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Afinal, Donald Trump busca uma guerra com Irã para garantir sua reeleição?

Estadunidense sustentou que ação foi realizada “para deter uma guerra, não começá-la”; analistas consideram que assassinato pôs EUA à beira de conflito
Martha Andrés Román
Diálogos do Sul
Washington

Tradução:

A pergunta de se um presidente estadunidense,  Donald Trump, busca uma guerra com o Irã para impulsionar suas possibilidade de reeleição, poderia surgir na mente daqueles que revisarem os pronunciamentos do próprio mandatário há oito anos. As tensões entre os dois países, que se incrementaram ainda mais com vários fatos na última semana, tiveram uma perigosa escalada quando o mandatário republicano ordenou a morte do geral iraniano Qasem Soleimani, comandante da Força Quds do país persa.

Para justificar essa ação, considerada por Teerã um ato de terrorismo e pela qual prometeu vingança, o governante norte-americano manifestou que Soleimani estava planejando um ataque contra os Estados Unidos, e o responsabilizou pela morte de centenas de norte-americanos. 

Trump sustentou que o assassinato foi realizado “para deter uma guerra, não para começá-la”, mas legisladores democratas, meios de imprensa, organizações e analistas consideram que o que aconteceu pôs os Estados Unidos à beira de outro conflito bélico na convulsionada região.

A perigosa escalada de Trump nos aproxima de outra guerra desastrosa no Oriente Médio que poderia custar inúmeras vidas e trilhões de dólares. Trump prometeu pôr fim às guerras intermináveis, mas essa ação nos põe no caminho para outra, disse a esse respeito no Twitter o senador e pré-candidato presidencial democrata Bernie Sanders.

Em meio ao apoio republicano à operação ordenada pelo chefe da Casa Branca, e das advertências dos democratas sobre as possíveis consequências do sucedido, muitos meios e usuários das redes sociais têm trazido para o contexto atual críticas realizadas por Trump ao seu predecessor no cargo, Barack Obama (2009-2017), pelo tema do Irã. 

Nosso presidente começará uma guerra com o Irã porque não tem absolutamente nenhuma capacidade de negociação, expressou Trump, então um magnata imobiliário, sobre o ex-mandatário democratas em um vídeo de 2011. 

O atual governante agregou nesse momento que seu antecessor era “débil e ineficaz” e que, por isso, a única forma em que acreditava que seria reeleito era “começando uma guerra com o Irã”. 

Barack Obama atacará o Irã em um futuro não muito longínquo porque o ajudará a ganhar as eleições, manifestou no Twitter em 14 de novembro de 2011, e repetiu essa mesma ideia após duas semanas, no mesmo meio. 

Quase um ano depois, a poucos dias das eleições presidenciais de 6 de novembro de 2012 nas quais Obama foi reeleito para um segundo mandato, o atual chefe da Casa Branca instou os republicanos a ter cuidado e não deixar “que Obama jogue a carta do Irã para começar uma guerra e ser eleito”. 

Também próximo a essa data, sugeriu que o ex-governante democrata lançaria um ataque na Líbia ou no Irã, porque seus números nas pesquisas estavam baixando, e repetiu comentário similares no ano seguinte. 

As predições de Trump não apenas resultaram ser falsas, mas a ironia é que, em lugar de começar uma guerra, a diplomacia da administração Obama resultou no acordo nuclear multilateral do Irã, indicou esta sexta-feira o portal digital Vox.  Mas agregou que, ao se converter em presidente, o republicano tomou um caminho muito diferente, “ao retirar unilateralmente os Estados Unidos do acordo nuclear, levar a cabo uma campanha de “máxima pressão” destinada a paralisar a economia do Irã e assassinar o chefe das forças paramilitares do país”. 

Se os comentários de Trump sobre a conveniência política de começar uma guerra em ano eleitoral representam outra instância de sua tendência de projetar suas próprias deficiências nos demais, então a política exterior estadunidense acaba de entrar em uma nova fase perigosa, apontou o site. 

Os questionamentos de porque o governante republicano decidiu dar esse passo agora, além de se vincular com as eleições de novembro vindouro, nas quais buscará sua reeleição, são vistos por algumas fontes à luz do julgamento político que tem pendente no Senado. Desde que ficou claro que Trump traiu os melhores interesses de nossa nação em seus tratos com a Ucrânia, o temor legítimo tem sido que pudesse ordenar ações militares no estrangeiro para desviar a atenção de seus problemas em casa, disse ontem um editorial do diário Chicago Sun Times.

Na opinião do periódico, agora os apologistas republicanos de Trump desfraldarão a bandeira e farão um chamado à nação para que se una em torno ao presidente enquanto se enfrenta ao Irã, e apresentarão isso como um novo argumento para arremeter contra os procedimentos do julgamento político.

“Questionarão o patriotismo dos críticos de Trump e dirão que o julgamento político só dá força a nossos inimigos, e estarão exatamente equivocados”, agregou o jornal. 

Ao mesmo tempo, a administração assegura que o assassinato de Soleimani respondeu a que o general planejava um grande ataque contra os Estados Unidos, mas, segundo a cadeia de televisão CNN, depois de uma sessão informativa celebrada na véspera, alguns democratas do Congresso questionaram quão iminente era realmente essa ameaça. Membros do seu pessoal receberam informação de pessoas que representam uma variedade de agências no governo, e saíram sem sentir que havia evidência de um ataque iminente, sustentou o senador Tom Udall.

Enquanto os republicanos respaldam a Trump, os democratas expressam preocupações, e muitas pessoas dentro e fora da nação norte-americana temem a aproximação de um novo conflito bélico, um setor parece se beneficiar dos recentes eventos: os produtores de armas e os empreiteiros de defesa.

The Washington Post reportou que os principais fabricantes de armas viram subir os preços de suas ações, quando os analistas predizem que agora é muito pouco provável que diminua a presença militar estadunidense de longo tempo no Iraque. Os empreiteiros de defesa dos Estados Unidos, que se beneficiaram financeiramente dos guerras no Iraque e no Afeganistão, encontram-se entre os poucos beneficiários das intensas tensões no Oriente Médico, disseram especialistas ao jornal. 

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Martha Andrés Román

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