A União Europeia anunciou, nesta segunda-feira (21), a criação da Bússola Estratégica (Strategic Compass, em inglês), uma tática de defesa comum a partir da criação de uma força de mobilização da UE, com 5 mil soldados.
Embora tal movimento seja uma novidade histórica para o bloco, é substancialmente mais modesto do que o exército proposto anteriormente pelo francês Emmanuel Macron.
“A União Européia acaba de aprovar a Bússola Estratégica”, anunciou Edgar Rinkevich, Ministro dos Negócios Estrangeiros da República da Letónia, após uma reunião entre ministros de Defesa e de Relações Exteriores europeus, em Bruxelas, nesta terça (22).
O plano fornece uma “caixa de ferramentas necessárias para que a UE se torne um verdadeiro jogador de defesa e segurança geopolítica junto à Otan”, afirmou Rinkevich.
Ainda segundo ele, esse é apenas o “início da jornada” para o futuro militar do bloco. Parte ainda de uma proposta de reforçar a segurança europeia até 2030, a iniciativa se divide em quatro pontos: agir, garantir a segurança, investir e parcerias. A aprovação final deve ser emitida entre os dias 24 e 25 de março.
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O plano em si já existe desde de 2020, quando foi proposto pelo Conselho Europeu. Desde então, tem sido criticado pelos países do Leste Europeu que preferem confiar na Otan e em seu músculo americano para suas necessidades de defesa.
A desaprovação veio também de comentaristas na Irlanda, nação neutra, que busca garantias de que somente missões de manutenção da paz sejam realizadas pelo bloco, e que a ONU tenha um papel central na tomada de decisões.
![Bloco militar visa oferecer resposta rápida em caso de conflitos, como o russo-ucraniano, mas está aquém da ideia francesa de um exército comum europeu](https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/wp-content/uploads/2023/10/aa32b82bf974c5f033968c2cdf397c05_b1e765ccc5b2d5476cc59e1fca6fba72.png)
Eugene Zhyvchik, no Unsplash
Apesar de ser um passo sem precedentes para UE, Bússola Estratégica ainda fica aquém da união militar idealizada por alguns líderes europeus
A eclosão do conflito na Ucrânia acabou por apressar a adoção do plano. Em sua forma atual, a Bússola Estratégica tem como objetivo melhorar a cooperação entre as forças armadas europeias existentes, impulsionar a cooperação com a Otan, consolidar as capacidades de defesa cibernética e facilitar o investimento conjunto em pesquisa e desenvolvimento.
As ameaças estão aumentando e o custo da inação é claro. A Bússola Estratégica é um guia para a ação. Estabelece um caminho ambicioso para a nossa política de segurança e defesa para a próxima década. Isso nos ajudará a enfrentar nossas responsabilidades de segurança, diante de nossos cidadãos e do resto do mundo. Se não agora, então quando?
Josep Borrell, Alto Representante da União Europeia para Relações Exteriores e Política de Segurança
A Bússola Estratégica também facilita a criação de uma “capacidade de mobilização rápida” dos 5 mil soldados da UE, marcando o primeiro passo dado pelo bloco em direção à criação de uma força militar comum.
Este passo rumo à militarização é significativo, especialmente porque vem menos de um mês depois de a Comissão Europeia anunciar que forneceria à Ucrânia 450 milhões de euros (R$ 2,46 bilhões) em armas e munições.
Uma avaliação estratégica da UE identificou “instabilidade regional, conflito, fragilidade do estado, tensões interestatais, influências externas e impacto desestabilizador de atores não-estatais” como razões para a elaboração do plano, sugerindo que o bloco pode, em algum momento e em alguma capacidade, intervir em conflitos futuros semelhantes ao da Ucrânia.
Apesar de ser um passo sem precedentes para a UE, a Bússola Estratégica ainda fica aquém da união militar idealizada por alguns líderes europeus. Há muito tempo, Macron defende a criação de um exército para o bloco e a diminuição da dependência da Otan, uma aliança que ele chamou de “morte cerebral” em 2019.
A ideia por de uma força de combate independente da Otan foi relembrada pelo primeiro-ministro francês no início deste mês, quando afirmou que o conflito na Ucrânia havia “mudado a era” para a União Europeia.
Entretanto, os europeus orientais ainda estão contentes em confiar na Aliança Atlântica para suas necessidades de defesa. O vice-primeiro-ministro polonês, Piotr Glinski, por sua vez, disse ao The Telegraph, no sábado (19), que a UE não estava pronta para o conflito e que os comentários de Macron correm o risco de “desestabilizar a Europa”.
Por Russia Today, com informações do Conselho da União Europeia
Tradução: Guilherme Ribeiro
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