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Uma visão sobre o processo da globalização neoliberal na Cadernos de Terceiro Mundo

Há décadas que se percebeu que grande parte da sociedade planetária vive em um modelo econômico insustentável que tem causado todos esses problemas
Gabriel Rodrigues Farias
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

O ano de 2020 será lembrado, futuramente, como um dos anos mais complicados da história da humanidade. Além das milhares de vidas perdidas, a pandemia também trouxe consequências econômicas gravíssimas ao redor do mundo. Aumento das desigualdades, da pobreza, do desemprego e da fome foram alguns dos resultados dessa instabilidade econômica. Entretanto, seria um erro dizer que a atual crise seria um resultado exclusivo da pandemia. Na verdade, há décadas que se percebeu que grande parte da sociedade planetária vive em um modelo econômico insustentável que tem causado todos esses problemas. A pandemia em si foi apenas um golpe duro que intensificou esse processo. 

Devido a essa conjuntura, vamos relembrar uma reportagem de aproximadamente 20 anos. Nessa entrevista, o economista marxista egípcio e um dos principais teóricos do terceiro-mundismo, Samir Amin, traz sua visão sobre o processo da globalização neoliberal e quais seriam algumas das possíveis medidas alternativas a esse modelo. Para o intelectual, seria necessário criar uma frente, composta não só de socialistas mas também de sociais-democratas e progressistas, contra o neoliberalismo, algo que ele mesmo tentou fazer ao ser um dos coordenadores do Fórum Mundial de Alternativas. Fazendo uma referência critica a famosa frase de Margaret Thatcher ‘’There is no alternative’’, o Fórum esteve engajado com movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos de várias partes do mundo com o objetivo de contribuir para estratégias populares contra o modelo vigente internacionalmente.
Há décadas que se percebeu que grande parte da sociedade planetária vive em um modelo econômico insustentável que tem causado todos esses problemas

PxHere
Seria um erro dizer que a atual crise seria um resultado exclusivo da pandemia.

Em uma fala crítica ao pensamento liberal, Samir Amin diz que a democracia apresentada pelos grupos dominantes é uma democracia superficial que fica restrita ao terreno da eleição eleitoral e a dominância do mercado. Para ele, a verdadeira essência da democracia é a liberdade de escolha de um projeto societário. Além disso, Amin também faz, na entrevista, análises críticas da geopolítica contemporânea e do papel das esquerdas contra o discurso neoliberal. Uma outra alternativa essencial seria a necessidade de uma frente dos países do Sul Global que tenha poder e voz para negociar com os países do Norte sobre um novo modelo de sociedade.

Mesmo datada do ano 2000, as reflexões de Samir Amin continuam atuais para os dias de hoje. Ademais, ainda vale destacar mais uma reflexão do autor. Quando questionado sobre os governos democráticos da América Latina, Amin diz que, naquele momento havia uma conjuntura democrática latino-americana, porém, ele não descartava uma nova ruptura institucional no continente. O motivo disso é, em suas palavras: ‘’que o capitalismo não é a favor e nem contra a democracia. O capitalismo é a favor do mercado. Se a democracia, em uma dada conjuntura, serve ao mercado, muito bem. Se não, não existe compromisso democrático’’. 

‘’A verdadeira democracia implica a regulação do mercado’’, entrevista de Samir Amin por Beatriz Bissio 

Memória

Tema complexo, que requer uma análise de longo prazo e a compreensão da geopolítica atual. Para uma visão histórica do tema, compartilhamos reportagem publicada na revista Cadernos do Terceiro Mundo de 1997.

A Diálogos do Sul é a continuidade digital da revista fundada em setembro de 1974 por Beatriz Bissio, Neiva Moreira e Pablo Piacentini em Buenos Aires:

A recuperação e tratamento do acervo da Cadernos do Terceiro Mundo foi realizada pelo Centro de Documentação e Imagem do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ, fruto de uma parceria entre o LPPE-IFCH/UERJ (Laboratório de Pesquisa de Práticas de Ensino em História do IFCH), o NIEAAS/UFRJ (Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre África, Ásia e as Relações Sul-Sul) e o NEHPAL/UFRRJ (Núcleo de Estudos da História Política da América Latina), com financiamento do Governo do Estado do Maranhão.


Texto publicado originalmente na página Revista Cadernos do Terceiro Mundo – Acervo Digitalizado


CADERNOS DO TERCEIRO MUNDO. Rio de Janeiro: Terceiro Mundo, ano 26, n. 221, jun.-jul. 2000, p. 42-49.

Confira a edição completa da revista nº 221 :

   

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Gabriel Rodrigues Farias

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