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"Foi um ataque terrorista dos EUA, que dizem lutar contra o terrorismo", diz jornalista

De acordo com a argentina Stella Calloni, está sendo armado um esquema de guerra que inclusive foi denunciado pelo Papa Francisco
Stella Calloni
Diálogos do Sul
Buenos Aires

Tradução:

Em entrevista concedida para o portal de notícias do Partido Comunista da Argentina, Nuestra Propuesta, a jornalista internacional Stella Calloni analisou o assassinato do general Iraniano Qassem Soleimani, pelas mãos do governo de Donald Trump. 

Stella mostra que os EUA não mediram as consequências de um ataque desse tipo. “Buscam criar uma zona de conflito muito mais sustentada. É um ataque terrorista daqueles que dizem que lutam contra o terrorismo”, diz.

“Está sendo armado um esquema de guerra que inclusive foi denunciado pelo Papa Francisco”, explica a jornalista ao afirmar que o atentado “foi preparado entre os Estados Unidos e Israel, que formam um conjunto muito perigoso para o mundo, sobretudo no governo de Trump”.

Confira a íntegra da entrevista:

De acordo com a argentina Stella Calloni, está sendo armado um esquema de guerra que inclusive foi denunciado pelo Papa Francisco

Tasnin News
"O Irã não estava fazendo nada e escolher uma personalidade tão querida no Irã é uma provocação escandalosa nesse período histórico"

Nuestra Propuesta – Esta madrugada foi assassinado em Bagdá um líder militar iraniano, em um bombardeio que os EUA se adjudicaram.

Stella Calloni – Não podemos ignorar que os Estados Unidos e Israel, são chave nisto porque vêm sustentando uma campanha para imputar qualquer coisa ao Irã. Isto é um fato gravíssimo, é uma declaração de guerra. O Irã tem se comportado seriamente e tem tomado caminhos diplomáticos. Está sendo armado um esquema de guerra que inclusive foi denunciado pelo Papa Francisco. De distintas formas os Estados Unidos estão em uma guerra, situação da qual não escapa a América Latina, que eles buscam ter assegurada. 

O Pentágono busca romper a estabilidade que o Irã havia conseguido? 

É claro que sim. Mas há algo por trás de tudo isso: a utilização de personagens como Netanyahu. Não podemos dissociar mais os interesses dos Estados Unidos dos de Israel. Israel está metido no Chile e na Bolívia. Este atentado foi preparado entre os Estados Unidos e Israel, que formam um conjunto muito perigoso para o mundo, sobretudo no governo de Trump, embora todos saibamos que os governos estadunidenses têm essa lógica. O império está desnudo diante da mirada de todos. O Irã não estava fazendo absolutamente nada e escolher uma personalidade tão querida no Irã é uma provocação escandalosa nesse período histórico. Não se medem as circunstância. Buscam criar uma zona de conflito muito mais sustentada.

Depois do atentado, tanto o Irã como o Iraque alertaram sobre a situação que se avizinha.

O Irã tem condições para responder. O mais forte para os Estados Unidos é que se reuniam as figuras mais importante do Irã e do Iraque. Não é que o Irã esteja agitando os protestos do Iraque, é que o Iraque tem pedido o respaldo de outros países para que as tropas estadunidenses saiam do país. Então Trump busca disciplinar o Iraque. Isto manifesta a decadência imperial que se expressa de forma descarada, da mesma maneira que em nosso continente buscam dar ordens a Maduro, aos golpistas bolivianos e a nós, na Argentina.

Em sintonia, a Rússia e a China expressaram preocupação pelo sucedido…

A Rússia tem feito todo o possível para estabilizar a região e tem uma boa relação com o Irã. Quem faz a inteligência nessa região é Israel, não podemos ocultar um dos responsáveis dos genocídios do Século XXI. É um ataque terrorista daqueles que dizem que lutam contra o terrorismo. Graças à Federação Russa e à China podemos pensar em um certo equilíbrio, já que isto teria gerado uma guerra instantânea em outro momento. Acabou-se a unilateralidade dos Estados Unidos com a qual pensava jogar todas as suas cartas, e nesse sentido a aliança com Israel se converteu em uma armadilha que o obriga a ir mais longe em algumas coisas nas quais muitos militares ianques dizem que há que ir com cautela. Que em um país como o Iraque comecem a pedir a saída das tropas estadunidenses é um sintoma do cansaço e do esgotamento por causa das invasões. O mesmo que se evidencia aqui com o esgotamento do neoliberalismo, que é um projeto que o capitalismo tem para se meter na região e buscar governos digitados desde Washington.

Os interesses dos Estados Unidos também estão postos na América Latina?

Começamos o ano 2020 com uma enorme resistência na América Latina. Os mais de 75 dias de levantamento do povo chileno que se mantém heroicamente nas ruas. Na Colômbia nunca houve um movimento tão importante em resposta ao não cumprimento dos Acordos de Paz. Na Bolívia, os partidários do MAS continuam mobilizados apesar do Golpe de Estado e da repressão. Cuba está em pé diante do assédio estadunidense que aumenta o bloqueio sabendo que há outros países que podem ajudá-la como a China e a Rússia. Nicarágua se pôs em pé e aos Estados Unidos é cada vez mais difícil entrar. Não é certo que o império esteja triunfando, por isso cada vez mais aparecem com violência no mapa político.

Esse mapa de conflito que você assinala, que cenário nos apresenta?

Temos que exigir aos políticos latino-americanos que estejam claros que não estamos nos enfrentando aos Bolsonaro, Añez e Macri. Estamos nos enfrentando a Washington. Este é um período no qual necessitamos muitíssima inteligência para agir e muita imaginação. Sempre nos escapamos do espartilho estadunidense pela imaginação com que agimos. Não nos cortaram as asas, nosso voo tem que ser uma tomada de consciência claríssima de onde está o inimigo principal. E diante desse inimigo principal temos que ser conscientes de quais são nossas armas. Não é tão fácil resistir às pressões sobre Evo Morales como  fazem aqui, Alberto Fernandez, e AMLO no México. Se os Estados Unidos dizem que Bolsonaro e Duque são democratas é porque querem esse modelo de país. O limite das mentiras dos Estados Unidos está acabando e temos que estar muito preparados: estamos jogando o destino da nossa região. 

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Stella Calloni Atuou como correspondente de guerra em países da América Central e África do Norte. Já entrevistou diferentes chefes de Estado, como Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva, Rafael Correa, Daniel Ortega, Salvador Allende, etc.

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