O presidente Vladimir Putin advertiu, na última quinta-feira (29), aos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que o envio de suas tropas a Ucrânia teria consequências trágicas, e lhes recordou que a Rússia conta com armamento que pode alcançar seus territórios, incluído os Estados Unidos.
“Começaram a falar sobre a possibilidade de enviar à Ucrânia contingentes militares da OTAN e deveriam recordar a sorte daqueles que em seu momento enviaram tropas ao território de nosso país. Mas agora as consequências para eventuais intervencionistas seriam muito mais trágicas”, afirmou Putin, ao apresentar seu informe de governo às duas Câmaras do Parlamento russo, requisito constitucional que o chefe de Estado deve cumprir a cada ano.
O mandatário russo se referiu assim ao debate que está se dando no interior da OTAN, revelado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que indicou que por ora “não há consenso” sobre enviar tropas ao conflito na Ucrânia. Porém, acrescentou: “Não devemos excluir nada”.
Após dizer que as forças estratégicos da Rússia estão em estado de alerta e que contam com armamento capaz de alcançar o território dos Estados Unidos e seu aliados, Putin anunciou que Moscou está aberta a dialogar com Washington sobre estabilidade estratégica, apesar de enfrentar, sublinhou, ações hostis por parte de seus governantes.
“Pretendem discutir realmente a estabilidade estratégica conosco enquanto proclamam que sua meta é nossa derrota estratégico no campo de batalha?”, se perguntou, respondendo: “É um claro exemplo de hipocrisia”.
O mesmo, relatou, sucede com o projeto do tratado sobre prevenção de implantação de armas no espaço que a Rússia apresentou em 2008. Até hoje não há reação, Washington finge que não existe.
Por outro lado, de um tempo para cá, se lança todo tipo de “acusações infundados contra a Rússia, por exemplo, dão a entender que, supostamente, vamos utilizar armamento nuclear no espaço. Tais acusações, que não são mais que mentiras, formam parte de um estratagema que pretende nos arrastar a negociações em seus próprios termos, que só favorecem os Estados Unidos”, pontuou.
Além disso, “agora, sem nenhum pudor, declaram que a Rússia supostamente tem a intenção de atacar a Europa. Bem, todos sabemos que só estão dizendo um disparate”, lamentou.
“A Rússia não permitirá que ninguém se imiscua em seus assuntos internos”, assegurou Putin, e agregou: “Quiseram fazer com a Rússia o mesmo que fizeram em outras regiões do mundo, incluindo a Ucrânia, em particular, semear a discórdia em nosso lar e debilitar-nos internamente. Mas fracassaram”.
A Rússia – apontou o titular do Kremlin – está disposta a falar com todos os interessados em criar um novo contorno de segurança igual e indivisível na Eurásia.
“Estamos dispostos a manter uma conversação substantiva sobre este tema com todos os países e associações que desejarem. Ao mesmo tempo, quero reforçar: sem uma Rússia soberana e forte, não é possível uma ordem mundial duradoura”, destacou.
Moscou apoia a ideia de “unificar os esforços da maioria mundial para responder aos desafios globais, incluída a rápida transformação da economia mundial, o comércio, as finanças e os mercados tecnológicos, quando muitos antigos monopólios e estereótipos associados estão sendo derrubados”, agregou.
Putin, que dentro de alguns dias espera ser reeleito para um novo período presidencial de seis anos, centrou o que chamou a parte mais importante de seu discurso em um ambicioso pacote de programas sociais até 2030, muito aplaudido pelos cerca de 1.400 assistentes ao ato. Aparte de legisladores, estiveram presentes militares, dirigentes regionais, líderes religiosos e intelectuais.
O chefe do Executivo russo começou a repartir centenas de bilhões de rublos para construção de escolas, investimentos em saúde pública, melhoria dos transportes e estradas, edificação de moradias, estímulos à natalidade, oportunidades para os jovens, facilidades para os militares e perdão de dívidas para as regiões menos desenvolvidas.
Ao final das duas horas de seu discurso, o titular do Kremlin advertiu que “a instrumentação destes planos depende diretamente de nossos soldados. Oficiais, voluntários, todo o pessoal militar que agora combate no front. Da valentia e determinação dos companheiros dispostos à entrega de suas vidas para defender nossa Pátria”.
Em outras palavras, para poder efetuar esses grandiosos planos, a Rússia necessita vencer à Ucrânia quanto antes e dirigir para benefício da população civil russa os ingentes recursos que agora “operação militar especial” absorve.
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