Agarra seu filho Yeyo, o enrola na manta e o põe nas costas. Sobre a mesa coloca duas mudas de roupa, seu pente, os talcos do menino, um pote de creme para a cara, um par de sapatos com as solas rotas – que pensa que as pode mandar consertar quando chegar – um envelope com fotografias e uns pedaços de camisetas que transformou em fraldas.
Em uma manta põe um saco com um punhado de sal, uns biscoitos que assou de manhã e o último pedaço de queijo que lhe resta. Uma cabeça de alho, dois limões e umas folhas de hortelã para o caso de sentir-se mal na caminhonete. Enche de água uma garrafa plástica de meio litro coloca tudo sobre a toalha e amarra com um cordão que pendura no ombro. No outro carrega em um saco o Papayo – o cachorro que resgatou com dias de nascido no lixão.
Põe o cadeado na porta e vai embora sem olhar para trás.
Ela não o sabe, mas jamais regressará, quem vai voltar é Yeyo, trinta anos depois
A alcança Maura, esbaforida pela corrida, lhe dá um abraço e lhe entrega uma sacola com jocote vermelho de fevereiro, umas mangas maduras e cem quetzales que são todas as suas economias para ajudar com a passagem, lhe diz, enquanto a abraça morta de chorar, são amigas de toda a vida – a Isaura lhe encarrega sua casinha de tijolos, seus pés de coentro e a árvore de tamarindo que conseguiu brotar.
São quatro da manhã, entra no ônibus, enquanto se afasta de sua Teculután, Zacapa natal; vai ficando para trás o eco do canto dos galos e o cheiro de leite recém ordenhado; ela não o sabe, mas jamais regressará, quem vai voltar é Yeyo, trinta anos depois, para colocar suas cinzas no cemitério junto aos restos de seus avós e para cuidar da casinha de tijolos, dos pés de coentro e descansar à sombra do pé de tamarindo junto aos netos do Papayo.
Ilka Oliva Corado é colaboradora da Diálogos do Sul em território estadunidense
Tradução por Beatriz Cannabrava
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