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Universidades e parques nacionais lideram protestos contra Trump nos EUA 

Estudantes, ambientalistas, imigrantes e trabalhadores federais se unem em protestos contra Trump e suas políticas autoritárias, ocupando universidades, parques nacionais e as ruas dos EUA
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Mais de 300 manifestantes tomaram de surpresa o térreo da Torre Trump, na Quinta Avenida, na manhã desta quinta-feira (13), exigindo a libertação de um estudante universitário palestino. 

Eles colocaram uma faixa com os dizeres: “Judeus, liberem Mahmoud, por uma Palestina livre”, em uma ação convocada pela organização Voz Judaica pela Paz. O protesto faz parte de uma série de mobilizações desencadeadas após a ordem pessoal de Donald Trump de deter e deportar estrangeiros que participam de protestos contra a política dos Estados Unidos de apoio a Israel.

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As manifestações nas ruas e universidades contra o “sequestro” político do estudante palestino Mahmoud Khalil fazem parte de outras expressões de resistência contra o governo de Trump, que se multiplicam em várias partes do país. 

Entre elas estão desde ações não violentas em concessionárias da Tesla, empresa de Elon Musk, até desfiles de imigrantes em desafio e repúdio — em diversos idiomas e com várias bandeiras — às medidas contra suas comunidades. 

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Protestos contra Trump se espalham

Também há comícios e marchas de trabalhadores federais em parques nacionais, denúncias e processos movidos por advogados e sindicatos acadêmicos sob ataque do governo, além de jornalistas, defensores das liberdades civis e alguns políticos que se atrevem a convocar a oposição à Casa Branca.

As manifestações e outros atos de denúncia, ainda em estágio inicial, são por ora expressões fragmentadas. No entanto, a resposta aos ataques lançados pelo governo de Trump é ampla, já que diversos setores sentem os efeitos da agenda direitista que está sendo implementada de maneira acelerada.

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Os primeiros a sair às ruas contra o novo regime foram os mais vulneráveis: os imigrantes. Em Los Angeles, Chicago e cidades do Texas, Flórida, Geórgia e outros estados, a revolta contra a ofensiva anti-imigração lançada por Trump desde o primeiro minuto em que chegou ao poder se manifestou em marchas, comícios e campanhas de conscientização sobre os direitos dos imigrantes, que também buscam apoio de potenciais aliados.

O caso do estudante da exclusiva Universidade Columbia se tornou um dos eixos do debate sobre os direitos à liberdade de expressão no país. A polêmica se intensificou diante das ameaças de Trump de reduzir os fundos de universidades que não reprimam protestos contra suas políticas.

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Sindicato se soma às manifestações

O sindicato United Auto Workers (UAW), que além de representar trabalhadores da indústria automotiva também inclui 100 mil trabalhadores acadêmicos, se somou aos protestos contra os ataques de Trump às universidades. Seu presidente, Shawn Fain, declarou:

“Por nossa longa tradição de protestos, apoio à paz internacional e compromisso com a educação para todos, o UAW condena nos termos mais enfáticos as ações do governo de Trump para cortar o financiamento federal de pesquisas, deter, intimidar e deportar estudantes e atacar os direitos da Primeira Emenda [liberdade de expressão] de nossos membros.”

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Ele enfatizou ainda:

“Nunca apoiaremos prisões em massa ou a intimidação daqueles que exercem seu direito de protestar, fazer greve e denunciar injustiças.”

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Apoio a causa palestina

Milhares de estudantes solidários com a causa palestina e defensores da liberdade de expressão têm se manifestado nos últimos três dias em Nova York, e os protestos começam a se espalhar por outras cidades. Enquanto isso, organizações de defesa dos direitos humanos e das liberdades civis denunciam os abusos da nova política de Trump. 

Por outro lado, enquanto a liderança e grande parte do Partido Democrata se destacam pelo silêncio ao enfrentar Trump e seus aliados republicanos, alguns políticos se atrevem a condenar suas políticas drásticas de cortes severos no orçamento federal e na força de trabalho.

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Além disso, denunciam a anulação da capacidade de agências federais responsáveis por áreas como saúde, ciência, meio ambiente, regulação e monitoramento da corrupção. 

Também alertam para o que suspeitam estar por trás dessas ações: uma tentativa de privatizar setores estratégicos e utilizar os mecanismos do poder para enriquecer uma cúpula de multimilionários, incluindo a família presidencial.

Bernie Sanders

A figura de maior destaque na oposição continua sendo o senador socialista democrático Bernie Sanders, que está percorrendo o país em uma campanha para “barrar a oligarquia”. Os fóruns organizados por ele atraem milhares de pessoas em busca de expressões de resistência e respondem à sua mensagem: “O povo deste país não permitirá que avancemos rumo a uma oligarquia. Não permitirá que Trump nos leve ao autoritarismo. Estamos preparados para lutar. E vamos vencer.”

Essas palavras foram repetidas por Sanders diante de cerca de 10 mil pessoas que compareceram para ouvi-lo em Warren, Michigan, uma das paradas de sua turnê.

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A prefeita de Boston, Michelle Wu, condenou as medidas anti-imigrantes do novo governo e recusou-se a colaborar com a Casa Branca. Durante uma audiência pública, enviou uma mensagem a todos os residentes de sua cidade — uma das mais seguras do país e onde um quarto da população é formada por imigrantes. Como filha de imigrantes, declarou: “Este é seu lar… você pertence a este lugar.”

Ela repetiu a mensagem em espanhol, chinês e outros idiomas.

Outros deputados também denunciam

O deputado federal Jesús “Chuy” García, junto a alguns colegas, denunciou as ameaças de Trump de promover operações de imigração em suas cidades. “Chicago é uma cidade de imigrantes, fundada por imigrantes. É uma cidade onde as famílias vêm para construir uma vida melhor, assim como a minha fez há 60 anos.

Por isso, lutei para fazer de Chicago uma cidade santuário, a primeira do país”, afirmou. Ele acrescentou: “Trump não dirá à cidade de Chicago o que fazer.”

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A governadora de Maine, Janet Mills, confrontou diretamente Trump na Casa Branca ao afirmar que não respeitaria suas medidas para anular programas de diversidade e a proibição da participação de pessoas trans nos esportes. Trump retrucou que ela deveria cumprir as ordens, pois “somos a lei federal”, ao que ela respondeu:

“Nos vemos nos tribunais.”

Artistas também criticam Trump

Artistas de Hollywood e Nova York, nos mundos do teatro, da música e da comédia, também expressam críticas às políticas que consideram racistas, xenofóbicas, anti-LGBTQIA+ e misóginas. Após Trump ordenar a troca da diretoria do Centro Kennedy e colocar a instituição sob seu controle direto, a produção do famoso musical Hamilton, da Broadway, criado por Lin-Manuel Miranda, anunciou o cancelamento de sua temporada naquele espaço.

Talvez a parte mais inesperada da resistência tenha se manifestado nos grandes parques nacionais dos Estados Unidos, como Yellowstone e Yosemite. Guardas florestais, funcionários dos parques, suas famílias e frequentadores organizaram marchas e protestos sem precedentes contra as demissões em massa e os cortes no financiamento anunciados pelo novo governo. 

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De repente, faixas gigantescas contra as medidas foram penduradas nas montanhas, bandeiras dos Estados Unidos foram hasteadas de cabeça para baixo — um antigo sinal de emergência — e protestos foram realizados, segundo organizadores, em mais de 130 parques nacionais e monumentos.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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