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Foto: Presidência da Colômbia / Flickr

Políticas sociais e diplomacia foram maiores acertos do Governo Petro, diz especialista

Medidas de Petro buscam "transitar para formas de relacionamento solidárias, coletivas e de ajuda mútua", afirma o analista político Federico García
Ivette Fernández Sosa
Prensa Latina
Bogotá

Tradução:

Ana Corbisier

Em 7 de agosto de 2022 abriu-se um novo capítulo para a nação sul-americana em que se buscariam, por fim, as reivindicações de que operários, camponeses e a maioria de origem humilde necessitava com urgência em um país considerado um dos mais desiguais nas Américas.

Assim tinha prometido em campanha o líder do partido político Colômbia Humana em discursos inflamados, o que a posteriori lhe granjeou o aval mais alto conseguido por um candidato presidencial na história, com 11 milhões e 281 mil votos.

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A dois anos deste êxito, justo na metade de seu mandato, Petro estima que a maior de suas conquistas é ter tirado 1,6 milhão de pessoas da pobreza durante o ano passado em comparação com 2022, o que representa uns 10% menos da população afetada por este flagelo.

Conquistas de metade do mandato

Para o politólogo, professor e analista político Federico García, o maior acerto do governante deu-se em política social, e na mudança de prioridade em função de reduzir as brechas de desigualdade. Em segundo lugar, situou as relações internacionais, nas quais foi construída uma política independente, soberana e em função dos interesses da Colômbia e da região.

No aspecto econômico, o especialista argumentou que, embora o modelo continue sendo o mesmo, ostenta uma série de intervenções estatais muito importantes. Sobretudo, afirmou, propôs-se o debate sobre a necessidade de superar a hegemonia do modelo econômico ideológico neoliberal e transitar para cenários de justiça social e de construção de um estado social de direito.

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“As políticas do governo claramente têm um verniz socialdemocrata, que buscam mudar esse enfoque do privado para o público e abrir o debate devido ao quão caduco estava o modelo neoliberal individualista e transitar para formas de relacionamento solidárias, coletivas e de ajuda mútua”, comentou para Prensa Latina.

Novos eixos de referência

Por sua vez, o docente e líder sindical José Arnulfo Bayona opinou que aos aspectos da política internacional devem ser acrescentados como eixos de referência nestes dois anos já percorridos, sobretudo o que se refere à proposta de substituir os combustíveis fósseis por energias limpas.

Enumerou outros como a proposta de paz total, o incremento do orçamento para educação, a limpeza das cúpulas das forças militares e policiais; e a adjudicação dos recursos retidos de narcotraficantes para camponeses despojados por paramilitares e seus aliados empresários e políticos.

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Sobre a questão da terra, elogiou a compra de mais de 100 mil hectares de terreno fértil dos latifundiários e pecuaristas para distribuí-los à população camponesa e a titulação de mais de um milhão e 500 mil hectares a agricultores que a tinham como posse sem legalização, em cumprimento do ponto um do acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

Apesar de todos estes elementos, considerou que o maior dos acertos políticos de Petro é a convocação do povo colombiano para desenvolver um processo constituinte a partir das bases em apoio à mobilização e à deliberação pública pelas reformas sociais, o que poderia desembocar em uma Assembleia Constituinte.

Obstáculos no caminho

Apesar de ganhar a presidência com uma maioria avassaladora, o caminho para Petro esteve cheio de barreiras em sua gestão. Para García, o principal destes obstáculos é lidar com uma oposição de direita sempre no poder e acostumada a exercer o domínio de uma maneira unilateral sem prestar contas e que vê o país como sua fazenda.

Tais elites tradicionais, disse, são os donos da terra, dos meios de comunicação, da indústria e fazem uma oposição destrutiva e intolerante com quem é muito difícil construir um diálogo e caminhos de resolução de conflitos. Também reconheceu determinadas deficiências na gestão o que permitiu à direita instaurar campanhas de descrédito.

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Comentou o dano causado pela ausência durante o primeiro ano e meio de uma política de comunicações e de propaganda que permitisse divulgar as conquistas e desmontar as mentiras e os ataques midiáticos da direita. Ante a falta de liderança no rádio e na televisão pública, que mencionou como exemplo, a direita ocupou o cenário da narrativa, dando ideia de um governo falido e criando o ambiente para um golpe brando.

Deficiências

Outra das deficiências, a seu ver, tem a ver com os desatinos na designação de certos dirigentes. A esquerda nunca tinha governado a Colômbia e foram cometidos erros como a nomeação de alguns funcionários acusados de corrupção, o que serviu à direita para armar escândalos e dar a sensação de que todo o governo é corrupto. Bayona, por sua vez, advertiu que os dois anos a vir serão os de maiores dificuldades.

O país, afirmou, entra no período eleitoral que se iniciou com apelos dos chefes dos partidos da extrema-direita e da direita neoliberal à formação de uma aliança de todos contra o Pacto Histórico, para impedir que no período seguinte haja governo progressista, de características liberais e reformistas como o atual.

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O processo de reformas tornar-se-á mais difícil, dado que a missão da coalizão opositora, se chegar a constituir-se, será a de impedir as reformas e fazer com que o governo de Petro fracasse, alertou. Da mesma maneira, observou, será difícil a tarefa de conduzir os processos de paz que estão em crise e o tempo se esgota para obter sua feliz culminação.

O valor da coerência

Questionado sobre se Petro pôde dar cumprimento a seu programa de campanha no âmbito social, Bayona respondeu que os projetos de reformas na saúde, nas pensões, no trabalho e na educação, apresentados à consideração do Congresso da República, refletem a intenção do presidente de honrar suas promessas.

No entanto, afirmou que, apesar de lograr a eleição da maior bancada em ambas as câmaras, fica minoritária diante do conluio daquela seguidora do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010) de extrema-direita, que sabota os projetos das reformas propostas pelo governo da mudança, encarnado por Gustavo Petro. Trata-se, resumiu, de uma dramática realidade que submeteu os projetos a transações e acordos contrários a grandes modificações que têm a deliberada intenção de acabar com eles ou de reduzi-los a sua mínima expressão.

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Quanto às vitórias, García menciona a coerência praticada pelo executivo entre o dito e o feito. “É um governo que prometeu um exercício democrático do poder e está cumprindo. É um governo que prometeu priorizar os mais pobres e está cumprindo, prometeu lutar pela paz e, embora ainda não haja resultados, continua lutando pela paz”, sentenciou.

A cidadania, ou pelo menos aqueles que simpatizam com Petro, acrescentou, veem o governo como coerente, como tentando cumprir sua palavra e enquanto isso percebem a oposição como destrutiva, mentirosa enquanto os meios de comunicação tradicionais perderam muita credibilidade. “Apesar desta ausência de política de comunicação, esta coerência vista pela cidadania é uma das maiores conquistas simbólicas e permitiu ao governo enfrentar a sabotagem da ultradireita e avançar na medida do possível”, resumiu.

Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Ivette Fernández Sosa

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