Embora sejam aliados formais, os laços entre a Armênia e a Rússia se assemelham a uma corda fina que, cada vez que é tensionada, parece estar a ponto de romper-se, pois Yerevan não perde a oportunidade de se distanciar de Moscou.
O desentendimento mais recente ocorreu nesta quinta-feira (11), quando o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Armênia, Ararat Mirzoyan, anunciou, sem explicar as razões, que não participaria na reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros dos países membros da CEI (Comunidade de Estados Independentes, organização criada a pedido da Rússia, por parte de algumas repúblicas após o colapso da União Soviética), que acontece em Minsk, Bielorrússia, na nesta sexta-feira (12).
Leia também | Rússia: UE e Otan seduzem Armênia exclusivamente de olho em recursos
Pouco antes, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia instou o governo do primeiro-ministro armênio Nikol Pashinian “a não permitir que o Ocidente o engane e conduza o país no caminho errado, atormentado pelo surgimento de um vácuo na esfera de segurança, sérios problemas na economia e um êxodo da população”.
E nesse contexto, Pashinián colocou lenha na fogueira ao declarar nesta quarta-feira (10): “as relações entre a Armênia e a Rússia não atravessam o seu melhor momento e a sua importância para o nosso Estado, soberania, segurança e economia não está em dúvida, mas não cometemos nenhum erro na nossa política em relação à Rússia, os nossos colegas nem podem nos acusar de não cumprirmos as nossas obrigações” – o que implica que Moscou o fez ao não defender a Armênia contra o ataque de guerra do Azerbaijão.
Importância das relações bilaterais
Imediatamente, o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, retomou parte das declarações de Pashinian sobre a importância da relação bilateral e disse: “a Armênia é o nosso parceiro próximo, o nosso aliado. Um país com o qual partilhamos muitos formatos de integração, como a Comunidade de Estados Independentes, a União Econômica Eurasiática e outros, e com o qual, claro, temos relações bilaterais históricas, laços humanitários que ninguém questiona.”
Peskov expressou a esperança de que “os líderes (o presidente Vladimir Putin e o primeiro-ministro Nikol Pashinian) tenham a oportunidade de discutir essas questões”. E acrescentou: “Os diálogos também são realizados ao nível de trabalho. E, claro, assumimos que todos os momentos difíceis da nossa relação bilateral, que surgiram recentemente, encontrarão uma solução no âmbito desse diálogo.”
E a reunião trilateral, em 5 de abril, em Bruxelas, entre Estados Unidos (o secretário de Estado, Antony Blinken), União Europeia (a presidente da Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen, e o responsável pela política externa e segurança, Josep Borrell) e Armênia (Pashinian) não foi bem vista em Moscou.
Leia também | Armênia-Azerbaijão: fim de Nagorno-Karabakh não é solução para tensões no Sul do Cáucaso
Os interlocutores quiseram sublinhar que não falaram em abrir as portas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) à Armênia, mas sim em como promover a cooperação econômica e comercial com a União Europeia, enquanto os Estados Unidos, nas palavras de Blinken, “tem a intenção de continuar a ajudar a Armênia a desenvolver a sua capacidade de recuperação democrática e econômica”, para a qual se ofereceu a doar 65 milhões de dólares.
A Rússia, através de uma declaração do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros, atacou a reunião trilateral, chamando-a de “mais uma tentativa do Ocidente coletivo de arrastar o Sul do Cáucaso para um confronto geopolítico”.
E advertiu: “A interferência irresponsável e destrutiva de forças extra-regionais nos assuntos do Sul do Cáucaso, o desejo de criar uma barreira entre os países da região e os seus vizinhos podem ter consequências muito negativas para a estabilidade, segurança e desenvolvimento econômico da região, provocando o aparecimento de novas linhas divisórias, bem como um aumento incontrolável da tensão.
La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.