Como já confirmavam as várias pesquisas de boca de urna, a política pró ocidental Maia Sandu, candidata do Partido de Ação e Solidariedade, ganhou este domingo o segundo turno das eleições presidenciais – do ex-soviético país que tem a triste fama de ser o mais pobre da Europa – com uma vantagem de 13 pontos porcentuais sobre o até então presidente Igor Dodon.
A participação oficial dos eleitores, dada a conhecer pela Comissão Eleitoral alcançou 53% dos inscritos contra 43% da votação há duas semanas.
O triunfo de Sandu vai alterar o equilíbrio moldavo em sentido contrário aos interesses da Rússia, sempre e quando Dodon reconheça sua derrota e não se aferre ao poder.
Sandu defende outro projeto de país e não comparte com Dodon as promessas que este fez ao Kremlin no sentido de que a Moldávia ia denunciar o acordo de associação com a União Europeia, reverter a aproximação com a Organização do Tratado do Atlântico Norte e, pelo contrário, solicitar o ingresso à União Econômica Euroasiática promovida por Moscou.
Nada disto Dodon pode fazer, limitadas as faculdades presidenciais pelo Parlamento na Moldávia. Ao carecer de maioria legislativa, resultou nula a influência do mandatário na política interna e pouco pode conseguir em matéria de política exterior, suspenso do cargo várias vezes quando a oposição tinha que aprovar alguma iniciativa bloqueada por Dodon.
European Interest
Maia Sandu, candidata do Partido de Ação e Solidariedade, ganhou este domingo o segundo turno das eleições presidenciais.
O atual presidente, postulado pelo pró russo Partido Socialista, rompeu com o também pró russo e polêmico empresário Renato Usati, o terceiro aspirante mais votado no primeiro turno que primeiro exortou seus seguidores a não votar pelo seu anterior aliado, e depois lhes recomendou não comparecer às urnas.
A decepção do meio rural, parte importante do eleitorado de Dodon, pelas promessas não cumpridas e o crescente deterioro do nível de vida de seus habitante, acabou de inclinar a balança para Sandu, que soube atrair muitos indecisos com uma linguagem mais moderada respeito ao futuro da relação com a Rússia.
Curiosamente, nas presidenciais de 2016, Usati desempenhou um papel determinante para que Dodon se impusesse a Sandu, também em um segundo turno.
No verão de 2019, Dodon e Sandu, pressionados pela Rússia, Estados Unidos e a União Europeia – em uma não usual coincidência tripartite de interesses – se aliaram para terminar com o regime oligárquico de Vlad Plahotniuc, o homem mais rico da Moldávia que a converteu em uma lavanderia de capitais de duvidosa procedência e, desde seu modesto posto no Parlamento, levava cinco anos saqueando o país e dominando toda a política moldava mediante subornos a altos funcionários governamentais, legisladores, juízes, policiais e militares.
A aliança conjuntural de Dodon e Sandu destituiu o premier Pavel Filipp, subordinado de Plahotniuc, e obrigou a multimilionário a fugir para a Turquia, mas o matrimônio de conveniência – ele presidente e ela primeira ministra – durou até novembro do ano passado, quando o Parlamento aderiu à política pró ocidental, que a partir desse momento assumiu a liderança da oposição.
Agora Sandu toma a revanche a Dodon, mas o Parlamento seguirá limitando as faculdades presidenciais, situação que só pode mudar se seus seguidores ganharem as legislativas previstas para 2023.
Enquanto isso, Sandu deverá manejar com pinças sua relação com a Rússia, que apostou pela falida reeleição de Dodon e há anos garante com suas tropas de pacificação que não volte a acender a mecha do confronto armado do não resolvido conflito territorial da autoproclamada república de Transdniéster.
*Colaborador de Diálogos do Sul de Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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