brasileiros: ‘tenham confiança na economia’, agora eu, ministro, por via das dúvidas, coloco o meu dinheiro em paraíso fiscal. Isso é vergonhoso.”

“O nosso problema não é econômico no sentido de falta de recurso, dá para todo mundo viver de maneira digna e confortável”, diz o economista, ao ressaltar que durante a fase de 2003 a 2013, o Brasil saiu do Mapa da Fome.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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