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ToggleO chefe da diplomacia mundial não foi muito diplomático em sua mensagem: “estou aqui para fazer soar o alarme: o mundo tem que despertar. Estamos à beira do abismo — e prosseguindo no sentido equivocado. O mundo nunca esteve tão ameaçado. Ou tão dividido”.
António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) inaugurou, nesta terça-feira (21), o debate anual de alto nível da Assembleia-Geral afirmando que “enfrentamos a maior cascata de crises de nossas vidas”, entre elas a da mudança climática, a pandemia global, ameaças à paz e aos direitos humanos e crescentes brechas, enquanto “a solidariedade está ausente na ação — justamente quando mais a necessitamos”.
Condenou como “obsceno” e como uma “acusação moral do estado de nosso mundo” que a maioria do mundo mais rico já está vacinada quando mais de 90 dos africanos continuam esperando por sua primeira dose.
Denunciou também o incremento da desconfiança, produto de promessas não cumpridas, direitos violados, corrupção e advertiu que diante de “multimilionários dando um passeio de prazer ao espaço enquanto milhões padecem fome na terra… e os jovens não veem um futuro… os povos aos que servimos e representamos podem perder a fé” em seus governos e instituições.
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Apelou por uma renovação do “contrato social” e que para isso se requer superar seis “brechas”:
– a da paz, inclusive não só entre países, mas dentro deles, e advertiu que “os golpes de Estado” regressaram;
– a do clima;
– a brecha entre ricos e pobres – e isso começa, disse, pondo fim à pandemia para todos em toda parte;
– a brecha entre gêneros;
– a da confiança;
– e a brecha entre gerações.
Em relação a esta última, afirmou que uma pesquisa recente em 10 países registrou que a maioria dos jovens sofre altos níveis de ansiedade e angústia pelo estado do planeta e advertiu aos mandatários: “60% de seus futuros eleitores sentem-se traídos por seus governos”.
Concluiu que “a melhor maneira de avançar nos interesses de seus próprios cidadãos é avançar nos interesses de nosso futuro comum”.
ONU
António Guterres, secretário geral da Organização das Nações Unidas
O desfile
Guterres, e vários dos oradores que o seguiram no desfile interminável de discursos de mandatários ou de seus representantes ante a máxima organização multilateral, reconheceram o gravidade da crise da mudança climática, da pandemia e os mesmos temas e desafios de todos os anos em discursos que, em grande medida, são elaborados para consumo interno em cada um de seus países.
Xi Jinping
O presidente da China, Xi Jinping, ressaltou a necessidade da solidariedade internacional para enfrentar a pandemia e ampliar os esforços a fim de apoiar o desenvolvimento internacional, sobretudo de países mais pobres.
Em um discurso por vídeo (aos governos foi oferecido a opção de oferecer discursos presenciais ou por vídeo este ano), afirmou que “é preciso fazer das vacinas bens públicos globais” para garantir seu acesso universal, sobretudo aos países mais pobres.
Em óbvia resposta aos Estados Unidos (sem mencionar seu nome) sobre a “competição” declarou que “o êxito de um país não tem que implicar o fracasso de outro país, e o mundo é suficientemente grande para acomodar o desenvolvimento em comum e o progresso de todos os países”.
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E aparentemente reprovando o papel de Washington como juiz internacional da democracia, o líder chinês apontou que “um mundo de paz e desenvolvimento deve abarcar civilizações de diversas formas, e deve acomodar rotas diversas à modernização. A democracia não é um direito especial reservado para um país individual, mas sim um direito que os povos de todos os países devem gozar”.
Condenou toda intervenção militar externa para “as chamadas transformações democráticas” e recordou que a “China nunca invadiu ou atropelou outros nem buscou a hegemonia no passado, tampouco o fará no futuro”.
Pedro Castillo Terrones
Um novo ator no cenário internacional este ano foi o presidente Pedro Castillo Terrones, do Peru, que chegou ao pódio com seu grande chapéu emblemático e recordou que ele marca a “primeira vez que um professor rural assumiu o poder” como resultado de um voto pela mudança social sustentável em seu país.
Assegurou que seu governo está contra a exclusão e pela justiça social, “não só consolidar o império da lei, mas sim fazer valer os direitos do povo”. Enfatizou, como professor, a educação como chave para o futuro, afirmando que “um povo educado nunca será enganado”.
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Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro do Brasil se destacou por não respeitar os requisitos de vacinação dentro da ONU e em Nova York e ao oferecer um dos discursos mais cheios de falsidades — competição às vezes intensa por aqui — ao essencialmente proclamar o Brasil como um milagre econômico, social e político e até ecológico, sugerindo que 84% da Amazônia está intacta e que 66% de seu país está coberto da vegetação nativa, de “quando o país foi descoberto”.
Isso sim, afirmou que o Brasil “tem um presidente que crê em Deus, respeita os militares, valoriza a família e é leal ao seu povo…é muito, uma base sólida, se considerarmos que estávamos à beira do socialismo”.
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Ebrahim Raisi
O novo presidente do Irã, Ebrahim Raisi, em uma mensagem de vídeo, denunciou os Estados Unidos declarando que “ao mundo não lhe importa sobre “América Primeiro” ou “América está de volta” — repudiando consignas de Trump e Biden — ao condenar que “as sanções são a nova maneira de guerra dos Estados Unidos” contra outras nações.
Não deu indicações de progresso nas negociações para resgatar o acordo nuclear abandonado por Trump.
Também falaram neste primeiro dia — apenas o início de uma semana de discursos — os mandatários da Colômbia, do Chile e da Turquia, entre outros.
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Não há dados de quantas pessoas ao redor do mundo estão vendo este “debate”, mas sim se sabe que o mais visto na ONU não incluiu nenhum mandatário ou figura política: mais de 6 milhões viram o vídeo de um grupo de pop coreano BTS convidado à ONU na segunda-feira para promover as vacinas e a esperança juvenil e onde apresentou seu novo vídeo “Licença para dançar” gravado na sede mundial.
Mudança climática e a pandemia
A mudança climática e a pandemia — que alguns apontaram que está relacionada à crise ecológica planetária — foram o marco da maioria dos discursos neste primeiro dia. Mas embora a retórica podia chegar a ser extraordinária, as palavras estão longe de ser traduzidas em ações.
A ONU apresentou um informe na semana passada que demonstrar que os países não estão cumprindo com seus compromissos tomados no Acordo de Paris, onde se requer uma redução de 45% em emissões, mas em lugar disso, sob os compromissos atuais em coletivo, em lugar de reduzir as emissões, estas se elevarão 16 por cento até 2030.
“É muito fácil entender porque os maiores emissores de carbono do mundo e os maiores produtores de combustíveis fósseis querem que pareça que estão tomando suficiente ação climática com seus discursos elegantes. O fato de que ainda se saem com a sua é outro assunto”, comentou nesta terça-feira Greta Thunberg, a jovem ativista ecológica mais famosa do mundo
David Brooks, correspondente — La Jornada. Nova York, 21 de setembro.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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