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Mulheres indígenas protestam contra ameaças de governo Bolsonaro

“Desde que Bolsonaro disse que não haveria mais nenhum centímetro de terra demarcada para os povos indígenas, nós saímos em marcha"
Maria Fernanda Ribeiro
Amazônia Real
Brasília (DF)

Tradução:

Com o tema “Território: Nosso Corpo, Nosso Espírito”, cerca de 1.500 mulheres de ao menos 100 diferentes etnias caminharam nesta quarta-feira (13) pelas ruas de Brasília durante a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas do Brasil. Elas pediram respeito aos seus modos de vida e o não retrocesso a direitos conquistados. O ministro da Justiça e Segurança, Sérgio Moro, convocou a Força Nacional com o intuito de inibir o protesto, por recomendação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que editou um protocolo de segurança que permite o emprego das forças policiais para proteger o patrimônio público. Mas as mulheres chegaram na Esplanada dos Ministérios sem nenhuma ocorrência registrada.

Em abril, Moro determinou aos militares conter manifestações na Esplanada dos Ministérios e no Palácio do Planalto, o que gerou um clima de tensão no 15º Acampamento Terra Livre.

O ato do ministro Sérgio Moro contra a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas provocou reações. Desde que assumiu o governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) enfraqueceu as ações de saúde nos territórios e não demarcou uma terra indígena, além de desmontar as atividades da Fundação Nacional do Índio (Funai), transferindo o processo de regularização das terras para o Ministério da Agricultura. Em recente decisão, o Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a demarcação de terras indígenas na Funai.

“Desde que Bolsonaro disse que não haveria mais nenhum centímetro de terra demarcada para os povos indígenas, nós saímos em marcha"

Eduardo Napoli/Cobertura Colaborativa
O ministro Sergio Moro tentou intimidar a chegada das mulheres na Esplanada dos Ministérios

“Estamos aqui marcando posição em defesa da vida e não vamos aceitar que nos tirem o direito de existirmos. Eles [o governo de Jair Bolsonaro] declaram guerra contra os povos indígenas, mas nós viemos em busca da paz e juntas lutamos pela nossa saúde, pela educação de qualidade e para impedir que mais sangue indígena escorra”, disse durante a marcha Sonia Guajajara, coordenadora-executiva da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e a primeira mulher indígena a concorrer em uma chapa às eleições presidenciais.

A Apib é a organização responsável pela coordenação da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas. Para produzir o evento, que começou dia 9 de agosto, foi realizado um financiamento na internet com a arrecadação de R$ 49 mil em doações. As indígenas, que vieram de todas as regiões do país e da Colômbia, Peru, Equador, México e Honduras, ficaram acampadas em barracas no gramado da Funarte. Muitas estavam em Brasília pela primeira vez. Os trajetos aconteceram das mais variadas formas, como barco, caminhão e ônibus e outras chegaram a pé até a cidade mais próxima de suas comunidades.

A ideia da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas começou durante o 15º Acampamento Terra Livre (ATL), realizado em abril deste ano, quando as mulheres decidiram pela realização do protesto com o objetivo de apresentar suas demandas para dar visibilidade as pautas que as cercam.

Teresa Paresi quer respeito aos povos indígenas
(Foto: Maria Fernanda Ribeiro/Amazônia Real) 
 

Para Teresa Paresi, do Mato Grosso, a expectativa é que a partir de hoje as mulheres ganhem respeito e visibilidade em suas lutas. “Essa marcha acontecendo nesse centro político do país é um momento muito importante. A partir daqui, seremos um movimento forte, como o Acampamento Terra Livre (ATL) e seremos ouvidas. Essa união dos povos, dessa diversidade, mostra que estamos unidos, mesmo nós tendo diferentes culturas, mas é um respeito mútuo pelo objetivo maior, que é o nosso território”.

As mulheres indígenas começaram a marcha por volta das 7 h (horário de Brasília). Elas partiram do acampamento da Funarte alinhadas por povos e carregando bandeiras, cartazes e seus maracás. Elas entoaram cânticos de luta e de proteção por todo o trajeto de cerca de um quilômetro, até a Esplanada dos Ministérios, em uma diversidade de línguas e tons bradados por mulheres, em uma mobilização que já é considerada um marco histórico.

Concita Sompré Gavião, do Pará, disse esperar que a marcha seja um recado ao povo brasileiro para que o país acorde e perceba que políticas que incentivam o fim da floresta, prejudica todo o Planeta. “A Amazônia é nossa, Brasil. Acorda. Todos juntos somos a Amazônia, somos o Brasil e os indígenas são o sustentáculo desse país. Quando o último indígena cair, tudo será engolido. Somos humilhados todos os dias, mas somos nós que mantemos a floresta em pé para todos”.

Concita Sompré Gavião: a Amazônia é nossa
(Foto: Maria Fernanda Ribeiro/Amazônia Real) 
 

O protesto das mulheres indígenas foi encerrado quando elas se encontraram no Plenário do Congresso Nacional com as participantes da 6ª Marcha das Margaridas. O ato, que reúne as mulheres do campo, da floresta e das águas, foi criado em homenagem à sindicalista Maria Margarida Alves, morta em 1983. Amanhã elas realizam a caminhada nas ruas de Brasília. No Congresso Nacional, Sônia Guajajara fez um novo discurso e criticou as ações do governo contra os povos indígenas.

“Desde que Bolsonaro disse que não haveria mais nenhum centímetro de terra demarcada para os povos indígenas, nós saímos em marcha porque, com essa afirmação, ele declarou guerra não só com os povos indígenas, mas com as mulheres indígenas”.

Sônia Guajajara fez o discurso no Plenário do Congresso Nacional
(Foto: Douglas Freitas/Cobertura Colaborativa) 
 

Participação da América Latina

Mulheres indígenas de outros países também participaram da Marcha, entre elas, a deputada Tania Pariona, líder da etnia Quechua e organizadora do Primeiro Encontro Internacional de Mulheres Indígenas da América Latina (Peru); a deputada Encarnación Duchi, membra das Comissões de Soberania, Integração, Relações Internacionais e Segurança Integral; a coordenadora da Associação de Mulheres do Povo Cofan, Lisbeth Alexandra Narvaez Umeda; e Nemonte Nenquino, líder Waorani de Nemonpare e uma das fundadoras Alianza Ceibo (todas do Equador). Também estiveram presentes Sara Omi, representante do Congresso Emberá (Panamá); Soledad Tlehuactle, do Red Mocaf (México); e Amalia Hernández de Feproah (Honduras). Elas fazem parte da Coordenadoria de Mulheres Líderes Territoriais da Aliança Mesoamericana dos Povos e Florestas (AMPB).

Segundo Sara Omi, as mulheres indígenas brasileiras se identificam com as lutas das mulheres da América Latina, principalmente pelo reconhecimento do território.

“O território faz parte do nosso corpo e é a nossa espiritualidade. Estamos aprendendo um processo de influência política de mulheres brasileiras que vão sem medo, com muita força e com conhecimento tradicional. Isso abre um espaço para dizer ao mundo que as mulheres estão presentes e que continuaremos a defender o território e o conhecimento de nossos povos, mesmo com nossas vidas. Como guardiões da floresta, temos que estar vigilantes, como nossas mães e avós foram”, explicou Omi, que é coordenadora de Mulheres Líderes Territoriais da AMPB.

1a. Marcha das Mulheres Indígenas na Esplanada dos Ministérios (Foto: Maria Fernanda Ribeiro/Amazônia Real)  

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Maria Fernanda Ribeiro

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