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Foto: Jurisdicción Especial para la Paz

Possível retomada de sequestros pelo ELN arrisca diálogos de paz na Colômbia

Grupo guerrilheiro anunciou que pretende voltar à prática com fins econômicos, o que quebra condições de cessar-fogo acordadas com Governo Petro
Jorge Enrique Botero
La Jornada
Bogotá

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O anúncio do Exército de Libertação Nacional (ELN) de que retomará a prática de sequestros gerou uma rejeição generalizada na Colômbia ontem, após a guerrilha afirmar que o governo descumpriu acordos recentes sobre a criação de um “fundo comum multidoador” supostamente encarregado de financiar as estruturas rebeldes.

O comissário de paz, Otty Patiño, alertou que solicitará ao presidente Gustavo Petro a suspensão do cessar-fogo com os grupos guerrilheiros que voltarem a sequestrar e lembrou ao comando da insurgência que a criação da bolsa de doações nunca foi concebida como contrapartida à suspensão dos sequestros com fins econômicos.

“Ficou claro para o ELN que o comércio de seres humanos não tem justificativa e sua eliminação não pode ser objeto de transações com o governo”, disse Patiño.

Por sua vez, a chefe da delegação do governo na mesa de diálogos, Vera Grabe, que tem lidado com sucessivas crises nas negociações, afirmou que “é inadequado fazer esse tipo de pressão” e instou o ELN a “tomar decisões fundamentais sobre o processo de paz”.

Analistas locais lembraram que foi justamente um sequestro, o do pai do jogador de futebol Luis Díaz, o primeiro detonador dos múltiplos obstáculos que este processo de paz enfrentou, iniciado em novembro de 2022, com grandes expectativas.

José Félix Lafourie, presidente do poderoso sindicato dos pecuaristas, declarou nesta terça-feira (7) à imprensa local que deixará a mesa de negociações assim que ocorrer o primeiro sequestro após o anúncio da guerrilha. “Eu represento o setor da economia mais afetado por essa prática e não faria sentido permanecer em negociações com aqueles que decidiram voltar a sequestrar”, explicou o porta-voz.

O surpreendente anúncio do ELN colocou em suspense a realização da sétima rodada de conversas, prevista para o próximo mês, em Caracas, e deixou no ar a sensação de que um dos pilares da estratégia governamental de “paz total”, impulsionada com perseverança pelo presidente Petro desde o início de seu governo, há quase dois anos, foi gravemente ferido.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jorge Enrique Botero Jornalista, escritor, documentarista e correspondente do La Jornada na Colômbia, trabalha há 40 anos em mídia escrita, rádio e televisão. Também foi repórter da Prensa Latina e fundador do Canal Telesur, em 2005. Publicou cinco livros: “Espérame en el cielo, capitán”, “Últimas Noticias de la Guerra”, “Hostage Nation”, “La vida no es fácil, papi” y “Simón Trinidad, el hombre de hierro”. Obteve, entre outros, os prêmios Rei da Espanha (1997); Nuevo Periodismo-Cemex (2003) e Melhor Livro Colombiano, concedido pela fundação Libros y Letras (2005).

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