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Imagem de Los Angeles após incêndios no início de janeiro (Foto: Reprodução / X)

Los Angeles lembra Hiroshima e Gaza; diferença é que estadunidenses tiveram tempo para fugir

Fotografias dos bairros de Los Angeles varridos pelo fogo mostram paisagens devastadas e sombrias, como as deixadas após as bombas lançadas pelos EUA em 1945 no Japão
Jorge Rendón Vásquez
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Ana Corbisier

Um feroz incêndio assolou vários bairros da cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos. Queimaram-se as casas, os veículos e tudo o que havia ali em cerca de 150 km² (aproximadamente 10 km de largura por 15 de comprimento), algo semelhante à extensão de Santiago de Surco e San Borja em Lima.

E o fogo superou amplamente os esforços de cerca de 15 mil bombeiros vindos de várias partes dos Estados Unidos, além de aviões e helicópteros que derramam substâncias anti-inflamáveis, como minúsculos pontos em movimento diante das proporções dantescas das chamas.

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Nunca estive em Los Angeles, mas a cidade me é familiar pelos personagens e cenários dos romances de Raymond Chandler, Ross MacDonald, Michael Connelly e James Ellroy, que, além de me entreterem, me ensinaram certas técnicas e alguns truques da narrativa. O tão popular Sunset Boulevard, por onde frequentemente transitam os personagens desses romances, foi duramente afetado.

E, claro, já começa a busca por bodes expiatórios para distrair a opinião pública.

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Por que isso aconteceu em Los Angeles?

Pelo jeito, trata-se de um efeito do aquecimento global. Com o enorme consumo de combustíveis fósseis por veículos, empresas e residências dos 334 milhões de habitantes dos Estados Unidos, o ar na atmosfera se aqueceu e, ao se elevar por ser mais leve, o espaço deixado foi preenchido pelo ar frio do oceano Pacífico, criando uma corrente de ar que encontrou algumas faíscas acesas e as avivou, como se sopra o ar nas brasas ao fazer um churrasco. Uma vez iniciadas as fogueiras, estas, ao aquecerem o ar, o elevam, gerando novas correntes que alimentam intensamente as chamas. E assim por diante. A combustão foi facilitada pela madeira e pelo plástico usados como materiais de construção.

As fotografias dos bairros afetados mostram paisagens devastadas e sombrias, semelhantes às de Hiroshima e Nagasaki [e Gaza, nota do editor] após a explosão das bombas atômicas que o governo dos Estados Unidos ordenou lançar sobre elas, em agosto de 1945, quando suas populações civis formigavam em ruas, mercados, empresas, escolas e hospitais ou estavam em suas casas. Naquela ocasião, foi apenas uma bomba para cada uma dessas cidades. Desta vez, a natureza foi magnânima: deu tempo para que as populações dos bairros que iriam arder fossem evacuadas.


A reconstrução dos bairros e casas destruídos pelos incêndios em Los Angeles custará muito dinheiro ao estado da Califórnia e ao governo estadunidense. Mas será que gastarão? E, além disso, será que dispõem dos recursos necessários? E, se não os tiverem, pedirão a cooperação da população não afetada ou tomarão empréstimos, aumentando ainda mais sua gigantesca dívida pública? Ademais, em que nível de prioridade colocarão esses gastos? Continuarão priorizando as despesas militares?

De fato, as empresas de seguros já enfrentam uma perspectiva difícil para pagar as indenizações contratadas contra risco de incêndio, e pode ser que não as paguem, a menos que o governo e o Federal Reserve lhes concedam empréstimos.

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Seja como for, esta tragédia de Los Angeles despertou nas demais populações do mundo sincera comoção. (Comentos, 12/1/2025)

Trump será capaz de cumprir suas ameaças? Se pagarem pra ver, será tarde demais


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Jorge Rendón Vásquez Doutor em Direito pela Universidad Nacional Mayor de San Marcos e Docteur en Droit pela Université de Paris I (Sorbonne). É conhecido como autor de livros sobre Direito do Trabalho e Previdência Social. Desde 2003, retomou a antiga vocação literária, tendo publicado os livros “La calle nueva” (2004, 2007), “El cuello de la serpiente y otros relatos” (2005) e “La celebración y otros relatos” (2006).

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