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“Há esperança, mas ela não vem dos governos e empresas", diz Greta durante COP-25

"Os países ricos são os primeiros que têm que dar exemplo na luta contra a crise climática e conseguir um balanço de emissões zero", cobrou a ativista
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

O pessimismo se instalou na Cúpula do Clima do Chile (COP-25), que se celebra nestes dias em Madri, sobretudo entre os ativistas, cientistas e representantes dos povos indígenas, que veem cada vez mais longe que se chegue a um acordo de redução dos gases de efeito estufa que envolva às quatro potências econômicas que mais contaminam: Estados Unidos, China, Rússia e Índia. 

Apesar do desânimo, a ativista sueca Greta Thunberg, que tem se erigido no símbolo da luta ecologista, assegurou diante do plenário de “alto nível” que “a esperança está nos povos, que são os que sempre estão por trás das grandes transformações”. 

A dois dias do encerramento das negociações para selar o documento de conclusões e objetivos da COP-25 abriu-se ainda mais a brecha entre o que reclama a sociedade civil e os povos que sofrem em primeira pessoa o drama da mudança climática, e os dirigentes políticos e altos executivos das corporações empresariais que controlam o mercado energético no mundo. 

Enquanto os primeiros reclamam decretar uma “emergência climática“ e ir além do Acordo de Paris de 2016 para não chegar ao ponto de “não retorno” que todos temem, os segundos, que são os que finalmente decidem, mantêm suas reticências em acelerar o processo e sobretudo em regular com transparência e rigidez o mercado do carvão. 

Se as coisas seguirem iguais o mais provável é que a aplicação e reforma do artigo 6 de Acordo de Paris – que é com o qual se pretende fiscalizar o comércio de carvão em todas as suas vertentes – serão adiadas para a Cúpula do Clima de Glasgow, em 2020.

"Os países ricos são os primeiros que têm que dar exemplo na luta contra a crise climática e conseguir um balanço de emissões zero", cobrou a ativista

Onu
“Há esperança, mas não vem dos governos e das empresas, vem da sociedade e das pessoas que começam a despertar”

À margem do temor a um novo fracasso multilateral, em grande medida provocado pela retirada do governo dos Estados Unidos, de Donald Trump, de seu compromisso com o Acordo de Paris, que aumentou as reticências dos outros principais países contaminantes, a ativista sueca Greta Thunberg apresentou-se diante do plenário no qual estavam presentes 196 delegações e um nutrido grupo de ativistas de sua organização, Friday for Future, para lançar uma nova mensagem de alerta e expor com crueza a situação do planeta e sobretudo da hecatombe que será iminente se não se agir com mais contundência para evitar o aquecimento do planeta. Durante um ato oficial, um grupo de jovens realizou um protesto pacífico para chamar a atenção dos políticos. 

Thunberg, a quem a revista Time nomeou pessoa do ano por sua influência na luta climática neste 2019, explicou que há um ano era uma menina tímida a quem custava falar em público. “Mas encontrei uma causa, um motivo pelo qual entendi que havia que lutar”, explicou ao expor com clareza os critérios que avalizam a urgência de agir para reduzir pelo menos 1,5 graus a temperatura do mundo. 

Disse que os países ricos são “os primeiros” que têm que dar exemplo na luta contra a crise climática e conseguir um balanço de emissões zero porque são os que mais contaminam. 

A ativista disse que em apenas três semanas começa uma nova década que definirá nosso futuro e sublinhou que “há esperança, mas não vem dos governos e das empresas, vem da sociedade e das pessoas que começam a despertar”. 

Acusou os líderes políticos e empresariais de estar mais preocupados em dar uma boa imagem que tomar medidas reais e contundentes na luta contra a mudança climática. De simular até converter a cúpula em uma simples negociação dos assuntos pendentes, “para evitar um aumento de sua ambição”. “Ainda creio que o maior perigo é quando os políticos e os diretivos das empresas fazem que pareça que se está produzindo uma ação real, quando em realidade não se está fazendo quase nada, à parte de um contabilidade inteligente e relações pública criativas”, agregou. 

Suas palavras foram respaldadas por Jennifer Morgan, diretora executiva do Greenpeace internacional, que afirmou que “há uma brecha enorme entre o que sucede fora daqui e o que sucede dentro como nunca havia ocorrido. Porque a falta de ambição dos principais emissores se reflete na lentidão com que avançam as conversações para fechar o desenvolvimento dos mercados de carbono ou a declaração final desta cúpula”. 

Morgan assinalou de novo os responsáveis de mais de 60% dos gases de efeito estufa, ou seja 

Estados Unidos, China, Rússia e Índia, aos que se poderiam somar Japão, Austrália e Paquistão, que reagem a uma redução mais drástica de seu consumo de carvão.

*Armando G. Tejeda, Correspondente – La Jornada, Madri.

**La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

***Tradução: Beatriz Cannabrava

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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