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Pandemia está fazendo surgir um comunismo diferente do histórico, diz Žižek

Em entrevista, o filósofo esloveno foi taxativo: "a realidade já mudou. Vemos governos conservadores adotando medidas que chamaríamos de socialistas
Mariane Barbosa
Diálogos do Sul
Franco da Rocha

Tradução:

Diante da pandemia de coronavírus e suas consequências, líderes mundiais encontraram novas formas de lidar com a crise que entrará para a história da humanidade. Em entrevista publicada no jornal italiano La Repubblica, o filósofo esloveno Slavoj Žižek disparou: não há momento mais político do que o atual.

Žižek explica que “um novo senso de comunidade” está emergindo dessa crise. Segundo ele, trata-se de “uma espécie de novo pensamento comunista, distante do comunismo histórico”, diz. 

“A realidade já mudou. Vemos governos conservadores adotando medidas que chamaríamos de socialistas em outros tempos. Todos vivemos de uma maneira que seria impensável há poucos meses.”

Em entrevista, o filósofo esloveno foi taxativo: "a realidade já mudou. Vemos governos conservadores adotando medidas que chamaríamos de socialistas

Reprodução: Flickr
“Não há mais espaço para o "America First" e slogans do tipo. Para sobreviver, os Estados a partir de agora terão que lidar com o futuro."

O esloveno ressalta que, ao contrário de alguns pensadores, não acredita em novos totalitarismos. “Há aqueles que pensam em um mundo em que se aproveitará do vírus para controlar todos nós. Mas não acredito, são precisamente esses os governos que estão em pânico hoje, incapazes de controlar a situação”, explica. 

“No máximo, há mais desconfiança em relação às instituições. Deveríamos encontrar uma maneira de reconstruir essa confiança, talvez com novos Assanges capazes de desmascarar os abusos”, diz o intelectual ao fazer referência a Julian Assange, ativista australiano, jornalista e fundador do site WikiLeaks, mídia pela qual denunciou uma série de abusos de direitos humanos e crimes de guerra cometidos pelos EUA.

Não há mais espaço para o “America First” 

Ressaltando sua linha de que todos estamos aprendendo que “esforços nacionais isolados não são suficientes”, Žižek relembra que, apesar das advertências dos cientistas, os governos se descobriram despreparados.

“Não há mais espaço para o “America First” e slogans do tipo. Para sobreviver, os Estados a partir de agora terão que lidar continuamente com o futuro”, diz o filósofo. 

“Precisamos de um novo sistema de saúde pública global e agências internacionais aptas a agir com ações acordadas. Precisamos de salários mínimos garantidos, pagos agora inclusive por Trump”, pontua. 

O intelectual alerta para que não subestimemos o impulso que o vírus está dando a novos sistemas de solidariedade a nível local e global. “Construir um novo modo de viver será o nosso teste. Mas as pessoas precisam retomar as coisas em suas mãos agora: não esperar o fim da crise.”

Os novos heróis são as pessoas comuns

“O custo psicológico é tremendo”, diz o esloveno ao explicar que o isolamento social por conta da contaminação da Covid-19, também cria novas teorias da conspiração nas redes, como a origem do próprio vírus.

Além disso, para ele, a situação tornou visível as diferenças sociais. “Penso no egoísmo dos super ricos fechados em seus bunkers ou em iates. Madonna postou um vídeo na banheira dizendo que estamos todos no mesmo barco. Não é assim. Os novos heróis são as pessoas comuns.”

“Vivemos uma experiência excepcional, pode tirar o nosso melhor ou o pior. Não nos tornaremos todos monges budistas ou santos católicos”, diz o filósofo, que deixa uma mensagem final: “temos que manter uma ordem para estar prontos amanhã”.


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