Na manhã do último domingo (17), o presidente da França, Emmanuel Macron, que chegou a Buenos Aires junto com sua esposa Brigitte, visitou a emblemática Igreja da Santa Cruz para render homenagem às duas freiras francesas Léonie Duquet e Alice Domon, sequestradas junto às três mães fundadoras da Praça de Maio e outras cinco vítimas desaparecidas durante a ditadura militar argentina (1976-1983), rodeados por seus familiares e pelo Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel.
Uma oferenda floral foi colocada no jardim que rodeia a Igreja, onde estão as cinzas de Duquet e das mães Azucena Villaflor, Esther Ballestrino de Careaga e María Ponce de Bianco, cujos cadáveres foram encontrados anos mais tarde enterrados como NN (não identificados) em vilarejos da Costa Atlântica por moradores locais, e que somente em 2004 foram identificados pelo grupo Argentino de Antropólogos Forenses.
Tanto Pérez Esquivel quanto familiares das mães, entre eles Ana María Careaga, conversaram com Macron, enquanto sua esposa, Brigitte, se mostrou profundamente emocionada.
Careaga explicou ao mandatário a política de Direitos Humanos das Mães e Avós da Praça de Maio, das vítimas sobreviventes e dos familiares que, lutando por Verdade, Memória e Justiça, desenvolveram um método criativo de resistência e formaram “um pacto civilizatório”. Essa luta resultou na condenação dos autores materiais em julgamentos justos pelos crimes de lesa-humanidade que cometeram.
Também expressaram sua preocupação com as tentativas de desmantelamento dos centros clandestinos de detenção e extermínio, além de outras medidas que implicariam um enorme retrocesso.
Deputados do partido governante La Libertad Avanza (LLA) estão tentando libertar os condenados por esses crimes e os visitaram na prisão de Ezeiza. À frente dos detidos está o ex-capitão da Escola de Mecânica da Armada (ESMA), Alfredo Astiz, que, quando jovem, infiltrou-se em 1977 fingindo ser uma vítima e, no fatídico 8 de dezembro daquele ano, identificou as mães e outras pessoas ao beijá-las, entregando-as ao grupo criminoso de Tarefas da Armada. Essas pessoas foram posteriormente torturadas e, ainda vivas, lançadas ao mar.
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A visita à Igreja foi organizada pelo embaixador francês na Argentina, Romain Nadal, e analistas consideram que a presença de Macron no local é uma mensagem de apoio às famílias e à luta por memória, verdade e justiça, que estão sob intenso ataque do governo ultradireitista de Javier Milei.
Mais tarde, enquanto Macron e Milei se reuniam na Casa Rosada, familiares e amigos de franceses desaparecidos apareceram com cartazes em francês pedindo justiça e solicitando que Macron exigisse do mandatário argentino o fim dos ataques aos organismos de Direitos Humanos.
Durante o encontro entre ambos os presidentes, ficaram evidentes divergências em temas como mudanças climáticas, que Milei atribui a uma “construção dos canhotos (da esquerda)”, negando as advertências sobre a destruição do meio ambiente.
Macron afirmou que deixou claro ao presidente argentino que seu governo não assinará o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul “tal como está” e pediu uma renegociação para encontrar um modelo aceitável para todas as partes. Macron também mencionou que constatou que há “vários países” do bloco sul-americano insatisfeitos com o acordo, incluindo o governo de Milei.
Milei se opõe abertamente ao acordo e ao funcionamento do Mercosul, mantendo uma posição decididamente contrária à da maioria dos países da América Latina.
A preocupação de Macron é que o acordo com o Mercosul seja nocivo para a França, especialmente para sua agricultura, mostrando preocupação com a possível chegada de carne tratada com hormônios e antibióticos, além de outros produtos que “não respeitam os mesmos critérios” europeus.
Macron também debateu com Milei possíveis investimentos no lítio, avanços em contratos de defesa e suas divergências. Milei teria confirmado a possibilidade de não cumprir os Acordos de Paris sobre o clima.
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