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As mudanças no sistema de saúde não dependem de uma pessoa só.
Carolina Vásquez Araya*
Seria injusto e irreal esperar melhorias imediatas no sistema de saúde da Guatemala só porque houve uma troca de ministro. Todos conhecem o colapso no qual se encontra a atenção sanitária no âmbito nacional, a maneira como se tem administrado essa caixa de Pandora de que muitos se serviram para encher os bolsos, e os interesses envolvidos no manejo do seu orçamento.
A designação da doutora Lucrecia Hernández Mack, no entanto, foi uma lufada de ar fresco nessa nuvem cinzenta. Muitos esperam que dada sua juventude, sua integridade, sua experiência profissional e sua qualidade de médica sanitarista – tudo o que permite supor uma visão holística diferente do enfoque tradicional sobre os desafios e possíveis soluções – as decisões emanadas desta nova administração consigam resultados em curto tempo.
Isso é impossível. A restauração da funcionalidade plena dos postos e centros de saúde, dos hospitais, o abastecimento básico de instrumental, remédios e outras provisões indispensáveis para o atendimento à população não dependem da capacidade de uma só pessoa no comando, nem seus efeitos serão vistos em um piscar de olhos. O que acontecer nos próximos meses vai depender fundamentalmente da vontade das equipes humanas comprometidas com essa missão, sempre e quando sejam capazes de deixar de lado seus interesses particulares para embarcar na aventura de trabalhar com o claro propósito de reparar os sérios danos ocasionados pela corrupção enquistada nesse importante ministério.
A fórmula ganhadora, de acordo com algumas opiniões vertidas nos meios de comunicação e redes sociais, seria um apoio irrestrito do Executivo, do Congresso, das organizações da sociedade civil e da cidadania a esta nova tentativa de recuperação do enorme complexo nacional para o atendimento em saúde. O acompanhamento não só deverá ser constante, mas também consciente e informado sobre o estado real das instalações, as condições de trabalho do pessoal, o detalhamento dos gastos e os planos para colocar tudo isso em condições de sobrevivência, pois atualmente corre risco de vida.
A ministra Hernández Mack deve ser muito valente para aceitar um desafio que outros consideram praticamente impossível vencer. Hoje será seu primeiro dia de trabalho, já diretamente no seu escritório e enfrentará os inúmeros desafios dentro e fora do ministério. À distância é difícil imaginar a reestruturação desse labirinto povoado de ameaças. Mas não deixa de ser esperançoso pensar na possibilidade de que, durante esta administração a população mais necessitada encontre o atenção necessária com sensibilidade humana no sistema, quando acudir a ele.
A ministra poderia dar uma olhada a seu redor e, como sugeria algum Presidente anterior, “buscar nas gavetas”, onde talvez encontre recursos de programas irrealizáveis por falta de capacidade de execução, outra das grandes deficiências de um Estado clientelista e povoado de burocratas pouco ou nada preparados para cumprir suas funções. A cidadania observa com expectativa os primeiros passos dessa nova funcionária, mas é preciso ter suficiente lucidez para não esperar milagres, sobretudo quando alguns dos problemas mais urgentes permaneceram sem solução por décadas de abandono, maus manejos e pressões mal intencionadas de setores de poder que têm usado o sistema de saúde como fonte de enriquecimento pessoal.
*Colaboradora de Diálogos do Sul, da Cidade da Guatemala