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Marcha Patriótica: a Colômbia está de pé contra a política de extermínio e terrorismo de Iván Duque

“Mas não são somente as reformas tributária, da saúde, trabalhista e da previdência que estão em xeque. Cada renúncia é uma conquista, até que caiam Duque e o uribismo
Leonardo Wexell Severo
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

“O que estamos vendo desde 28 de abril nas gigantescas manifestações que tomam as ruas contra a reforma tributária de Iván Duque é que a Colômbia está de pé. Há uma conscientização e uma mobilização, principalmente da juventude, um repúdio massivo à política de extermínio praticada pelo governo fascista e neoliberal”.

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A afirmação é do professor Juan Pablo Tapiro, integrante da equipe de Relações Internacionais da Marcha Patriótica — movimento social e político colombiano — direto de Cali, capital do departamento de Valle del Cauca, o epicentro dos protestos.

Vivendo na pele “a política de terrorismo de Estado”, que já deixou dezenas de mortos e desaparecidos e centenas de presos e feridos nos últimos dias, o ativista relatou a dor de ver sangue correndo e “ouvir helicópteros militares sobrevoarem os bairros, promoverem tiroteios, enquanto o governo Duque fortalece a repressão trazendo mais 700 policiais e 300 militares do Exército para Cali”. 

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“Não há diálogo, o que temos são bombas, tiros e cassetetes. É o que pôde ser presenciado contra a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, que foi até ameaçada de morte. É o que pode ser visto contra quem se levanta nos protestos, nos pontos de bloqueio e panelaços para denunciar a fome, a pobreza extrema, o desemprego e a informalidade”, explicou.

“Mas não são somente as reformas tributária, da saúde, trabalhista e da previdência que estão em xeque. Cada renúncia é uma conquista, até que caiam Duque e o uribismo

Reprodução: Twimg
Manifestações tomaram as ruas da colômbia contra a reforma tributária de Iván Duque

“O resultado da ação criminosa de tropas que agem de forma covarde, confiando na impunidade contra os manifestantes, está evidenciado nas cifras da violência praticada nas últimas manifestações, tudo apurado e documentado pela Organização Não Governamental (ONG) Temblores”, frisou Tapiro. 

Os números checados são absurdos e não param de crescer: “são 37 vítimas fatais — 30 delas em Cali; 222 vítimas de violência física; 110 feridos por armas de fogo; 831 detenções arbitrárias; 312 intervenções violentas e 17 vítimas de agressões nos olhos”.

“Guerra contra o povo”

“A guerra contra o povo segue, não querem nos deixar construir uma paz com justiça social, democracia e soberania. Desde a assinatura dos Acordos de Paz, em novembro de 2019, foram assassinadas mais de mil lideranças do movimento social e popular, mais de 270 ex-guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Gente que depôs as armas para ser massacrada logo depois por milicianos. As mortes se multiplicam, a repressão permanece e há uma juventude rebelde que não aguenta mais”, acrescentou.

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Diante de tantos e tamanhos atropelos aos direitos humanos, apontou Tapiro, há a necessidade urgente do desmonte do Esquadrão Móvel Antidistúrbios (Esmad), o temido “esquadrão da morte”, conhecido por torturas e desaparecimentos, e pelo fim da Doutrina de Segurança Nacional e do “inimigo interno”, o que implica uma reforma integral da Polícia e do Exército Nacional — sob hegemonia da ideologia estadunidense. 

“Em vez disso, o que temos visto é a ampliação dos gastos militares, a compra de aviões de guerra e equipamentos bélicos, isso em meio a mais de 70 mil mortos pelo coronavírus e a completa inoperância diante do alastramento da pandemia”, condenou.  

A intensidade das mobilizações forçou o governo a retirar recentemente do Congresso o projeto de reforma tributária e levou à deposição do ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla. O recuo fez com que o ex-presidente Álvaro Uribe, sabotador dos Acordos de Paz, ultradireitista, mentor e padrinho político de Duque, propusesse uma ampliação da repressão, com “carta branca” a policiais e soldados para atirar contra o que considera “a ação criminosa do terrorismo vandálico”.

Reforma tributária na lona

Recém-derrotado, o achaque tributário pretendia jogar sobre as costas dos trabalhadores e da classe média uma brutal carga de impostos para pagar a dívida externa — que hoje equivale a 52% do Produto Interno Bruto (PIB). 

“Mas não são somente as reformas tributária, da saúde, trabalhista e da previdência que estão em xeque. Claro que cada uma que vai caindo é conquista da mobilização social, assim como as renúncias de cada miserável ministro — como o da Fazenda — até que caia Duque. Ou, pelo menos, que o uribismo fique tão fragilizado que efetivamente seja derrotado nas eleições de 2022.”

Para Juan Pablo Tapiro, a vibração e o crescimento da resistência interna, somada às mobilizações de solidariedade ao povo colombiano, como o simbolismo de a Torre Eifel ficar coberta com as cores da sua pátria, são marcos. “São apoios fundamentais para somar e ampliar forças, pôr fim ao massacre e derrotar o governo reacionário e fascista. Fora Duque!”, concluiu.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Leonardo Wexell Severo

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