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"Quantos morreram para que chegássemos aqui?", questiona Petro em discurso de vitória

Unidade, esperança, reconciliação e reconstrução: essas foram as chaves do discurso de vitória; veja os melhores momentos
Guilherme Ribeiro
Diálogos do Sul
Jundiaí (SP)

Tradução:

Nada define tão bem as eleições colombianas como o desejo de mudança. A demanda, que se tornou imperativo popular, tem em seus primórdios o chamado estallido social [levante popular] vivido no país em 2019 – 2021. O candidato de extrema-direita Rodoldo Hernández tentou se camuflar, mas ao final, os colombianos optaram pela fórmula que rompe com o poder estabelecido no país.

Em seu discurso de vitória, neste domingo (19), Gustavo Petro, da coalizão progressista Pacto Histórico, afirmou que a mudança consiste em deixar o ódio e o sectarismo para trás: “as eleições mostraram duas Colômbias e queremos que esta seja uma Colômbia”.

Petro reafirmou o compromisso de, junto à população, escrever uma nova história para o país, para a América Latina e para o mundo.

Ao lado da nova vice-presidenta, Francia Márquez, e de partidários e familiares, ressaltou que é o momento de possibilitar um futuro de iguais oportunidades para todos e todas as colombianas, conclamou Petro.

Minutos antes, Francia Márquez havia lembrado que, após 214 anos, os colombianos conseguiram “um governo do povo, um governo popular, das pessoas de mãos calejadas, das pessoas comuns, dos ninguéns”.

Assista aos momentos finais da apuração e os discursos de Petro e Francia Márquez retransmitidos pela TV Diálogos do Sul

Petro e Francia Márquez destacaram agradecimentos aos militantes, que ao longo dos últimos meses se dedicaram a conquistar votos e tornar possível o resultado deste domingo: “agora são vocês a força da mudança, do amor e da esperança”, acrescentou Petro.

Violência

“Quantas pessoas desaparecem nos caminhos da Colômbia? Quantos morreram? Quantos estão presos”, questionou Petro, mencionando o encarceramento de jovens da chamada “Primeira Linha” — grupo que se colocava diante das manifestações para impedir violência policial —  “tratados como bandidos somente porque tinham esperança”.

Nesse caminho, Petro pediu ainda que esses jovens líderes, considerados presos políticos, sejam libertos, além de que o mandato de Daniel Quintero Calle, ex-prefeito de Medellín, seja restituído. Em maio, Quintero foi afastado pela Procuradoria do país por um vídeo de seis segundos em apoio a Petro.

Unidade, esperança, reconciliação e reconstrução: essas foram as chaves do discurso de vitória; veja os melhores momentos

Reprodução Facebook
Para Gustavo Petro, colombianos devem se enxergar mais como os latino-americanos que somos, uma América Latina Negra, Indígena e Multicolor

Adotando um tom pacifista, na contramão dos governantes de ultra-direita que detiveram o poder nos últimos anos, Gustavo Petro afirmou que, em seu governo, não haverá perseguição política: “a oposição que teremos será sempre bem-vinda ao Palácio de Nariño”, apontou.

Direcionando atenção à violência brutal que atinge sobretudo as áreas mais vulneráveis da Colômbia, Petro destacou a necessidade de “diálogos regionais que nos permita ver o conflito [armado ainda existente] em sua especificidade regional”, fazendo jus à diversidade de incluir mulheres, camponeses e indígenas.

Acompanhe as últimas notícias da corrida eleitoral no país em Eleições Colômbia 2022

O discurso de Petro foi marcado ainda pela presença da mãe de Dilan Cruz, jovem executado pelo Estado colombiano durante os protestos em 2019, e que é uma entre as várias vítimas da brutalidade estatal: “Em você está a nossa esperança, por justiça. A esperança dos necessitados. Bem-vindo à Colômbia e ao nosso país”, diz a mãe.

“A partir do nosso governo, em 7 de agosto, começará a paz”, disse Petro, em referência à data da posse do novo governo. Sobre a proposta de fazer com que as armas deixem de disparar, destacou: “não é matar-nos uns aos outros. É nos amar uns aos outros”.


Economia e Meio Ambiente

No tocante à Economia, o líder progressista refutou a ideia, disseminada pela oposição, de que seu governo tentaria expropriar os bens dos colombianos: “vamos desenvolver o capitalismo na Colômbia, não porque o adoremos, mas porque temos que superar o feudalismo na Colômbia, a nova escravidão”, observou Petro, cujo projeto visa dar espaço para que as comunidades indígenas desenvolvam sua cultura.

“Sairão formas desse capitalismo, tomara, não especulador, mas produtivo e novas formas para a humanidade, com uma economia forte”, que deve transitar, segundo o presidente eleito, de uma economia extrativista para uma produtiva, aliada à Justiça Ambiental.

O governante colombiano mostrou ainda o compromisso de acelerar os passos de transição a uma economia descarbonizada, uma vez que seu governo “pretende ser um governo da vida”:

“Temos que produzir de forma que não se afete a água, o pântano, que não se mate nada”, disse, lembrando o dever do país de “salvar a selva amazônica em nome de salvar a humanidade”, além de construir novas tecnologias e buscar um mundo de novo equilíbrio com a natureza.

Veja os principais momentos do discurso:


* A Agência ComunicaSul está na Colômbia cobrindo o segundo turno das eleições presidenciais graças ao apoio das seguintes entidades: Associação dos/das Docentes da Universidade Federal de Lavras-MG, Federação Nacional dos Servidores do Poder Judiciário Federal e do MPU (Fenajufe), Confederação Sindical dos Trabalhadores/as das Américas (CSA), jornal Hora do Povo, Diálogos do Sul, Barão de Itararé, Portal Vermelho, Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Sindicato dos Bancários do Piauí; Associação dos Professores do Ensino Oficial do Ceará (APEOC), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-Sul), Sindicato dos Bancários do Amapá, Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Sindicato dos Metalúrgicos de Betim-MG, Sindicato dos Correios de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp Sudeste Centro), Associação dos Professores Universitários da Bahia, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal do RS (Sintrajufe-RS), Sindicato dos Bancários de Santos e Região, Sindicato dos Químicos de Campinas, Osasco e Região, Sindicato dos Servidores de São Carlos, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal de Santa Catarina (Sintrajusc); mandato popular do vereador Werner Rempel (Santa Maria-RS), Agência Sindical, Correio da Cidadania, Agência Saiba Mais, Revista Fórum, Viomundo e centenas de contribuições individuais.

Por Vanessa Martina Silva e Guilherme Ribeiro, com informações da ComunicaSul.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Guilherme Ribeiro Jornalista graduado pela Unesp, estudante de Banco de Dados pela Fatec e colaborador na Revista Diálogos do Sul.

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