Pesquisar
Pesquisar
Hotel Intercontinental, em Madri, local do encontro realizado pela Atlas Network (Foto: Luis García / Wikimedia Commons)

Grupo que articula ataques a Obrador faz novo encontro da ultradireita global em Madri

Atlas Network organiza a cada ano quatro ou até cinco fóruns deste tipo no mundo e a maioria dos apresentadores considera a esquerda como “inimiga do progresso”
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Na semana passada, Madri foi novamente o epicentro do pensamento ultradireitista. Desta vez, dos defensores mais fervorosos do liberalismo, das vantagens do mercado em detrimento do Estado, e da expansão na sociedade desses ideais através dos governos, partidos políticos, meios de comunicação, universidades, fundações de influência (think tanks) e presença nas redes sociais.

O farol que guia estas reuniões anuais é a influente e poderosa Atlas Network, que reúne uma ampla rede internacional de grupos beligerantes contra as ideias e governos de esquerda ou progressistas, contando com mais de 600 grupos sólidos espalhados por todo o mundo. Por exemplo, a recente campanha de guerra suja nas redes sociais contra o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, e contra a candidata do Morena, Claudia Sheinbaum, provém, segundo especialistas como o espanhol Julián Macías, dos tentáculos da Atlas Network.

Leia tambéem | Por que o Papa Francisco está na mira da ultradireita emergente e da Cúria Romana?

O chamado Europe Liberty Forum teve início na quinta-feira (23) em Madri e reuniu alguns dos mais fervorosos defensores da doutrina ultraliberal, como o presidente da Atlas Network, Matt Warner, Roxana Nicula, presidente da Fundação para o Avanço da Liberdade (Fundalib), e Eamon Butler, diretor do Instituto Adam Smith do Reino Unido, um dos grandes centros do pensamento ultraliberal na Europa. O encontro durou dois dias e tudo o que ocorreu ali foi hermético, fechado aos meios de comunicação e sem quase nenhum contato com pessoas alheias ao que eles definem como “o movimento global pela liberdade”. Em edições anteriores, alguns políticos participaram abertamente deste tipo de fórum, como fez o ex-presidente mexicano Felipe Calderón em março do ano passado, quando participou do encontro organizado por este grupo em Punta del Este. Ou o ex-chefe do governo espanhol José María Aznar, entre outros.

Nas portas do Hotel Intercontinental de Madri, no Paseo de la Castellana, houve um cordão de segurança pouco habitual: duas patrulhas da Polícia Nacional vigiaram ininterruptamente o edifício; na entrada houve dois agentes privados com a única incumbência de monitorar tudo o que ocorre nas imediações. No interior, o fórum se distribuiu em três salões, com mais segurança privada em cada porta, que verificava se todos os participantes são os mesmos que portam o crachá que os credenciava. Uma atendente do café do hotel afirmou a este correspondente: “Poucas vezes vi uma mobilização de segurança desse nível, e olha que sempre acontecem muitas coisas neste hotel.” Cada participante paga entre 200 e 350 euros (cerca de 1.120 e 1.965 reais) para participar, dependendo se vai apenas à primeira jornada ou à sessão completa de dois dias.

Mundo afora

A Atlas Network organiza a cada ano quatro ou até cinco fóruns deste tipo no mundo: um na América Latina, o mais recente foi na Costa Rica, em março passado; outro na Ásia e Oceania, outro na Europa, um na África e, finalmente, seu encontro anual nos Estados Unidos ou Canadá, que este ano será em dezembro e em Nova York.

O foro de Madri, por sua vez, contou ainda com um parceiro local, a Fundalib, uma espécie de think tank que inclui ideólogos da extrema-direita espanhola, como Manuel Fernández Ordóñez, e entusiastas do ultraliberalismo defendido por Javier Milei, o presidente da Argentina que esteve na Espanha na semana passada defendendo a erradicação do Estado frente ao mercado.

O primeiro dia do encontro se concentrou em analisar e estudar a situação de suas ideias na Europa, ao menos nas conferências e mesas de debate, mas neste tipo de fórum muito mais ocorre nos encontros privados, onde se definem as estratégias a seguir para impor suas ideias no mundo e que tem nas redes sociais e na “comunicação política” suas principais ferramentas. Na mesa que abriu as sessões, participou Matt Warner, presidente da Atlas Network, que trabalha para este lobby ultraliberal há 14 anos.

Leia também | Atlas Network: Uma “Internacional Capitalista” em ação na América Latina

Um dos principais apresentadores de quinta-feira (23) foi o economista britânico Eamon Butler, diretor do Adam Smith Institute, que sempre defende a “luta contra o consenso esquerdista compartilhado por muitos meios de comunicação e espaços de formação de opinião”, e considera que “o livre comércio está sob ataque e parte da direita populista adotou esse discurso equivocado da esquerda radical”. A maioria dos apresentadores considera a esquerda como “inimiga do progresso”. Por exemplo, Fernández Ordóñez, que destaca suas afinidades com o presidente argentino – “Milei e eu não só compartilhamos os ideais de liberdade, como também a mesma editora e editor” – acredita que o “Estado só sabe criar pobreza, a riqueza é gerada pelos cidadãos apesar do Estado, não graças a ele. O Estado constitui o monopólio legal do roubo e do saque, com um bonito envoltório de retórica social. Sempre foi assim e sempre será”.

No encontro também participaram Elena Leontjeva, cofundadora e presidente do Lithuanian Free Market Institute; Zoltán Kész, um ativista húngaro ligado ao partido do ultradireitista Viktor Orban; o britânico Adam Bartha, diretor do Epicenter, uma rede europeia de think tanks liberais com sede em Bruxelas. Além disso, há outras pessoas, como Hane Crevelari, diretora associada da Atlas Network; e, entre os mais destacados, Peter Goettler, do Cato Institute, um dos principais centros de estudos do liberalismo nos Estados Unidos.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

LEIA tAMBÉM

1000 dias de Guerra na Ucrânia estratégia de esquecimento, lucros e impactos globais
1000 dias de Guerra na Ucrânia: estratégia de esquecimento, lucros e impactos globais
G20 se tornará equipe de ação ou seguir como espaço de debate
G20 vai se tornar “equipe de ação” ou seguir como “espaço de debate”?
Do Fórum Social Mundial ao G20 Social Lula reinventa participação popular global
Do Fórum Social Mundial ao G20 Social: Lula reinventa participação popular global
Entidades denunciam governos de Valência e Espanha por homicídio culposo durante enchentes
Entidades denunciam governos de Valência e Espanha por homicídio culposo durante enchentes