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Acusado de ignorar alertas sobre pandemia, Trump demite funcionários e culpa OMS

Presidente estadunidense tem sido pressionado por evidências irrefutáveis de que desde fins de janeiro sabia-se do potencial apocalíptico do Covid-19
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Donald Trump acusou a Organização Mundial da Saúde daquilo que ele é acusado, e arremeteu contra inspetores federais independentes que se atrevem a não se submeter à sua linha oficial, ao surgirem ainda maiores evidências de que a Casa Branca sabia da gravidade potencial da pandemia desde final de janeiro sem agir, com consequências mais visíveis hoje nesta cidade e ao longo do país.  

Trump, em sua conferência informativa quase diária continuou com sua prática de responsabilizar os outros por quase qualquer problema que enfrenta, e nesta ocasião foi a vez da Organização Mundial de Saúde – a organização multilateral de saúde pública mais importante do planeta no meio de uma pandemia. Trump ameaçou suspender o aporte estadunidense à OMS, porque “falharam” em advertir sobre a pandemia, e “se equivocaram”, e continuou acusando que “não viram” o início, e que “não o reportaram” – o que é tudo falso. Mas é justamente pelo que Trump foi criticado. 

De fato, hoje foram reveladas mais evidências irrefutáveis de que Trump e seu círculo estavam mais que inteirados do perigo potencial de uma pandemia deste tipo, contradizendo um presidente que insiste em que “ninguém poderia ter sabido”.

Desde fins de janeiro, como confirmou Axios e New York Times, circulou um memorando na Casa Branca advertindo que o coronavírus poderia resultar em até meio milhão de mortes nos EUA e em um custo econômico de quase 6 trilhões de dólares.  

Presidente estadunidense tem sido pressionado por evidências irrefutáveis de que desde fins de janeiro sabia-se do potencial apocalíptico do Covid-19

Twitter Trump Oficial / reprodução
Trump ameaçou suspender o aporte estadunidense à OMS, porque “falharam” em advertir sobre a pandemia

O memorando foi redigido pelo assessor econômico do presidente, Peter Navarro, que depois preparou um segundo memorando em fins de fevereiro ainda mais alarmante, assinalando a possibilidade de 100 milhões de contagiados e 2 milhões de mortos caso não se agisse de imediato.  

Trump disse hoje que nunca viu o memorando, e que se tivesse visto, tomaria as mesmas decisões. 

As consequências do manejo da crise por Trump estavam mais que manifestas no que ainda é chamado de “epicentro” da pandemia nos Estados Unidos. O governador do estado de Nova York informou o número mais alto de falecimentos relacionados com o Covid-19, doença provocada pelo coronavírus, nas últimas 24 horas – um total de 731 – com Nova York já superando a Itália no número de contagiados com quase 140 mil do total dos mais de 380 mil casos ao nível nacional. No entanto, o governador indicou que as hospitalizações poderão ter chegado ao seu ponto máximo, o que poderia indicar o início de um descenso de novos casos pela primeira vez. 

No nível nacional, hoje foram reportadas mais de 1.700 mortes relacionadas ao coronavírus, o número mais alto de mortes em um só dia. 

Enquanto isso, Trump despediu o inspetor geral do Pentágono que havia sido designado por um grupo de inspetores gerais para supervisionar o uso do mega pacote de apoio econômico de 2 trilhões de dólares aprovado pelo governo federal na semana passada, em mais outro ato contra toda tentativa de impor qualquer tipo de supervisão independente do poder presidencial.  

Como parte do mesmo, hoje criticou por tuíte o relatório da inspetora independente da Secretaria de Saúde, depois de um informe detalhando as demoras para providenciar kits de exames e falta de equipamento médico nos hospitais do país; Trump escreveu que se tratava de “outro dossiê falso”, e acusou a funcionária de ser leal a Barack Obama. No semana passada, Trump despediu o inspetor geral de inteligência que enviou, cumprindo cabalmente seu dever nesse posto, o informe do informador dentro da Casa Branca que levou ao processo de impeachment do presidente.

De fato, e em grande parte devido ao seu fracasso em responder imediatamente e da maneira correta a esta crise, o governo Trump está enfrentando agora – se o cálculo oficial do “melhor cenário” com apenas 100.000 mortes for atendido – mais mortes de estadunidenses que a soma de baixas sofridas nas guerras da Coréia e do Vietnã.

En los hechos, y en gran parte por su fracaso en responder de inmediato y de la manera indicada a esta crisis, el gobierno de Trump ahora enfrenta -si se cumple su cálculo oficial de “mejor escenario” con solo 100 mil decesos- más muertes estadunidenses que las bajas en las guerras de Corea y de Vietnam combinadas.

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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