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Foro de São Paulo: a esquerda latino-americana enfrenta o desafio da unidade

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

A capital cubana vai sediar, entre 15 e 17 de julho, o 24º Encontro Anual do Foro de São Paulo, reunião que terá em seu centro a busca da unidade dos partidos e organizações de esquerda da América Latina e do Caribe.

Waldo Mendiluza*

O Foro, fundado em 1990 no Brasil, regressará a Havana, cidade que foi sua sede em 1993 e 2001, em um contexto regional complexo, que se traduz na necessidade das forças progressistas articularem ações e propostas.

Os desafios são muitos, entre eles os provocados pelo retorno ao poder de governos de direita em vários países e a escalada nas posturas de ingerência dos Estados Unidos no continente, após a chegada à Casa Branca, em janeiro de 2017, do presidente Donald Trump (Partido Republicano).

Leia também: Foro de São Paulo é decisivo para a unidade da América Latina, diz ativista

O Partido Comunista de Cuba (PCC) convocou o encontro em cumprimento ao compromisso assumido no ano precedente em Manágua, na Nicarágua, e na opinião do chefe do departamento de Relações Internacionais da organização, José Ramón Balaguer, constitui um compromisso político internacionalista para a ilha.

Balaguer alertou em uma carta enviada aos integrantes do Foro de São Paulo sobre a urgência de unir ideias e esforços, para deter, o quanto antes, a arremetida da direita internacional e regional.

 

Agenda intensa

 

Segundo o programa divulgado pelos organizadores, no dia 14 de julho está previsto o recebimento das delegações, assim como seu credenciamento, além de uma reunião do Grupo de Trabalho, na qual serão abordados a agenda, o rascunho da Declaração Final e novos ingressos.

No dia seguinte ,será a inauguração do foro e haverá sessões da Escola de Formação Política e a plenária denominada “Contra o colonialismo e pela solidariedade anti-imperialista”.

No dia 16 de julho serão realizados os encontros de juventudes, mulheres e parlamentares, assim como um diálogo dirigido à articulação com as plataformas e redes do movimento social.

Também haverá nesse dia um debate sobre a necessidade da unidade e da integração regional, o seguimento ao documento final e ao Plano de Ação, e uma visita aos Comitês de Defesa da Revolução, a maior organização de massas de Cuba, com mais de oito milhões de membros.

Na jornada de encerramento da reunião, que contará com dezenas de delegados da América Latina, do Caribe e de outras partes do mundo, os participantes celebrarão uma plenária dedicada ao pensamento de Fidel Castro e assumirão a postura em torno da Declaração Final do evento.

Espera-se que o 24º Encontro Anual do Foro de São Paulo condene o imperialismo e o neoliberalismo, respalde os processos políticos que na América Latina desafiam esses sistemas, e rechace o bloqueio estadunidense e as campanhas desestabilizadoras que enfrentam governos como as da Venezuela e da Nicarágua.

O texto seguramente também expressará solidariedade com o encarcerado ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-mandatário equatoriano Rafael Correa, vítima de uma cruzada para levá-lo também à prisão.

Além disso, está previsto que a Declaração Final deplore o colonialismo e chame a potencializar a integração da América Latina e do Caribe.

 

A unidade como resposta

 

Para a funcionária do Departamento de Relaciones Internacionais do Comitê Central do PCC Idalmis Brooks, o encontro em Havana permitirá dialogar acerca de temas urgentes para as forças de esquerda da região, e em particular sobre a importância da unidade.

O foro possibilitará debater a urgência de defender os símbolos e os valores culturais, e de empreender estratégias de comunicação política, como uma rede de comunicadores de esquerda que tornem visíveis a luta social, precisou a dirigente em declarações à imprensa.

Segundo Brooks, um aspecto essencial será abordar a salvaguarda dos princípios da Proclamação da América Latina e do Caribe como zona de paz, firmada em Havana em 2014 no contexto da 2ª Reunião de Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac).

Como momento transcendental, mencionou a plenária especial sobre o pensamento de Fidel Castro e do Foro de São Paulo, à qual estão convidados ex-presidentes e ex-primeiros ministros da região.

Acrescentou que durante o encontro, haverá uma reunião dos integrantes do Foro de São Paulo com membros da esquerda europeia e serão dadas mostras de apoio aos processos progressistas do continente.

Por sua parte, o vice-presidente da Comissão de Relações Internacionais do Parlamento de Cuba, Rolando González, insistiu no complexo contexto político do continente, caracterizado pelo objetivo da direita de fazer com que se percam os avanços em matéria de justiça social da última década, alcançados por governos de esquerda.

Ante este cenário de cruzadas em prol de uma hegemonia imperial, advogou por aproveitar a 24ª edição do Foro de São Paulo como um espaço de debate sobre o papel da unidade do movimento revolucionário latino-americano.

González referiu-se ao contexto Cubano em face do encontro, com as mudanças em curso para atualizar o modelo socioeconômico da ilha.

Assinalou que o foro oferecerá a oportunidade de dialogar com os amigos do mundo e dizer que Cuba não se detém na atualização de seu modelo, mas sobre a base dos princípios revolucionários que sempre guiaram nosso país.

 

A esquerda e seus desafios

 

Para o intelectual argentino Atilio Borón, o retorno a Cuba do Foro de São Paulo mostra a disposição que têm os povos da América Latina de lutar para enfrentar o embate da direita na região.

Em declarações exclusivas à Prensa Latina, o reconhecido cientista político destacou que na edição 24 do evento, movimentos e organizações progressistas e de esquerda poderão defender posições e fortalecer-se na “fortaleza cubana” que há 60 anos resiste aos furiosos embates do imperialismo estadunidense.

De acordo com Borón, a América Latina se encontra submetida a uma intensa contraofensiva imperialista, que tem como alvos preferenciais produzir a troca de regime na Venezuela, recrudescer ainda mais os torniquetes do bloqueio a Cuba e isolar o governo do presidente boliviano, Evo Morales.

Igualmente — argumentou— pretende incentivar a oposição na Nicarágua, assim como avançar no retorno do Equador à dominação estadunidense com o reingresso dos militares dos Estados Unidos à base de Manta.

O Foro de São Paulo propiciará também em Havana uma discussão fraternal e franca dos acertos e erros dos governos progressistas e de esquerda, para ratificar os primeiros e corrigir os segundos, sublinhou.

Borón manifestou também a necessidade de produzir um diagnóstico preciso sobre os alcances e limites da arremetida imperialista; a fortaleza e a fraqueza dos seus representantes locais; e desentranhar a trama internacional que apoia a direita, tanto a partir dos meios como da diplomacia.

Por sua parte, o dirigente da União de Jovens Comunistas de Cuba, José Ángel Maury ressaltou o papel da juventude nas transformações necessárias na América Latina e no Caribe, a região mais desigual do planeta.

Os jovens têm sido protagonistas de importantes transformações e têm em suas mãos o futuro da região, que depende de sua capacidade de se fortalecer e contribuir para o movimento de esquerda na América Latina, disse a Prensa Latina.

Sobre esse particular, assinalou que as novas gerações são as mais tendentes a ser manipuladas a favor dos interesses da direita, sobretudo nos novos cenários comunicacionais.

Maury também insistiu na urgência das forças progressistas se integrarem para preservar a soberania dos povos.

*Prensa Latina de Havana, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
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