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J.D. Vance | Reprodução X

Trump modera discurso na Convenção Republicana enquanto público anti-gay celebra ao som de YMCA

Ex-presidente foi nomeado pela Convenção Republicana como candidato à presidência dos EUA e comemorou decisão de juíza da Flórida que rejeitou acusações criminais contra ele
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Donald Trump, já no primeiro dia da Convenção Republicana, anunciou a escolha do senador federal por Ohio, J.D. Vance, como seu vice-presidente, um político de um dos estados industrializados no meio do país, que será chave para determinar a eleição presidencial nacional em novembro.

Vance apareceu diante dos milhares de delegados que gritaram entusiasmados no Centro Fiserv, a arena onde se realiza a Convenção, depois que se completou o processo no qual a delegação, uma por uma, dos cinquenta estados, se proclamou a favor de formalmente nomear Trump como seu candidato presidencial – o candidato aceitará a coroação na quinta-feira (18) ao fim dos quatro dias deste espetáculo.

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A mensagem da convenção, logo após a tentativa fracassada de assassinato na Pensilvânia (12), foi festiva. “Celebrate the good times, come on”, foi a canção semi-clássica que tocou na arena. Quase todos os oradores na convenção fizeram referência a como Deus salvou a vida de seu candidato e ao heroísmo de Trump durante a tentativa de assassinato.

“O diabo veio à Pensilvânia com um rifle, mas o leão americano o enfrentou”, declarou a senadora Katie Britt, do Alabama.

Na Flórida, Trump registra outra vitória

Trump também celebrou, sem intervenção divina, outra boa notícia: na Flórida, uma juíza federal rejeitou as acusações criminais de que Trump havia manejado de maneira imprópria documentos oficiais classificados. Entre os casos criminais enfrentados por Trump, este era o que tinha maior probabilidade de resultar em uma condenação. Mas a juíza, nomeada pelo então presidente Trump, declarou que o governo de Joe Biden havia cometido um erro na nomeação do promotor especial e, portanto, as acusações formuladas eram inválidas.

Mas a notícia mais esperada foi a nomeação de Vance. Em um anúncio distribuído por suas redes sociais (ex-Twitter), Trump reiterou o currículo de Vance, enfatizando seu serviço nos Marines, seu título de advogado pela Universidade Yale e sua experiência como investidor. As memórias best-seller do senador, “Hillbilly Elegy”, disse Trump, elogiam “os homens e mulheres trabalhadores de nosso país”.

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Vance “se concentrará firmemente nas pessoas pelas quais lutou brilhantemente, os trabalhadores estadunidenses e os agricultores na Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Ohio, entre outros”, escreveu o ex-mandatário ao apresentar seu companheiro de chapa — uma lista de estados que são considerados chave para determinar o resultado nacional das eleições em novembro.

Ao mesmo tempo, Vance será um campeão anti-imigrantes, que prometeu completar o muro fronteiriço de Trump e que se opõe a uma anistia para os migrantes indocumentados. Sob coros de “USA, USA” os delegados da convenção aceitaram a nomeação de Vance como candidato à vice-presidência.

Para além das bases…

Ninguém que veio a esta convenção duvidava dos resultados — tudo já estava decidido com exceção do companheiro de chapa do líder indisputável desse partido. Mas Trump e sua equipe também entendem que, ainda antes da tentativa de assassinato deste fim de semana (12-13), parte de sua tarefa agora é elaborar uma campanha para atrair eleitores além das bases incondicionais do partido.

A plataforma do partido adotada é uma das mais breves da história, com apenas 20 pontos centrais e a ausência das partes mais extremistas da retórica republicana sobre temas como o aborto, em que pela primeira vez em 40 anos, não se propõe uma proibição federal, ou o assalto violento ao Capitólio que poderiam afastar eleitores mais moderados.

“Este é um partido de bases, não é um partido para os ricos, é um partido do povo”, afirmou o presidente estadual do Partido Republicano de Iowa, Jeff Kaufmann, ao caracterizar a plataforma. “Este não é um programa para republicanos, é um programa para todos os americanos”. Ausente está a retórica clássica de “eles contra nós” que havia caracterizado a campanha republicana até agora, e em seu lugar, foi criada outra fórmula que gira em torno de declarar que as políticas do partido agora são de “bom senso” para todo o país.

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Mas para este público esmagadoramente branco, um dos momentos mais raros foi quando um par de oradores afro-estadunidenses — um vice-governador e um senador federal — afirmaram que “a América não é um país racista” arrancando ovações.

Imigração unifica discursos na Convenção Republicana

Um dos pontos de unidade que continua muito presente é o da imigração e os perigos do que chamam “fronteiras abertas”. Quase todos os oradores da noite denunciaram a política migratória de Joe Biden. “Biden deu as boas-vindas aos cartéis de droga e facilitou à organização criminosa no mundo”, declarou Bob Unanue, presidente de Goya Foods. A deputada direitista Marjorie Taylor Greene disse que “a economia dos democratas é para os migrantes ilegais”.

Leanna Derrick, uma delegada republicana à convenção do Novo México, comentou à La Jornada que sua preocupação primária é “a fronteira aberta” com o México.

Em entrevista, revelou que é a única delegada indígena de seu estado. Para sua delegação, a preocupação central é que o governo fracassou por completo em controlar a fronteira com o México. “É uma fronteira completamente aberta”, lamentou.

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Ela é só uma das esperadas 50 mil pessoas que chegaram a esta convenção (incluindo jornalistas), que já estão comprando mais bonés, camisetas e até sapatos com os lemas da campanha agora resumida em “Faça a América grande outra vez”.

Talvez o mais estranho tenha sido a trilha sonora da noite com uma banda oferecendo os êxitos de vários grupos clássicos — Creedence, Crosby Stills e Nash, entre outros — que em seu tempo expressavam tudo o oposto do que defendem esses republicanos.

Mas a canção que mais animou os milhares de militantes de um partido explicitamente anti-gay, que ouviram declarações esta noite proclamando que só há dois gêneros, foi “YMCA” do grupo Village People — que é um hino gay.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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