Dia da Independência em um Estados Unidos no qual se batalha por resgatar essa democracia que supostamente nasceu em 4 de julho de 1776, um país onde literalmente se está lutando pelo suposto princípio sagrado de “uma pessoa, um voto”, junto com o que se proclamou na Declaração de Independência de que “todos os homens são criados iguais” e que proclama a “terra da liberdade”.
Alguns historiadores opinam que a democracia representativa estadunidense nasceu, na verdade, em 1965, com a aprovação da Lei de Direito ao Voto garantindo o sufrágio efetivo de todos os cidadãos ao proibir a discriminação racial pela primeira vez — um triunfo histórico do movimento de direitos civis.
Mas, ao longo dos últimos anos forças direitistas têm buscado limitar e suprimir o voto afro-estadunidense, latino e indígena e dos pobres através de leis estaduais – mais de 20 medidas desse tipo foram aprovadas em 17 estados só neste ano. A Suprema Corte acaba de decidir a favor de um par destas leis no Arizona, ou seja, contra a democracia.
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Dia da Independência em um Estados Unidos
Enquanto se celebra a festa patriótica, a maior ameaça à segurança nacional do país, segundo as autoridades federais, são os supremacistas brancos, neonazistas e outros extremistas xenofóbicos, ou seja, inimigos dessa sagrada “liberdade” e “igualdade” que Washington tanto deseja exportar ao resto do mundo, frequentemente à força (através de golpes de Estado, intervenções, guerras etc.).
A ex-veterana militar Brittany Ramos DeBarros comenta esta semana que “a única maneira que consigo aguentar o Quatro de Julho é… porque estou trabalhando com veteranos militares e as pessoas mais impactadas pela guerra… levando a causa às ruas e aos corredores do Congresso para frear o uso do patriotismo cego como justificativa de guerras”, declara a diretora da organização de About Face: Veterans Against the War.
Para Nick Tilsen, diretor do Coletivo NDN, agrupamento indígena, “o 4 de julho é… uma narrativa falsa de democracia… dizem que se trata de dar direitos às pessoas, mas toda esta nação foi construída sobre as terras roubadas de povos indígenas”.
Frederick Douglass, o grande abolicionista, ex-escravo afro-estadunidense e editor do extraordinário jornal North Star, declarou em seu famoso discurso sobre o 4 de julho em 1852: “O que compartilho eu, ou os que represento, com a independência nacional dos senhores? Aqueles grandes princípios de liberdade política e de justiça natural, encarnados nessa Declaração de Independência nos incluem?
“Este Quatro de julho é dos senhores, não meu… Não duvido em declarar, com toda a minha alma, que o caráter e a conduta desta nação nunca me pareceram mais escuras que neste 4 de julho… Estados Unidos é falso ao passado, falso ao presente e solenemente se ata para ser falso ao futuro… Por barbarismo repugnante e hipocrisia sem vergonha, Estados Unidos reina sem rival”. [https://www.pbs.org/wgbh/aia/part4/4h2927t.html].].
Para Langston Hughes em seu poema de 1955, “Let America be America Again”:
“Sou o pobre branco, enganado e apartado
Sou o negro aguentando as cicatrizes da escravidão
Sou o homem vermelho expulso da terra
Sou o imigrante agarrado da esperança que busco… Mas sou o que sonhou nosso sonho básico… Quem disso isso de liberdade? Os milhões que vivem de assistência (pública) hoje
os milhões baleados quando estamos em greve? Os milhões que não temos nada em pagamento? Por todos os sonhos que temos sonhado
E todas as canções que temos cantado
E todas as esperanças que temos guardados
E todas as bandeiras que temos agitado
Os milhões que temos nada de salário
Exceto o sonho que quase está morto hoje… Oh, que América seja América outra vez
Terra que nunca existiu ainda
E ainda tem que ser terra em que todos estejam livres…”
[https://poets.org/poem/let-america-be-america-again].
O 4 de julho está ainda em disputa nos Estados Unidos, como tem sido desde suas origens.
David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York
La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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