A Fundação Centro Carter (CC), organização não governamental fundada em 1982 pelo ex-presidente democrata Jimmy Carter, pronunciou-se na noite da última terça-feira, 30 de julho, a respeito dos resultados das eleições presidenciais na Venezuela em 28 de julho.
Segundo o comunicado, o evento “não se adequou a parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerado democrático”, uma opinião mais inclinada para o espectro político do que para o técnico, já que a entidade não completou seu processo de auditoria e saiu do país antes que se cumprisse a totalidade dos prazos estipulados no cronograma eleitoral.
O pronunciamento do CC poderia ser considerado deliberado e inconsistente, destinado a fortalecer a campanha em curso de orquestração política e de comunicação cujo objetivo fundamental é deslegitimar a jornada de 28 de julho e os resultados emitidos pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) na arena internacional. Desta forma, contribui para a aceleração de condições para intensificar o cenário de mudança de regime na Venezuela.
Ponto por ponto, estas são as debilidades mais relevantes do texto mencionado:
- Em princípio, o pronunciamento buscaria reeditar na Venezuela o método aplicado nas eleições presidenciais da Bolívia em 2019 pela Organização de Estados Americanos (OEA), encabeçada pelo ex-chanceler uruguaio e atual secretário, Luis Almagro. Seu conteúdo traz elementos de confusão e deslegitimação para aguçar a agenda de golpe.
- A organização não completou seu processo de “observação” na Venezuela. Apressou sua saída do país sem que culminassem as fases pendentes da etapa pós-eleitoral, segundo o cronograma estipulado e acordado entre o CNE, acompanhantes internacionais e todas as partes. O CC critica alguns passos das eleições e faz acusações sem aprofundar os fatos que relata.
- Ainda que o CNE e o governo venezuelano tenham informado sobre os ataques à plataforma do ente reitor, a declaração do CC não menciona isso. Não registraram este elemento como parte de suas considerações. Tal omissão contribui para tornar essa circunstância grave, invisível, em torno ao processo eleitoral de 28 de julho.
- A pressa e o fato de as “observações” da organização estarem incompletas transformam o pronunciamento em um registro parcial da eleição. Ainda que tenha deslocado 17 especialistas e auditores a partir de 29 de junho passado, como diz o comunicado, a declaração não tem um caráter objetivo, nem técnico.
- O CC, por exemplo, não qualifica como falta eleitoral a publicação de escrutínios pela oposição. Mediante esta tática, e coerente com a decisão de não assinar o Acordo de Reconhecimento de Resultados proposto pelo CNE no início da campanha, a Plataforma Unitária Democrática (PUD) busca gerar conclusões paralelas e aumentar a pressão necessária para perturbar o processo. Neste sentido, o CC busca estimular a crise ao emitir a declaração simultaneamente com esta estrutura paralela de contagem, controlada por María Corina Machado.
- O CC tem entre seus princípios o reconhecimento de que “resolver problemas difíceis requer uma análise cuidadosa”; no entanto, na Venezuela, os alentam mediante uma leitura enviesada da realidade. Em lugar de esperar, reunir mais dados e estabelecer vias de comunicação com os entes institucionais, optaram por injetar combustível no conflito a favor dos fatores de oposição.
- Esta organização depende de seu “prestígio” já que, durante experiências anteriores, contribuiu para encaminhar a estabilidade política na Venezuela. Nesta ocasião, indica “incidentes de tensão ou violência reportados em algumas localidades” sem especificar da parte de que grupo político. A interrupção da observação do processo deveria significar o fim de sua credibilidade em matéria eleitoral em todo país que cogite convidá-los.
- Depois de afirmar que “a observação parte do máximo respeito à soberania da República Bolivariana da Venezuela e só pretende contribuir para a paz e a melhora de seus processos eleitorais”, o CC se torna partícipe de ações que, em outros países, derivaram em situações de conflito prolongado. A omissão sobre o plano de desconhecimento de resultados que se preparava durante a campanha eleitoral, de que participaram meios de comunicação internacionais, não pode ser considerada espontânea.
O presidente Nicolás Maduro, em uma coletiva de imprensa internacional posterior a assistir ao Tribunal Superior de Justiça, perguntou ao CC quantos comunicados publicaram depois das eleições dos Estados Unidos em novembro de 2020, quando o então presidente e candidato à reeleição, Donald Trump, denunciou fraude contra si, supostamente executada pelo Partido Democrata e seu candidato, o atual presidente Joe Biden.
A resposta é mais que óbvia a esta pergunta: o CC respondeu a ela com seu silêncio.