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ToggleSomos observadores de um dos fenômenos propagandísticos mais impactantes dos últimos tempos: o deslumbramento coletivo ante uma campanha hábil, cujo propósito é converter um ditador emergente em um dos líderes mais populares da década; todo um exemplo a seguir para os torpes governantes de nosso hemisfério.
Alabado por sua investida contra os bandidos em El Salvador, Bukele ultrapassou os limites da legalidade para transformar seu personagem – o político jovem e que não teme nada – em um campeão mundial contra a delinquência.
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Algo que não consideraram aqueles que o seguem e o admiram, alucinados por seu carisma, é o perigo de cair novamente sob o influxo da propaganda e fechar os olhos diante das violações de direitos humanos e cooptação da justiça cometidos durante seu governo; esquecer o indispensável exercício de reflexão, para passar por alto o significado deste estilo de ditadura renascido dos manuais de Joseph Goebbels – o responsável da propaganda nazista que levou Hitler ao poder absoluto – e escolher governantes repressivos e corruptos em seu afã por reproduzir o sistema.
De acordo com uma acusação da promotoria dos Estados Unidos apresentada ante uma Corte Federal do Estado de Nova York, Bukele teria negociado entre 2019 e 2012 com os líderes da MS-13, uma manobra que envolveria dois altos funcionários do governo salvadorense e cujos acordos se teria concedido benefícios à organização criminosa em troca de uma redução de homicídios e de favorecer – dentro de sua área de influência – a eleição do atual Presidente.
Foto: Presidencia El Salvador
A sedução do culto à personalidade não deve cegar nem obviar o necessário exercício da análise
Suposta guerra
Nesta suposta guerra contra as quadrilhas, da qual os detalhes se mantêm em estrito segredo e em cujos bastidores parecem existir acordos embaixo da mesa, se utilizaram profusamente as imagens dos internos cobertos de tatuagens, formando uma imagem perfeita de rendição nos pátios das prisões.
Estas imagens reforçaram a ideia de um governo eficaz, capaz de manejar a política interna de segurança com mão de ferro enquanto no resto da América Latina e outros países do mundo, os espectadores de tais façanhas aplaudem com entusiasmo.
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Ao “ditador mais cool do mundo” como se autodefine Bukele, não tremeu a mão para transformar, mediante a imposição de medidas legislativas que lhe beneficiam, o sistema de pesos e contrapesos institucional com o qual se assegura a possibilidade da reeleição – que antes de sua administração era proibida – e o debilitamento de qualquer frente de oposição às suas tentativas de estabelecer uma ditadura com miras a perpetuar-se.
As esperanças de seus admiradores fora das fronteiros salvadorenses, que caíram sob o influxo de uma das campanhas de imagem política mais efetivas em termos de popularidade – com seu ingrediente de cegueira coletiva – é reproduzir o exemplo para seus respectivos países, abrumados pela delinquência e a corrupção.
O que presenciamos hoje é um regresso – muito mais sofisticado – às práticas dos anos 70 e 80, os tempos mais escuros da América Latina com sua sequela de assassinatos de líderes populares e de cidadãos enfrentados em situação de inferioridade às hostes dos ditadores de turno. As ditaduras só deixaram um saldo de mortes e retrocessos institucionais que ainda constituem o maior obstáculo para o desenvolvimento de nossas nações.
A sedução do culto à personalidade não deve cegar nem obviar o necessário exercício da análise.
Carolina Vásquez Araya | Colaboradora da Diálogos do Sul na Cidade da Guatemala.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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