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Empresários que defendem golpe de Estado têm empréstimos e dívidas com União

Empreendedores que obtiveram crédito estatal durante governo Lula não querem sua volta à Presidência; saiba quem são
Paulo Motoryn
Brasil de Fato
Brasília (DF)

Tradução:

Entre os empresários que integram um grupo de WhatsApp em que se faz a defesa de um golpe de estado caso o ex-presidente Lula (PT) vença as eleições de outubro, estão devedores à União e proprietários de empresas que pegaram empréstimos do Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES). As ameaças golpistas foram reveladas em reportagem do jornalista Guilherme Amado publicada no site Metrópoles, na tarde de quarta-feira (17).

Apesar das duras críticas feitas ao PT e à esquerda e da defesa ferrenha de ideias de direita, suas trajetórias empresariais demonstram, de acordo com levantamento feito pelo Brasil de Fato, uma constante relação com o Estado, colhendo benefícios dessa proximidade.

De acordo com o monitoramento da reportagem, o grupo tem ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), exaltação às Forças Armadas e até sugestões de atos violentos para impedir um retorno de Lula ao Palácio do Planalto. Os integrantes mais conhecidos são Luciano Hang, dono da rede de lojas de departamentos Havan, e Afrânio Barreira, da rede de restaurantes Coco Bambu, marcados pelo apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) desde 2018.

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A matéria cita ainda outros empresários que integram o grupo e que trocaram mensagens com teor antidemocrático, ligados a diferentes setores da economia, como José Isaac Peres, dono da gigante de shoppings Multiplan; José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro; Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia; Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca de surfwear Mormaii.

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Outras figuras, estas menos conhecidas, também aparecem nas revelações feitas pela reportagem do Metrópoles. São eles: Mayer Nigri, da empreiteira Tecnisa; André Tissot, do Grupo Sierra; Vitor Odisio, executivo da Thavi Construction, Carlos Molina, dono da autoria Polaris; e Marlos Melek, juiz federal do trabalho.

Leia um breve perfil de cada um deles abaixo:


Luciano Hang

O empresário é dono da rede de lojas de departamento Havan, fundada em 1986. É apoiador declarado do presidente Jair Bolsonaro (PL) e crítico do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera a corrida eleitoral deste ano.

Procurado pelo Brasil de Fato, Hang informou que é a favor da “democracia, liberdade, ordem e progresso”. Disse também que não tem nada a ver com mensagens sobre golpe trocados no grupo e que nunca se manifesta ali.

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Segundo reportagem do Metrópoles, porém, já postou no grupo previsões sobre as próximas eleições presidenciais. Disse que espera que Bolsonaro seja eleito neste ano e que seu ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), hoje candidato a governador de São Paulo, seja eleito nos pleitos de 2026 e 2030.

De 2005 a 2014 – durante os governos do Lula e da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) –, a Havan obteve 50 empréstimos de linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ao todo, as operações envolveram mais de R$ 20 milhões.


Afrânio Barreira

Afrânio Barreira é dono da rede de restaurante Coco Bambu, fundada em 1989 e que hoje tem 64 unidades. Barreira também é apoiador de Bolsonaro. Na eleição de 2018, ele inclusive doou R$ 20 mil para a campanha do atual presidente.

Barreira declarou ao Metrópoles que nunca se manifestou a favor de qualquer conduta que não seja institucional e democrática. Ele, porém, enviou uma figura de um homem fazendo gesto de positivo quando um outro membro do grupo falou em ruptura.

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“Participo de vários grupos com colegas e amigos que tratam de diversos assuntos, e, às vezes, de política. Com frequência me manifesto com reações em ’emoticon’ a alguma mensagem, sem necessariamente estar endossando seu teor”, declarou.

De acordo com lista de devedores mantida pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), sete empresas ligadas à rede Coco Bambu têm dívidas com a União. Só uma delas deve mais de R$ 470 mil reais ao poder público.


Marco Aurélio Raymundo – “Morongo”

Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, é fundador e dono da marca de roupas de surf Mormaii, fundada em 1976. De acordo com mensagens obtidas pelo Metrópoles, ele é um dos empresários mais extremistas do grupo.

Ele apoiou em mansagens o ato militar convocado pelo presidente Bolsonaro para o feriado do dia 7 de setembro, em Copacabana, no Rio; disse que foi um golpe terem soltado “o presidiário” e que o “supremo” age contra a Constituição.

A Mormaii, de 2010 a 2013 – durante os governo Lula e Dilma –, obteve quase R$ 4 milhões em empréstimos no BNDES.

Empreendedores que obtiveram crédito estatal durante governo Lula não querem sua volta à Presidência; saiba quem são

Palácio do Planalto – Flickr

“O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo", disse um dos empresários no grupo integrado por Luciano Hang




José Isaac Peres

José Isaac Peres é fundador e sócio-majoritário da Multiplan, uma das maiores empresas de shoppings do Brasil. A empresa controla 19 centros comerciais, em sete Estados.

De acordo com o Metrópoles, Peres atacou pesquisas eleitorais no grupo com empresários. Disse que elas são manipuladas para confirmar resultados das “urnas secretas”.

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No BNDES, constam empréstimos às empresas Multiplan Emprendimentos Imobiliários e Multiplan Engenharia e Construções firmados durante o goveno Lula.

Peres não respondeu ao Metrópoles. O Brasil de Fato não conseguiu contato com o empresário até o fechamento desta reportagem.


José Koury

José Koury é dono do Barra Shopping, no Rio de Janeiro. o espaço é um dos primeiros shoppings temáticos do Brasil e conta com mais de 400 lojas.

Ele, segundo o Metropóles, iniciou a discussão sobre o eventual golpe no Brasil no grupo de empresários. Disse que preferia uma ruptura à volta do PT. Defendeu ainda que o Brasil voltar a ser uma ditadura não impediria o país de receber investimentos estrangeiros.

Ele também sugeriu o pagamento de bônus a empregados durante o período eleitoral, o que poderia configurar compra de votos.

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Ao Metrópoles, Koury confirmou que preferia um golpe à volta do PT à Presidência. “Vivemos numa democracia e posso manifestar minha opinião com toda liberdade. Não disse que defendo um golpe de Estado, e sim que talvez preferiria isso a uma volta do PT. Para mim, a volta do PT será um retrocesso enorme para a economia do país”, disse.


Ivan Wrobel

Ivan Wrobel é dono da W3 Engenharia, construtora carioca especializada em imóveis de alto padrão. No grupo de empresários, ele diz ser eleitor de Bolsonaro desde a época em que ele ainda era candidato a deputado federal.

No grupo, ele também fala sobre uma suposta fraude na eleição deste ano. “Quero ver se o STF tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na Av. Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público”, citando o ato programado para 7 de setembro.

Wrobel não respondeu ao Metrópoles. O Brasil de Fato não conseguiu contato com o empresário até o fechamento desta reportagem.

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Meyer Nigri

Meyer Nigri é fundador da construtora Tecnisa, fundada em 1977 e considerada uma das maiores empresas do mercado imobiliário do Brasil. Atua no mercado de forma integrada, fazendo incorporação, construção e vendas de imóveis.

No grupo de empresário, Meyer faz ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF). “O STF será o responsável por uma guerra civil no Brasil.”

Nigri é considerado um dos empresários mais próximos de Bolsonaro e responsável por aproximar o presidente de diferentes personagens.

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Ao Metrópoles, Nigri disse que pode ter encaminhado alguma mensagem que recebeu ao grupo de empresários que recebeu, mas “Isso não significa que eu falei ou concorde”.

Ao Brasil de Fato, a Tecnisa declarou que “é uma empresa apartidária, que defende os valores democráticos e cujos posicionamentos institucionais se restringem à sua atuação empresarial”.


André Tissot

André Tissot, é presidente do Grupo Sierra, empresa gaúcha especializada na venda de móveis de luxo. Tissot, segundo o Metrópoles, defendeu em mensagens que o golpe no Brasil deveria ter ocorrido em 2019.

“O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo. [Em] 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais”, publicou.

Tissot não respondeu ao Metrópoles. O Brasil de Fato não conseguiu contato com o empresário até o fechamento desta reportagem.


Vitor Odisio

Vitor Odisio se apresenta no Instagram como engenheiro, construtor licenciado na Flórida (Estados Unidos), mentor e investidor. Ele também é presidente da Thavi Construction, construtora que atua nos EUA.

No grupo com empresários, Odisio prevê que Bolsonaro não vencerá está eleição por conta do Tribunal Superior Eleitoral e por conta da urna eletrônica. “Tem que intervir antes, esquecer o TSE, montar uma comissão eleitoral (como quase todos os países do mundo fazem), votação em papel e segue o jogo! Simples assim”, escreveu.

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Em seu Instagram, Odisio tem foto com o blogueiro Allan dos Santos, considerado foragido pela polícia brasileira depois de ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal.

Odisio não respondeu ao Metrópoles. O Brasil de Fato não conseguiu contato com o empresário até o fechamento desta reportagem.


Carlos Molina

Carlos Molina é português, mas mora no Rio. Ele é sócio-diretor da Polaris Auditores, empresa beneficiada por um empréstimo de R$ 250 mil operado pelo BNDES em 2020, ou seja, já durante o governo Bolsonaro. O empréstimo ainda não foi quitado.

No grupo de empresários, Molina se refere ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, como skinhead. Em 7 de julho, ao comentar a notícia sobre a explosão de um artefato com fezes humanas em um ato lulista no Rio, Molina: “É totalmente desnecessário. Não vai faltar muito para o Alex Skinhead decretar isso como atentado terrorista com arma biológica.”

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Molina não respondeu ao Metrópoles. O Brasil de Fato não conseguiu contato com o empresário até o fechamento desta reportagem.

Paulo Motoryn e Vinicius Konchinski | Brasil de Fato
Edição: Rodrigo Durão Coelho


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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