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Por que a Covid-19 faz as pessoas infectadas perderem o olfato e o paladar?

Quem perdeu o olfato nas últimas semanas deve saber que é possível que tenha tido uma infecção oculta pelo vírus que produz a Covid-19 e ainda não saiba.
José Antonio López Escamez
Diálogos do Sul Global

Tradução:

Quem perdeu o olfato nas últimas semanas deve saber que é possível que tenha tido uma infecção oculta pelo vírus que produz a Covid-19 e ainda não saiba. 

Os sintomas mais populares da Covid-19 são a fadiga, a congestão nasal e a tosse, com o inconveniente de que não permite distingui-la de um resfriado comum ou de uma gripe. No entanto, a infecção pelo vírus SARS-CoV-2 também produz em muitas pessoas uma perda de olfato (anosmia) e do paladar (disgeusia), que muitas vezes passam despercebidas para o paciente e para muitos médicos. Muitas pessoas ignoram que a anosmia costuma ser um dos sintomas iniciais e, portanto, pode ajudar muito na identificação de pessoas portadoras do vírus em fases iniciais da doença. 

Não sente gosto (nem cheiro) de nada

A anosmia e as alterações do paladar têm sido descritas tanto em pacientes graves hospitalizados pela Covid-19 na Itália, como em pacientes com sintomas leves que não necessitaram hospitalização nos Estados Unidos. Agora sabemos que em torno de 70% das pessoas que são infectadas pelo vírus apresentam anosmia ou disgeusia, embora tenham uma infecção leve. Portanto, na situação de pandemia atual, uma pessoa com fadiga, tosse e perda de olfato é suspeita de ter uma infecção por Covid-19.

Por que se perde o olfato se nos infectamos pelo SARS-CoV-2?

Para entender isso, é preciso conhecer a forma em que o vírus entra em nossas células e quais são suas portas de entrada favoritas no corpo humano.

O vírus SARS-CoV-2 utiliza basicamente duas proteínas da superfície das células para entrar nelas: ACE2 (Angiotensin converting enzyme II) e TMPRSS2 (transmembrane serine protease 2). A proteína ACE2 é o receptor para um hormônio chamado Angiotensina 2, que entre outras cosas regula a pressão arterial. 

Quem perdeu o olfato nas últimas semanas deve saber que é possível que tenha tido uma infecção oculta pelo vírus que produz a Covid-19 e ainda não saiba.

Reprodução: flickr
Coleta de exame para o Covid-19 em Itapevi

Por sua parte, o vírus conta com uma proteína em sua superfície chamada proteína S (spike). Funciona como uma chave que pode se unir à proteína ACE2, o receptor o “fechadura”. Nesse momento entra em ação a protease TMPRSS2, uma enzima que corta a proteína S em dois fragmentos, S1 e S2, o que permite a incursão do vírus mediante um processo conhecido como endocitose. Uma vez que o vírus entra nas células forma uma cobertura com a membrana celular como se fosse um escudo que a prende, “agarrando-se” aos receptores ACE2. E assim tem via livre para nos invadir. 

Por que infecta o epitélio olfatório?

O teto das fossas nasais está forrado com epitélio olfatório, um tecido formado por 3 tipos de células; células basais, neurônios sensitivos olfatórios (que sobrevivem entre 30 e 60 dias) e células de suporte. O que ocorre com o SARS-CoV-2 é que ele tem uma especial facilidade para meter-se nas entranhas dessas células. 

Analisando a expressão do genes destas células, os cientistas descobriram que as células de suporte apresentam uma elevada expressão dos genes ACE2 e TMPRSS2, segundo revela um estudo recente que se encontra em revisão. Embora seja necessário validar estes resultados para confirmar a localização dessas proteínas na membrana das células de suporte, cabe suspeitar que o SARS-CoV-2 infecta as células de suporte do epitélio olfatório, utilizando as proteínas ACE2 y TMPRSS2 como porta de entrada. Desta forma, danifica as células de suporte que, posteriormente, afetaria os neurônios sensitivos olfatórios  

O sentido do paladar é outra vítima. A sensação que nos permite distinguir os sabores ao comer encontra-se em estruturas da língua, as papilas linguais. Estas papilas têm uns receptores denominados gomos gustativos formados por 3 tipos de células: células receptoras gustativas, células de suporte e células precursoras ou basais. Embora não seja conhecido ainda o nível de expressão das proteínas ACE2 e TMPRSS2 nas papilas linguais, é provável que o vírus infecte os gomos gustativos da mesma forma como o faz no nariz.

Uma perda reversível

A boa notícia é que é possível recuperar tanto o olfato como o paladar. De que assim seja se ocupam no nariz as células basais que são as encarregadas de voltar a formar os neurônios sensitivos olfatórios. Neste processo demorariam uns 60 dias, e uma vez superada a doença, a maioria dos pacientes deveriam recuperar o olfato em um prazo máximo de 2 meses. 

Quanto às células receptoras gustativas, elas se regeneram a partir das células precursoras a cada 10-14 dias. Portanto é previsível que o paladar seja recuperado antes do olfato. 

O que está claro é que, na situação epidemiológica atual, a anosmia e a disgeusia começadas recentemente devem ser considerados como sintomas de alerta precoce, incluso na ausência de outros sintomas respiratórios para identificar novos casos de infecção pelo SARS-CoV-2.

Publicado originalmente em https://theconversation.com/por-que-la-enfermedad-covid-19-nos-hace-perder-el-olfato-y-el-gusto-137656

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

José Antonio López Escamez

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