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Nancy Kasai, uma jovem quéchua, de 23 anos, está prestes a se converter na primeira médica que se reivindica como indígena na Bolívia, onde os nativos não chegavam à universidade e historicamente foram discriminados.
Nancy Kasei Janko completou os estudos e está na etapa de práticas para receber o título de doutora. Trabalha com uma aparência pouco comum para os médicos, com suas longas tranças típicas e “pollera” (saia rodada) tradicional das mulheres quéchuas e túnica branca.
“Depois de formada gostaria de me especializar em pediatria”, disse a futura médica em diálogo com a AFP em Sucre.
“Gosto das crianças e de ajudar as mães a que cuidem bem deles y os façam crescer sadios”, comentou.
Nancy nasceu em uma pequena comunidade quéchua do município de Yotala, perto de Sucre, a capital de Chuquisaca, no centro da Bolívia. Simples e humilde, afirma que está pronta para servir aos que dela necessitem.
Estudou medicina na Universidade pública San Francisco Xavier, fundada em 1624 em Sucre, a mais antiga de Bolívia e uma das mais velhas da América do Sul.
Bolívia, com 6,2 milhões de indígenas que representam um 62,2 por cento de seus habitantes, é o país da América Latina com maior porcentagem de população autóctone, segundo recente informe de Cepal.
Em sua maioria, os indígenas bolivianos vivem na pobreza extrema, dedicados à agricultura ou tarefas rurais no campo.
As demandas dos povos originários por inclusão social e por melhores condições de vida, minimizadas por governantes do passado, brancos ou mestiços, são escutadas desde a chegado do aimará Evo Morales ao governo.
Primeiro indígena a alcançar a presidência, Morales busca seu terceiro mandato nas eleições de 12 de outubro, e é o grande favorito, com enorme vantagem sobre seus adversários, segundo as últimas pesquisas.
“Sempre formos pobres”
“Sou de família humilde. Sempre fomos pobres”, disse Nancy que apesar de tudo conseguiu abrir caminho para chegar à universidade.
Seu interesse pela medicina se manifestou desde criança. “Quando estava na escola já me interessa conhecer sobre o corpo humano, as enfermidades, suas tipologias e sua evolução”, asseverou.
Atualmente trabalha como interna no Hospital Universitário de Sucre, com capacidade para 126 leitos e com 60 médicos.
“Estamos contentes e orgulhosos de tê-la por aqui”, comentou o subdiretor do hospital Juan Pablo Escalier, referindo-se a Nancy.
“Por sua têmpera e estudiosa que é, sobressaiu-se nos plantões que realizou em áreas como pediatria e medicina interna, disse.
O medico chefe, Porfirio Ecos, recorda quando a aspirante a médica chegou ao hospital: “Perguntou sobre roupas porque há regulamentos para uso de uniforme. Expliquei que o interno tem que estar com a indumentária branca e então ficou preocupada porque usa sua pollera tradicional. Então dissemos que não haveria problema”
*Original de Los Tiempos de Cochabamba, Bolívia.