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“Há uma armadilha para a esquerda no processo constituinte no Chile”, alerta Chamorro

No primeiro episódio do Dialogando sobre nossa América, Amauri Chamorro explora as convulsões sociais que têm avançado pelos territórios latino-americanos nos últimos meses
Beatriz Contelli
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

“As manifestações chilenas contribuíram para iniciar um processo de convergência entre a esquerda para superar a Constituinte da era Pinochet. Porém, há uma armadilha: o que está acontecendo não é uma Assembleia Constituinte, é uma Convenção Constituinte”. É com esta reflexão que o analista internacional Amauri Chamorro estreia o programa Dialogando sobre nossa América.

Em uma verdadeira armadilha feita pela direita o Parlamento manipulou o processo da Constituinte. De acordo com Chamorro, a Corte Constitucional, o referente ao STF no país, pode se sobrepôr à convenção: “já que eu não puderam impedir a constituinte, manipularam para que as leis sigam favoráveis a um estado ultraneoliberal”.   

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Mas então seria possível o país se desvencilhar dessas amarras e garantir um processo democratizante? “Eu acho que é impossível que o Chile se mantenha tão neoliberal como hoje. As reformas estruturais que o povo chileno está propondo são profundas”, ressaltou o analista.

Amaury também destacou que no território chileno não existem aposentadoria, saúde ou educação públicas, além de as Forças Armadas terem muito poder e estarem vinculadas aos interesses dos Estados Unidos.

Colômbia

“A Colômbia, desde a sua independência, nunca teve um momento de paz”, relembra Chamorro. Cenário de inúmeras guerras civis, a região colombina dos dias de hoje é um reflexo dos confrontos do passado.

Assassinato e desaparecimento de lideranças políticas, deslocamento forçado de parte da população, instabilidade no Acordo de Paz entre as FARC e o Estado colombiano, richas entre os principais partidos políticos e atuação genocida das forças paramilitares são fatores que têm afetado o clima político do país e a restauração da vida pacífica. 

Como nos países vizinhos, o povo colombiano decidiu tomar as ruas. Em face da situação econômica que se agravou em decorrência da crise de coronavírus, a população promoveu protestos contra a alta taxa de desemprego e a crescente vulnerabilidade imposta aos colombianos. 

“No Brasil, nós enfrentamos uma política repressiva, mas não há nada igual à Colômbia”, reforçou Chamorro ao expor a situação do ex-presidente Álvaro Uribe, acusado de manipular testemunhas contra um senador opositor, além da constante campanha governamental contra os movimentos populares.

No primeiro episódio do Dialogando sobre nossa América, Amauri Chamorro explora as convulsões sociais que têm avançado pelos territórios latino-americanos nos últimos meses

Página 12
Analista internacional Amauri Chamorro estreia o programa Dialogando sobre nossa América.

Peru

O analista também comentou a convulsão social que tem acontecido em outro vizinho, o Peru. Lá, jovens, estudantes e outros estratos da sociedade têm se manifestado em defesa de uma nova Constituição.

Os protestos se dão em meio a uma grave crise política, que resultou na troca de três  presidentes em menos de quatro anos.

“No Peru, há uma grande fragmentação entre os partidos. A direita está brigando com a direita, enquanto a esquerda está desacreditada”, afirmou Chamorro ao analisar a diferença entre a situação do Peru e a do Chile, onde apesar da força do presidente Piñera, a esquerda tem conseguido se consolidar para enfrentar a direita nas próximas eleições. 

Ainda fazendo comparações, o analista demonstrou como a Lava-Jato atuou e influenciou o Peru de forma diferente do que no Brasil. O governo peruano compactuou com a Odebrecht e assumiu a culpa das corrupções, aponta o analista. 

Guatemala 

Para encerrar o encontro, Chamorro expôs a atual situação da Guatemala, que vem enfrentando uma onda de novos casos de covid-19, pobreza extrema e orçamentos governamentais exorbitantes. 

“A população esperava do presidente uma série de ações para financiar a recuperação econômica”, comentou Chamorro ao alertar que a repressão aos guatemaltecos pode se tornar ainda mais intensa. 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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