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Falta de assistência em meio à pandemia põe em risco vida de refugiados no Líbano

A superlotação e a falta de higiene nos campos de exilados palestinos e sírios emitem um sinal vermelho diante do coronavírus
Armando Reyes Calderín
Prensa Latina
Líbano

Tradução:

Talvez a pandemia da Covid-19 venha a ser a pior ameaça que os refugiados no Líbano enfrentarão, devido à carência de assistência básica em seus acampamentos.

O Comitê de Ação Conjunta da Palestina no Líbano advertiu que prepara jornadas de protesto em demanda de medidas para responder à epidemia que surge em cada esquina desses assentamentos.

Em uma declaração, o comitê criticou a demora e o contínuo adiamento da Agência da ONU para os Refugiados no Médio Oriente (Unrwa) e sua negligência em assumir responsabilidades.

“Lamentamos e condenamos o fracasso da Unrwa em ajudar os refugiados palestinos”, lê-se no comunicado. O texto refere-se às numerosas ocasiões de apelação à agência da ONU que ficaram sem resposta.

“Não poupamos esforços com todas as facções nacionais e islâmicas palestinas para pedir celeridade à entidade da máxima organização internacional na providência de assistência para os refugiados”, diz a nota.

O documento faz um apelo para que a agência tome decisões para aliviar dificuldades e proporcionar dignos meios de vida, do contrário os refugiados protagonizarão manifestações de protesto.

Na ausência de uma assistência significativa, as autoridades libanesas, entidades locais e facções palestinas fazem campanhas de conscientização sobre a pandemia da Covid-19.

Os dirigentes da Unrwa alegam que antes do açoite da pandemia no Líbano, a entidade sofria de escassez de recursos, tendo angariado apoio de doadores internacionais no valor de 1.4 bilhões de dólares necessários para manter-se operativa.

O diretor da agência no Líbano, Claudio Cordone, explicou que a crise financeira que está afetando todo o mundo e especialmente este país, piora a situação dos refugiados palestinos.

Apoiar a Unrwa não é uma questão política, acrescentou, e sim humanitária.

O confinamento e a falta de condições de higiene em acampamentos de refugiados palestinos e sírios no Líbano emite uma luz vermelha ante a pandemia da Covid-19.

Pelo menos 200 mil palestinos e cerca de 1.5 milhões de sírios encontraram refúgio na nação dos cedros, mas a superpopulação e a deterioração de suas residências reduzem a proteção contra a pandemia.

No entanto, até agora o número de infectados dentro dos acampamentos palestinos e sírios não é significativo frente aos mais de 620 mortos em todo o Líbano, segundo informações recentes.

Mas a ameaça está em cada lugar dos acampamentos que se caracterizam por espaços reduzidos, serviços básicos mínimos e pobreza.

“A principal preocupação continua sendo a propagação da Covid-19 por causa das limitadas possibilidades de isolamento das famílias”, explicou a porta-voz da Unrwa, Huda Samra.

Procuram-se centros para isolar contagiados de sadios, tanto nos assentamentos de palestinos como de sírios, explicou.

Os casos de infecção terão que ser evacuados para unidades libanesas de cuidados intensivos com a preocupação de que pode não haver lugar.

Em ambas comunidades, as agências da ONU prometeram pagar pelas provas e a hospitalização, e apoiar as instalações hospitalares nos acampamentos, indicou a porta-voz do Alto Comissionado da ONU para Refugiados (ACNUR), Lisa Abou Khaled.

“Criaremos salas com camas adicionais, inclusive unidades de cuidados intensivos para uma maior capacidade de resposta”, disse.

As organizações não governamentais temem que a discriminação existente contra os refugiados seja um desafio agregado.

O Líbano viu aumentar até seis milhões de sua população de 4.5 milhões desde o começo da guerra da Síria em 2011.

Muitos culpam os refugiados sírios pelos problemas econômicos em curso e as autoridades frequentemente estimulam-nos a regressar.

Uma assessora de meios de comunicação informativos, Elena Dikomitis, declarou que existe temor de ocultamento de sintomas ou de evitar tratamento devido à discriminação e ao estigma.

Em vários municípios libaneses, há toque de queda para refugiados sírios. E, no caso dos palestinos, vivem com restrições de trabalho, agora mais acentuadas com a crise econômica e sanitária.

A superlotação e a falta de higiene nos campos de exilados palestinos e sírios emitem um sinal vermelho diante do coronavírus

Nações Unidas
A ameaça está em cada lugar dos acampamentos que se caracterizam por espaços reduzidos, serviços básicos mínimos e pobreza.

Chefes religiosos do Líbano contrários ao plano do Governo

Chefes religiosos muçulmanos e cristãos do Líbano manifestaram sua oposição a um plano de resgate da economia que concentrará hoje os debates durante uma reunião de Governo.

O grande mufti Abdel-Latif Derian, máxima figura da variante islâmica sunita, declarou que não aceitará medida, posição ou decisão alguma que dependa de poupadores para um projeto de pagamento da dívida pública.

Para o clérigo, o papel do Estado consiste em proteger os depósitos das pessoas em lugar de dirigi-los para fins alheios aos interesses de seus donos.

Derian advertiu que privar de economias de toda uma vida levaria à destruição da sociedade e da moral, assim como expandiria o caos.

É ilógico recorrer aos depositantes enquanto há dinheiro saqueado, cujo destino ignoramos. Os cidadãos não devem ser as vítimas, acrescentou.

Na mesma linha, o chefe do Conselho Superior Islâmico xiita, Abdel Amir Qabalan, cobrou proteção para as economias do povo.

“Uma das primeiras obrigações do Governo é preservar os direitos financeiros cidadãos e proteger, assim como estabilizar a taxa cambial e implantar um plano de resgate para evitar o colapso.

Também instou para que sejam realizadas reformas baseadas na transparência, prestação de contas, recuperação de recursos públicos roubados e luta contra a corrupção.

Anteriormente o patriarca cristão maronita, Beshara Rai, emitiu opiniões similares sobre as medidas que, segundo os boatos, o plano do Governo contém.

A arrecadação de impostos no Líbano deveria ser a base da reserva nacional e não a dos poupadores, disse.

Para hoje está prevista uma sessão do Executivo sobre o controvertido plano de resgate econômico e financeiro que, ainda sem divulgação oficial, gera polêmica na percepção popular.

O Gabinete do primeiro ministro, Hassan Diab, busca aliviar a pior crise econômica e financeira em décadas, entre elas a forma de reestruturar e renegociar uma dívida externa de mais de 90 bilhões de dólares equivalente a 170 por cento do produto interno bruto do Líbano.

Uma pressão a mais são as demandas da comunidade internacional para aplicar leis e reformas chave que desbloqueiem cerca de 11 bilhões em subvenções e empréstimos flexíveis, prometidos durante a conferência Cedro, em 2018, em Paris.

A maioria dos libaneses está cada vez mais preocupada com a possibilidade do desaparecimento de suas economias para o resto da vida ou pelo menos que sejam apreendidas como a única forma de pagar a dívida pública e superar a crise econômica.

Armando Reyes, correspondente de Prensa Latina em Beirute

Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Armando Reyes Calderín

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