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Foto: Dina Boluarte / X

38 anos após Matança dos Penais, fascismo avança para recuperar poder no Peru

O que falta ao fascismo no Peru, porém, é ganhar a vontade cidadã, que cada vez mais tem se situado na calçada oposta aos seus planos sinistros
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Recentemente, no passado 19 de junho, se cumpriu o 38º aniversário da Matança dos Penais, uma das expressões mais nítidas do fascismo no Peru.

A luta dos povos contra essa sinistra deformação do domínio do capital financeiro começou há muito tempo. Remonta suas origens nos anos finais da primeira década do século 20, e depois é exportada à Itália, quando assomou como ferramenta destinada a aplastar os trabalhadores e impedir que a Onda Revolucionária dos anos 1920, inspirada na gesta russa de 1917, acabasse com a sociedade capitalista e mudasse a face da terra implantando um regime mais humano e justo, o socialismo

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Convenhamos que o fascismo não é uma ideologia, mas uma forma de ação. Veremos então que as primeiras expressões da bestialidade do fascismo se registraram na Hungria e na Bulgária. 

No primeiro destes países, quando foi derrubada a Revolução dos Crisântemos de Conde Karoldy e Bela Kun, em 1920. 20 mil operários foram brutalmente perseguidos e assassinados para escarmentar aqueles que haviam tido a ousadia de buscar um caminho novo para sua pátria. Mariátegui denunciou estes apavorantes crimes. 

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E na Bulgária a história não foi diferente. O governo camponês da União Agrária Popular Búlgara foi derrocado em junho de 1923, e seu líder principal, Aleksandar Stamboliysky, assassinado pelas nascentes hordas de um fascismo forjado em um militarismo feroz. Mas desse fogo macerado em sangue brotou uma figura da história: Georgi Dimitrov, nascido em 1882, na aldeia de Rodomir. 41 anos depois, encabeçou a primeiro insurreição antifascista da história em setembro de 1923. A derrota do movimento não foi em vão. 

A Conferência de Vitosha

Após a Conferência de Vitosha, em agosto do ano seguinte, gerou-se um valoroso núcleo de revolucionários que se jogou pelo destino de seu povo em meio a uma tormentosa confrontação de classes. 

Dez anos mais tarde, em 1933, no Processo de Leipzig, o búlgaro se enfrentou a Goering, o Chefe do Reichstag, e pôs ridicularizou o domínio nazista. Desmascarou os verdadeiros incendiários do Parlamento Germano e saiu dos cárceres do fascismo para dirigir o 7º Congresso da Internacional Comunista, que elaborou a estratégia que haveria de derrotar a Alemanha Nazista. Seu caminho de vitória não se deteve, e em 1947 assumiu o governo de seu país. Dois anos mais tarde, em 2 de julho de 1949, passou à eternidade.

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Entre 1939 e 1945, a luta tomou outros caminhos. Milhões lutaram com as armas na mão para enfrentar o fascismo. A Rússia Soviética e o Exército Vermelho desempenharam o papel principal e venceram.  

Experiências fascistas no Peru

Os peruanos tivemos experiências duras também com o fascismo. Talvez seus antecedentes mais remotos tenham estado nas denúncias do “complô comunista” dos anos 1927 e 1929, que serviram para encarcerar Mariátegui, mas sua expressão mais dramática veio depois: 

O surgimento das Camisas Negras da União Revolucionária de Luis A. Flores; o tratamento à greve mineira de 1930; o massacre de Malpaso e a ilegalização da CGTP; a habilitação de Campos de Concentração na selva de Madre de Dios, disposta por Samanez Ocampo; o regime de Benavides; os Tribunais Militares e a Lei 8505.

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Mais tarde, viriam outras. É que o fascismo no Peru contou com a adesão de personalidades destacadas como José de la Riva Agüero y Osma, algo como o italiano Giovani Gentile daqueles anos à sombra de Mussolini.  

Mas certamente o fascismo logrou elaborar seu próprio jogo sob o regime neonazista de Alberto Fujimori, na última década do século passado. Usou a violência terrorista alentada pelos serviços secretos yankees para apresentar-se como um “instrumento de paz”, e se valeu dos organismos financeiros internacionais para enfrentar a crise econômica criada pelo primeiro governo de Alan García. A partir daí se dedicou à pilhagem e ao saque, mas também à repressão selvagem contra o povo.

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Na atual conjuntura, o fascismo toma corpo e se dispõe a recuperar o Poder. Pensa que lhe foram apresentadas as condições necessárias para esse efeito, e se empenha em uma batalha sem quartel contando com uma super aliança: as direções dos partidos de ultradireita, a maioria parlamentar espúria, o empresariado, a cúpula militar corrupta e a “Grande Imprensa” somam forças e buscam arrasar com tudo. Bem poderia dizer-se que a ofensiva que implanta os coloca às portas de seus objetivos mais apreciados.

sequestrar poder

O que lhes falta é ganhar a vontade cidadã, que crescentemente tem se situado na calçada oposta aos seus planos sinistros. Não obstante, há ainda confusões e despistes. Há ainda aqueles que, colocados entre a Fujimori e o Promotor Domingo Pérez, se situam do lado de Keiko; e postos a escolher entre Patricia Benavides e a Junta Nacional de Justiça, optam pela primeira, e ofendem a segunda. 

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Ocorre que não têm a menor ideia de qual é, em cada circunstância, o perigo principal. Julius Fučík, um valoroso comunista checo assassinado em 8 setembro de 1944, nos disse há 80 anos: “Não temais a ninguém, só ao Fascismo…!”. E, aliás, a razão lhe assistiu nessa circunstância. É esse perigo que se deve combater.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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