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Foto: Reprodução / X

Topos Aztecas: o grupo de socorristas do México que auxiliou buscas em Valência

Fundado há quase 40 anos, os Topos Aztecas são considerados um dos grupos mais experientes em grandes desastres e se mantêm com doações e apoios
Armando G. Tejeda
La Jornada
Madri

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Um grupo de 12 resgatistas dos Topos Aztecas, coletivo que surgiu após o terremoto de 1985 na Cidade do México e que, desde então, tem viajado pelo mundo auxiliando em zonas devastadas por desastres naturais, viajou a Valência para ajudar a buscar desaparecidos entre a imensa confusão de carros e casas destruídos, em vilarejos e estradas soterrados por milhares de toneladas de lama, arrastadas pela Depressão Isolada em Níveis Altos (DANA), ocorrida em 29 de outubro.

“Quando você está em um lugar assim, com tanta destruição ao redor, mas também com tanta força solidária para ajudar e aliviar os mais afetados, no final, seu corpo pertence a esse espírito coletivo, e é daí que vem a força para trabalhar sem parar durante jornadas de mais de 12 horas”, explicou Héctor Méndez, o “topo maior”, conhecido como El Chino, que, aos 78 anos, já testemunhou muitos cenários semelhantes.

Os 12 brigadistas mexicanos chegaram a Valência em 5 de novembro, em um voo financiado integralmente pela companhia aérea Iberia. Esse grupo de socorristas especializados, considerado um dos mais experientes em grandes desastres, se mantém com doações e apoios.

Uma vez em Valência, juntaram-se a eles outros oito voluntários, alguns já experientes e outros treinados diretamente no local, incluindo quatro jovens de Barcelona e das Ilhas Canárias.

Os Topos Aztecas, com seus uniformes laranjas, levam um equipamento leve de resposta imediata, que inclui cordas, picaretas, pás, martelos, machados, serras elétricas, tanques de oxigênio, macas e hastes de bambu que, no caso de Valência, são usadas para perfurar a lama em busca de indícios de pessoas soterradas.

Em entrevista ao La Jornada, Héctor Méndez explicou: “Buscamos as pessoas por seus nomes e sobrenomes, por isso estamos sempre em contato com algum familiar, porque queremos que eles não passem pelo sofrimento de ter que procurar seus entes queridos. É aí que entramos nós.”

O grupo de socorristas mexicanos conquistou prestígio internacional ao longo dos anos devido a suas intervenções em desastres naturais nos lugares mais inóspitos do planeta. Por isso, também possui certificações de organismos internacionais, como o Grupo Assessor Internacional de Operações de Busca e Resgate da ONU.

“Esta é uma missão de vida que sigo há quase 50 anos. Já vi sete presidentes da República passarem pelo México. Às vezes, nos apoiam; outras vezes, não. Por exemplo, o presidente López Obrador nos ajudou muito para irmos ao tsunami da Indonésia. Mas, nesta ocasião, viemos à Espanha sem o respaldo do governo. Na verdade, nem sequer pedimos, devido à urgência do operativo”, explicou El Chino.

Topos Aztecas e os irmãos Rubén e Izán

Durante sua estadia em Valência, o grupo dos Topos Aztecas participou de uma das buscas mais difíceis da tragédia provocada pelas chuvas torrenciais, que deixou mais de 220 mortos, além de desaparecidos e dezenas de milhares de desabrigados: a busca pelos irmãos Rubén e Izán, duas crianças de três e cinco anos, arrastados pela enchente após um caminhão de grande porte colidir contra sua casa, destruindo-a parcialmente e permitindo que a água entrasse de forma violenta.

O pai tentou salvá-los, mas a força da água os arrancou de suas mãos. “Essa busca me tocou especialmente porque me fez reviver uma tragédia quase idêntica ocorrida no México, em Guerrero, em 4 de abril de 2004, quando também buscamos e encontramos, já sem vida, dois irmãos de três e cinco anos. Um deles também se chamava Rubén. Essas coisas motivam a gente a trabalhar sem descanso, a não parar. Mas também nos inspira muito o comprometimento dos jovens voluntários espanhóis, que estão trabalhando incansavelmente. Eles são um exemplo”, explicou Méndez.

O grupo de resgatistas mexicanos inicia sua jornada às 9 da manhã, já vestidos e alimentados, para mergulhar na lama, entre carros e restos de casas e edifícios, em busca de alguma pista que os leve ao paradeiro das pessoas desaparecidas. Às vezes, a noite cai e eles não encontram nada. Em outros dias, têm sorte, graças à sua forma de rastrear e à sua experiência. “Mesmo que seja apenas para trazer algum alívio aos familiares, só isso já faz valer todo o esforço”, disse El Chino, que, apesar da idade, é sempre o primeiro a levantar e o último a dormir. Não à toa, ele é o “topo maior”.

Responsabilizações

Na semana passada, em um áspero debate parlamentar, a terceira vice-presidenta e ministra de Transição Ecológica do governo espanhol, a socialista Teresa Ribera, responsabilizou integralmente pela gestão das chuvas torrenciais que devastaram várias localidades no sudeste espanhol o presidente da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, do direitista Partido Popular (PP).

Ribera, que durante o desastre natural tinha as competências para zelar pelo funcionamento do sistema hídrico em todo o país, não havia explicado sua atuação durante aqueles dias, nos quais também não visitou a zona afetada.

A ministra compareceu ao Congresso dos Deputados para explicar sua gestão durante a crise da Depressão Isolada em Níveis Altos (DANA), pressionada pelo Parlamento Europeu, que condicionou sua iminente nomeação como vice-presidenta da Comissão Europeia (CE) à prestação de esclarecimentos ao Legislativo sobre sua atuação durante a tragédia.

A parlamentar havia se mantido em segundo plano e nem sequer havia respondido às duras críticas vindas de Valência e da oposição contra a Confederação Hidrográfica do Júcar (CHJ), que era responsável por monitorar infraestruturas tão sensíveis a este tipo de fenômeno, como o barranco do Poyo e a represa de Forata.

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Em sua intervenção, Ribera defendeu tanto a atuação da CHJ quanto da Agência Estatal de Meteorologia (AEMET), que, em sua opinião, alertaram as autoridades valencianas sobre a situação. Estas, por sua vez, teriam atrasado o alerta à população, o que resultou em uma tragédia maior, com mais de 220 mortos oficialmente registrados.

Segundo Ribera, os serviços de emergência da AEMET fizeram até 11 chamadas à Proteção Civil de Valência, e a CHJ enviou mais de uma centena de e-mails ao longo do dia 29, data do transbordamento. Mas – acrescentou – “de pouco serve ter toda a informação necessária se quem deve responder não sabe como fazê-lo”.

Ribera advertiu que “um país como o nosso precisa dedicar o máximo de recursos possível à gestão da água, tanto para os riscos de seca quanto para os de inundações. É importante distinguir entre as medidas destinadas a reduzir nossa vulnerabilidade e a desinformação, além da necessidade de atender à cartografia que indica as áreas inundáveis, especialmente as de maior densidade populacional.”

Desde a oposição, o PP e o ultradireitista Vox a acusaram de estar ausente durante essas três semanas de crise, nas quais não visitou a zona afetada nem fez nenhuma aparição pública, exceto por uma breve entrevista radiofônica.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Armando G. Tejeda Mestre em Jornalismo pela Jornalismo na Universidade Autónoma de Madrid, foi colaborador do jornal El País, na seção Economia e Sociedade. Atualmente é correspondente do La Jornada na Espanha e membro do conselho editorial da revista Babab.

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