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Republicanos introduzem 253 projetos de lei para impedir votos das minorias nos EUA

O voto afro-estadunidense junto com o latino de outras minorias foi o que levou ao triunfo democrata na Georgia
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Enquanto Washington anuncia ao mundo que Estados Unidos “voltou” como seu autoproclamado campeão da democracia, em sua própria casa, a maior ofensiva política é promover medidas antidemocráticas elaboradas para suprimir o voto de milhões de seus cidadãos.

Os republicanos introduziram 253 projetos de lei em 43 dos 50 estados da União com o objetivo de suprimir o voto de certos setores, sobretudo os que aqui são chamados “de cor” incluindo os afro-estadunidenses, os latinos e outros minorias junto com o voto dos jovens e dos pobres que costumem favorecer os democratas.  

Uma destas iniciativa já prospetou na Georgia na semana passada, juntamente o estado onde os democratas ganharam o controle do Senado Federal e onde Donald Trump e seus aliados buscaram pressionar os encarregados da eleição a reverter os resultados da eleição presidencial

A nova lei impõe uma série de restrições para obstaculizar o exercício do direito a voto, incluindo a eliminação de cédulas enviadas por correio, reduzindo os horários de votação, novos requisitos de identificação e até fazer mais incômodo o processo ao proibir que pessoas ofereçam água e alimento aos que estão esperando na fila de uma seção eleitoral.

A foto oficial da promulgação em lei da nova medida mostrava o governador republicano Brian Kemp firmando a lei rodeado por 6 homens brancos

Estas iniciativas são impulsionadas com a narrativa falsa de que ocorreu uma magna fraude na última eleição – ou seja, se apresentam com o argumento de que são para proteger a integridade das eleições diante de acusações de fraude eleitoral para a qual não há evidências

De fato, promotores destas leis acusam que são os imigrantes indocumentados – algo repetido por Trump como parte de seu ataque contra mexicanos e outros latino-americanos – os que são usados pelos democratas para perpetrar essa fraude. Ou seja, vinculam a “crise” na fronteira inflada pelos republicanos aos seu argumento para “proteger o voto”. 

O voto afro-estadunidense junto com o latino de outras minorias foi o que levou ao triunfo democrata na Georgia

Human Rights Watch
Votação em Georgia, nos EUA.

Líderes democratas e de direitos civis afirmam que representa uma “ameaça existencial” a este sistema. O presidente Jimmy Carter, que tem se dedicado a ser observador eleitoral em mais de 100 eleições ao redor do mundo, denunciou esta medida antidemocrática em seu estado da Georgia e o próprio presidente Biden a declarou como algo “antiestadunidense”. 

De fato, para líderes de direitos civis, isto é o ataque mais ambicioso para reverter as conquistas dos movimentos dos anos sessenta. E ainda mais, esta ofensiva reacionária está vinculada à promoção de política xenofóbicas e  racistas que têm nutrido a onda de crimes de ódio contra minorias – ofensiva que começou no nível nacional com o ataque de Trump contra mexicanos em 2015.  

Os republicanos e a direita entendem que o futuro não lhes pertence, e que as mudanças demográficas já expressadas pelas novas gerações implicam o fim de seu Estados Unidos. Para freá-los aparentemente estão dispostos a sacrificar todos esses valores democráticos que dizem defender e que desejam exportar a outros países. 

Em resposta, os democratas e vários movimentos de direitos civis, incluindo algumas correntes do Black Lives Matter e de alguns agrupamentos latinos, estão lutando contra estas medidas e ao mesmo tempo impulsionando um projeto de lei federal que alguns qualificam como a iniciativa mais importante para ampliar os direitos ao voto desde os anos sessenta. 

A proposta inclui medidas para o registro automático nacional dos que têm direito ao voto, limitar a influência de fundos privados nas contendas, ampliar os horários de votação e como também o uso de mecanismos como o voto por correio. 

“Esta é a notícia de hoje porque é a única notícia que os historiadores registrarão desta era: os estadunidenses defenderam sua democracia ou caíram na oligarquia?” escreve a historiadora Heather Cox Richardson.

Graham Nash. Vote https://youtu.be/CeR2ysos2PM

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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