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Vencer fascismo demanda mudar o caminho. Para isso, precisamos de uma Revolução

Nenhum país do mundo o sistema capitalista pode solucionar os problemas históricos de qualquer injusta sociedade de classes
Marcelo Colussi
Prensa Latina
Cidade da Guatemala

Tradução:

Desde a queda do campo socialista na Europa com a desintegração da União Soviética, e junto a isso a inclusão de mecanismos capitalistas na República Popular da China (com seu peculiar “socialismo de mercado”), mais os planos neoliberais destas últimas décadas – capitalismo selvagem sem nenhuma moderação, sem anestesia – que vêm se impondo desde os anos 80 do século passado, o campo popular de todo o mundo vem sofrendo grandes golpes.

A última revolução com ar socialista, com as massas tomando as ruas e desalojando a classe dominante (veja-se que isto não foi uma “negociação”, modalidade hoje tão na moda: consistiu em uma tomada revolucionária do poder) – a última revolução, dizíamos – foi a da Nicarágua, em 1979, com os sandinistas desalojando a ditadura dos Somoza.

A partir daí o sistema global, sempre capitaneado pelos Estados Unidos, soube reacomodar-se muito bem. Por meio de todo tipo de mecanismos – sistemático bombardeio ideológico-cultural, sanguinárias ditaduras militares com montanhas de cadáveres e rios de sangue, desarticulação da organização popular, planos neoliberais que precarizaram brutalmente as condições de trabalho e de vida – a ideia de revolução socialista foi saindo de cena. O avanço ideológico da direita foi terrível, por isso até nos fez querer acreditar que a luta de classes – conceito fundamental para o pensamento marxista – tinha desaparecido.

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Claro que em nenhum país do mundo o sistema capitalista pode solucionar os problemas históricos de qualquer injusta sociedade de classes, ainda que mostre a opulência de algumas cidades carregadas de vitrines repletas como símbolo de esplendoroso “triunfo”. A realidade do mundo continua sendo desnutrição, ignorância, marginalidade, déficit habitacional com a consequente marginalização, preconceitos que invalidam, repressão dos opressores sobre os oprimidos, desastre no meio ambiente, racismo e patriarcado mal dissimulados com discursos “politicamente corretos”, multidões de imigrantes irregulares que fogem desesperados, guerras por toda parte.

A sensação de triunfo da direita foi tão grande depois da queda do Muro de Berlim que nós, do campo popular e das esquerdas, ficamos em choque.

Hoje essa avalanche da direita conservadora não cessa. O neonazismo está instalado em muitos lugares. Ainda que se fale interminavelmente de direitos humanos, liberdades e democracias – todas altissonantes palavras vazias no discurso capitalista – a situação real é de aprofundamento da submissão, da exploração, da injustiça, do retrocesso social. Ao que deve somar-se um discurso conservador no plano ético, com elementos religiosos, que em contraposição a conquistas já obtidas pelo avanço dos povos, mostram que o pensamento retrógrado continua muito vigente.

A direita cresce. Diferente de décadas passadas, durante os anos 60 e 70 do século passado, por exemplo, quando havia uma atitude quase rebelde com elementos contestatários que cruzavam a sociedade global em diversos campos, hoje assistimos a um pensamento niilista, conservador, desesperançado. Vemos isso em diferentes países com posições cada vez mais recalcitrantes e ultraconservadoras por parte das classes dominantes, expressas por meio de seus partidos políticos da vez.

Nenhum país do mundo o sistema capitalista pode solucionar os problemas históricos de qualquer injusta sociedade de classes

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Se as pessoas votam em candidatos de ultradireita, é porque o bombardeio midiático com um anticomunismo visceral não deixa de estar presente

É uma tendência que pode ser vista em todo o mundo. Em muitas nações europeias governam administrações abertamente adeptas do nazismo, com posições repugnantemente xenófobas e de supremacismo branco.

Na Itália acaba de ganhar as eleições um partido fascista, com posições similares às de Benito Mussolini décadas atrás. Na Rússia, agora enrascada em um terrível conflito bélico, impôs-se uma tendência que faz desandar tudo o que foi construído durante a União Soviética, premiando a riqueza pessoal, o retorno a posições clericais e com estímulo à homofobia. Nos Estados Unidos, tudo indica que muito provavelmente possa voltar à presidência um neofascista como Donald Trump, que se permitiu falar de “países de merda” referindo-se a territórios do Sul.

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Se bem em vários países latino-americanos nestes últimos tempos ganharam as eleições presidenciais candidatos de centro-esquerda, de uma esquerda moderada (López Obrador no México, Luis Arce na Bolívia, Gustavo Petro na Colômbia, Pedro Castillo no Peru, Xiomara Castro em Honduras, Alberto Fernández na Argentina, Gabriel Boric no Chile), em todos estes contextos as direitas não permitem uma maior margem de manobra. Direitas radicais, racistas, conservadoras, em muitos casos próximas aos postulados religiosos de “deus, pátria, família” e atacando a diversidade sexual, tomam a palavra. Melhor: intimidam.

Mas o que se pode esperar das direitas? Embora em alguns momentos possam permitir-se certas liberdades e uma ou outra concessão (“capitalismo de rosto humano”, por exemplo), o pensamento conservador é isso: terror frente à mudança. O gatopardismo é uma estratégia disso. Preocupa que agora esse conservadorismo esteja se radicalizando e atacando mais do que antes. O que é uma demonstração de que o sistema em seu conjunto só pode se manter na base de fechar-se sobre si mesmo.

Se as pessoas votam em candidatos de ultradireita – Bolsonaro no Brasil ou Macri na Argentina, por exemplo, ou Vox na Espanha, ou votam NÃO à mudança constitucional no Chile – é porque o bombardeio midiático com um anticomunismo visceral não deixa de estar presente. Os valores tradicionalistas de um falso nacionalismo, homofóbicos, clericais, hiper conservadores no campo econômico, xenofóbicos, impõem-se cada vez mais.

A única solução possível não são governos “menos de direita”: a única solução à vista é mudar de direção.

(Tomado de Firmas Selectas)
Marcelo Colussi, colaborador do Prensa Latina, direto da Cidade da Guatemala.
Tradução: Ana Corbisier.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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