As imagens de cadáveres em decomposição na cidade de Guaiaquil, no Equador, recordaram o ocorrido nas primeiras semanas da pandemia e, com isso, a crítica reiterada de que o sistema de saúde e os necrotérios evidenciam um serviço público debilitado com o chamado “austericídio neoliberal” vigente há sete anos no Equador.
Segundo as denúncias e a resposta oficial, mais de 200 cadáveres em decomposição de pessoas assassinadas ficaram expostos e empilhados após uma avaria nos contêineres refrigerados no principal necrotério dessa cidade costeira. Por isso, os agentes policiais quase imediatamente retiraram os cadáveres em decomposição.
O que chama a atenção é que esses corpos seriam de criminosos supostamente assassinados em disputas de gangues e de vítimas dos ataques dos grupos criminosos, dado o recrudescimento da violência nas últimas semanas. De acordo com os principais testemunhos, essa situação se agrava a cada dia porque os familiares dos falecidos não se aproximam para identificá-los por medo de represálias dos bandos criminosas. Só neste ano, foram mais de 1.300 crimes em Guaiaquil.
Porém, chegam ao necrotério da cidade cadáveres de populações vizinhas como Posorja, Playas, Tenguel, Samborondón, Daule e Durán, esta última considerada a cidade mais violenta do mundo pelo portal Inside Crime. No entanto, a ministra do Interior, de origem mexicana, Mónica Palencia, insiste que as mortes violentas foram “reduzidas em 99% no que vai de 2024”.
Tudo começou quando o mau cheiro inundou os arredores das instalações do Instituto de Medicina Legal de Guaiaquil, em um setor populoso dessa cidade. Diante disso, ao cair da tarde de 11 de junho, o Serviço Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses divulgou um comunicado nas redes sociais explicando que dois contêineres refrigerados do Laboratório de Criminalística de Guaiaquil sofreram danos devido às variações elétricas registradas há semanas em todo o país.
Essa instituição não deixou de lado o que também é motivo de preocupação geral, não necessariamente de ocupação imediata do governo de Daniel Noboa: “devido ao incremento da violência criminal no país, há um maior número de cadáveres de pessoas desconhecidas, a quem se cataloga como NN (não identificados nem retirados por seus familiares)”.
Desde janeiro, um desses contêineres deixou de funcionar e os cadáveres foram transferidos para o único que continuava operando. E para os encarregados é uma situação horrorosa, pois disseram que muitos desses corpos estão despedaçados, com os membros e cabeças sem identificação e guardados em sacos plásticos que aceleram a decomposição.
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