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ToggleUma campanha eleitoral é um conjunto de ações e momentos políticos. Às vezes depende do acaso e do imprevisível, mas, em geral, parte de um momento histórico ou um ciclo, como o aberto pelo bolsonarismo –consequência direta do golpe parlamentar-jurídico de 2016 e da guerra jurídica e política da Lava Jato. Estes, fatores determinantes para a vitória de Jair Bolsonaro (PL).
A atual campanha está conformada pelo desastre econômico dos 6 anos de governos de direita, que começou com a “Ponte para o Futuro”, que criou as bases para as contrarreformas de Paulo Guedes.
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Em disputa, temos a força do PT, sob a liderança de Lula (PT), que tem sua luz própria e apoio popular, e as forças de direita, inclusive a liberal-democrática que se aliou à extrema-direita bolsonarista no golpe de 2016 e na vitória de 2018.
Lula e o PT não são forças políticas e sociais transitórias ou momentâneas como também não o é o bolsonarismo. São expressão de contradições e conflitos de classe e interesses que têm marcado nosso Brasil nas últimas décadas.
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Exemplo disso é que o PT, que parecia ter sido definitivamente derrotado durante a Lava Jato, disputou as eleições de 2018 com Lula preso e Fernando Haddad obteve 32 milhões de votos. Os 3 candidatos progressistas daquelas eleições presidenciais responderam por 42,5% dos votos no 1º turno, repetindo 1989 quando Lula, Brizola e Covas obtiveram 45%.
Depois de quase 4 anos de governo, houve um realinhamento de parte das forças políticas de direita que apoiaram Bolsonaro, expressando a mudança na base social de seus partidos. Há, de fato, uma oposição de direita a Bolsonaro, mas não à sua política econômica. Contudo, esses partidos pagam o preço moral por terem apoiado o impeachment, suportado a candidatura de Bolsonaro e mesmo o apoiado durante parte de seu governo.
O resultado é que as candidaturas de centro-direita da chamada 3ª via não decolaram. Simone Tebet, apoiada pelo MDB-PSDB-Cidadania, patina de 3% a 4% a um mês das eleições. Muito longe do que pretendiam o grande empresariado e as forças políticas e sociais que deram o golpe e hoje se opõem a Bolsonaro.
Portanto, não há uma alternativa de direita a Lula e tudo que representa: um programa de melhoria das condições de vida do povo, de distribuição de renda, de retomada das conquistas sociais da Constituição de 1988, de defesa firme dos princípios democráticos e da soberania do Brasil. E, certamente, a capacidade de derrotar Bolsonaro e seu autoritarismo, seu desgoverno, sua incompetência para governar.
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Em 2018, quando Lula ainda aparecia nas pesquisas como candidato, antes de ser impedido pela Suprema Corte por pressão aberta das Forças Armadas, das elites empresariais e da mídia corporativa, ele tinha de 43% a 45% das intenções de voto e Bolsonaro, de 36% a 37%, muito próximos do que indicam as pesquisas da atual campanha eleitoral para a Presidência.
Logo, nada de conclusões apressadas sobre o atual embate eleitoral e político. Nada de avaliações que pretendem ser definitivas com base em só uma ou outra pesquisa, em debate eleitoral ou em uma iniciativa do governo.
![Comunicação da campanha tem que estar atenta ao material de propaganda, ao programa eleitoral e à orientação por meio das redes sociais](https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/wp-content/uploads/2023/10/a801bbca-8442-4591-83fd-a95bb7772420.png)
Poder 360
Não vamos nos esquecer do ataque digital via redes e da mobilização das igrejas neopentecostais na última semana da eleição de 2018
O que importa
O que conta na eleição atual em 1º lugar são os fatos. Lula e o PT são realmente opção de governo, mais ainda com Geraldo Alckmin (PSB) de vice e o apoio de 9 partidos: PT, PSB, PV, Rede, Psol, PC do B, Solidariedade, Avante e Pros. Sem falar no apoio de grande parte do MDB, parte do PSDB e PSD, com uma força eleitoral que se expressa nas pesquisas.
Vencer ou não uma eleição, mais ainda no 1º turno, não é uma tarefa simples e não depende só do momento e da conjuntura. Depende sobretudo da campanha como um todo. Portanto, o foco deve ser na disputa política e eleitoral que ela representa, com a complexidade que ganhou com as redes e o bolsonarismo de raiz, conservador e religioso, sempre ameaçando a democracia, as urnas, o calendário eleitoral, a posse, apelando para as Forças Armadas e para a violência política.
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Se é verdade que o Nordeste e o Sudeste, por serem maioria no eleitorado, podem decidir a eleição, também é verdade que Estados como o Maranhão, Pará, Amazonas podem dar vitória a Lula mesmo no 1º turno. Um empate no Centro-Oeste e Norte pode decidir a eleição.
Isso significa que é preciso cuidar da campanha nesses Estados e dos palanques, já que há uma tendência das forças políticas de centro-direita de não se comprometer abertamente com a candidatura de Bolsonaro. Fenômeno igual ocorre no Sul do país, onde não há mais a ampla vantagem de Bolsonaro.
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Nada mais importante numa campanha, como a coligação que apoia Lula, que a militância e os ativistas, os eleitores que fazem campanha, defendam seu candidato. Assim como o estado de ânimo, o nível de informação e as condições para eles fazerem campanha também são de fundamental importância. A comunicação da campanha tem que estar atenta ao material de propaganda, ao programa eleitoral e à orientação por meio das redes sociais.
Não vamos nos esquecer do ataque digital via redes e da mobilização das igrejas neopentecostais na última semana da eleição de 2018, fora o derrame de dinheiro.
A importância das redes é fato desde 2008, quando Obama quase perdeu as eleições se não reagisse às fake news e ao domínio das redes pelo adversário. Depois disso, os mecanismos de uso das redes para fins eleitorais se sofisticaram, com campanhas direcionadas a perfis de eleitores e disseminação de notícias falsas patrocinadas. Tivemos o Brexit e a eleição de Trump em 2016.
Por aqui, continuamos, a maioria de nós, a fazer campanha eleitoral com os velhos parâmetros da comunicação eletrônica de massa, dormindo em berço esplêndido, até que os Carluxos da vida nos despertaram em 2018. O fator Janones na campanha atual de Lula diz tudo sobre a importância das redes.
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As pesquisas são uma fotografia do momento, de tendências, assim como os debates são importantes. Estes, no entanto, em minha opinião, não serão decisivos nessa campanha e nessa conjuntura. Há fatores estruturais e do momento político que indicam uma vitória de Lula seja no 1º ou no 2º turno.
O que realmente conta é a campanha e a mensagem do legado de nossos governos e de nossas propostas para o futuro, nossa capacidade de mobilização e as alianças políticas sejam partidárias ou sociais, a defesa intransigente da democracia e da superação do ódio e da violência, das ameaças à legalidade, o fim do negacionismo, do obscurantismo e da exploração da fé de nosso povo.
Temos que defender a agenda do povo, seus direitos sociais revogados ou ameaçados, o crescimento com distribuição de renda, a valorização do salário mínimo, a reforma tributária progressiva, a prioridade para a educação e a ciência e tecnologia, a reindustrialização do país, o fim da fome e do desmonte da rede de proteção social, o SUS (Sistema Único de Saúde), os interesses nacionais e a volta do Brasil à cena mundial liderando a luta em defesa do meio ambiente e retomando a integração sul americana.
José Dirceu | Ex-ministro e ex-deputado federal.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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