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Em meio a novo massacre e à erosão dos EUA, Biden diz: “Nunca fui mais otimista”

Presidente emitiu sua mensagem do 4 de julho da Casa Branca declarando que os EUA “são uma grande nação, porque somos gente boa”
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Para marcar o 246º aniversário da Declaração de Independência dos Estados Unidos, o presidente e todo político eleito – desde legisladores federais a prefeitos de cidadezinhas – emitiram declarações patrióticas e participaram em atos decorados pelas cores nacionais. Houve competições de quem podia comer mais hot dogs e fogos artificiais. E também fogo real de armas em mais outro tiroteio massivo. 

Em Highland Park, um subúrbio de Chicago, no início do desfile do 4 de julho na manhã de segunda-feira, foram escutados tiros e se instalou o pânico com participantes e famílias fugindo enquanto um homem jovem branco disparava um rifle – uma das aproximadamente 400 milhões de armas de fogo em mãos privadas deste país – a partir de um terraço, matando seis e ferindo mais de 30. 

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Várias comunidades ao redor de Chicago cancelaram suas festividades enquanto as autoridades lançaram uma busca em massa do suspeito e de noite anunciaram a prisão de um homem branco de 22 anos de idade.  

O governador de Illinois, J.B. Pritzker, declarou que “é devastador que uma celebração dos Estados Unidos fosse destroçada por nossa praga singularmente estadunidense”. 

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O tiroteio mássico é só um a mais dos 309 (segundo cifras oficiais de Gun Violence Archive) que já ocorreram este ano nos Estados Unidos, incluindo os recentes, um na escola primária em Uvalde, Texas, e outro em um supermercado em Buffalo, Nova York, que sacudiram o país e intensificaram o debate sobre o controle de armas de fogo.  

As armas continuam sendo um símbolo com o que nasceu o país, e o patriotismo oficial sempre inclui um elogio das forças armadas e a ideia de armas como defesa da “liberdade” imiscuída no mito oficial, da guerra da independência até hoje, contra inimigos como a Rússia.  

De fato, a mensagem de festejo do 4 de julho da Associação Nacional do Rifle (NRA) nesta segunda-feira foi “somos um país pelas almas valentes com armas e que valorizaram a luta por nossa liberdade”. E os produtores do filme Top Gun, sobre aventuras bélicas estadunidenses, não duvidaram em usar o 4 de julho para promover sua obra.

Presidente emitiu sua mensagem do 4 de julho da Casa Branca declarando que os EUA “são uma grande nação, porque somos gente boa”

Office of Public Affairs – Flickr

O otimismo patriótico do presidente e de outros políticos não é compartilhado por três quartos do país




Mensagem de Biden

O presidente Joe Biden emitiu sua mensagem do 4 de julho da Casa Branca declarando que os Estados Unidos “são uma grande nação, porque somos gente boa” e sublinhou que “nunca fui mais otimista” sobre o país. No entanto, também foi obrigado a expressar seu horror diante “da insensata violência por armas de fogo” e reiterou seu compromisso de batalhar contra “a epidemia da violência de armas de fogo”. 

Mas como é tradição, elogiou os integrantes das forças armadas, “as quais comprometem suas vidas em defender nossa nação e a democracia ao redor do mundo”. 

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Outros integrantes da cúpula política ofereceram variações sobre estas fórmulas retóricas aparentemente obrigatórias embora ainda não fique claro quem as está escutando. 

O otimismo patriótico do presidente e de outros políticos não é compartilhado por três quartos do país. Neste aniversário do nascimento de sua república, uma esmagadora maioria de estadunidenses – quase 74% segundo a média das principais pesquisas da semana passada – opina que o país prossegue em uma direção equivocada. 87% dizem estar “insatisfeitos” a “como vão as coisas”, segundo a sondagem mais recente do Gallup. 

E diante da retórica oficial, houve toda uma gama de mensagens dissidentes neste 4 de julho. Shannon Watts, a fundadora de Moms Demand, parte do movimento pelo controle de armas, teve uma resposta muito simples e patriótica à mensagem de amor às armas da NRA: “Foda-se”.  

O autor indígena Nick Estes recordou que hoje faz quase 250 anos que “escravocratas brancos chamaram as nações originárias desse continente de ‘índios selvagens desapiedados’ em sua Declaração de Independência. A contrarrevolução de propriedade sobre nossas terras se iniciou enquanto eles declaravam que ‘todos os homens são criados iguais’”. 

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Muitos observadores destacados continuaram soando o alarme sobre a acelerada erosão da república estadunidense ao marcar este Dia da Independência. Assinalaram que os ataques conservadores contra direitos fundamentais incluindo o direito ao voto, o direito das mulheres para decidir sobre seus próprios corpos, reveses em tentativas para controlar ainda que minimamente as armas de fogo, como também limitar a autoridade do governo para combater a mudança climática entre outros, só piorarão no futuro imediato. 

De fato, assinalam que nas próximas eleições intermediárias, em novembro, nas quais estão em jogo toda a câmara de representantes e um terço do Senado, os republicanos têm uma alta probabilidade, por ora, de retomar uma ou ambas as câmaras. O site de análises e prognósticos políticos FiveThirtyEight dá aos republicanos 87% de probabilidade de ganhar a câmara baixa e 55% de reconquistar o Senado.  

“É mais que plausível – é provável – que estamos caminhando para uma era de maior autoritarismo, maior repressão e mais sofrimento. O progresso logrado pelos Estados Unidos ao longo do último meio século em oferecer proteções legais e participação democrática a pessoas que não são brancas, nem cristãs, heterossexuais, ricos e homens está se desvanecendo”, comenta o jornalista e professor Peter Beinart.

Perguntado qual seria sua mensagem neste 4 de julho para aqueles estadunidenses que estão perdendo a esperança em seu país diante de todo este panorama, o filósofo político Cornel West respondeu em entrevista para MSNBC: “primeiro temos que ter um compromisso incondicional com o empoderamento de gente comum aqui e ao redor do mundo. A esperança só se pode encontrar em nossas ações… a esperança é um verbo… não um otimismo abstrato.

Não sou otimista sobre os Estados Unidos. [Porém] sou um prisioneiro da esperança porque creio que dentro do império estadunidense, dentro de seu experimento democrático, sempre há seres humanos valentes e visionários de todas as cores que estão dispostos a dar tudo pelo amor e a justiça”.

David Brooks é correspondente do La Jornada em Nova York.
Tradução de Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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