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ToggleBrasil é hoje uma colônia de quinta categoria, exportadora de produtos primários, sem qualquer controle sobre seus centros de decisão, sejam econômicos ou mesmo políticos e militares, de segurança nacional.
Fracassou como Reino – dependente da Inglaterra. Fracassou como Império – não soube livrar-se da oligarquia fundiária escravagista, nem resolver a questão militar. Preferiu mandar prender Mauá a seguir seus conselhos e atrasou por séculos a modernidade.
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Aquela Belíndia, vista como uma Bélgica desenvolvida e uma Índia subdesenvolvida, transformou-se num gigantesco Haiti. Que me perdoe Toussaint L’Ouverture, seu povo paga até hoje o pecado de ter sido o primeiro quilombo libertado e independente. País inviabilizado pelas potências imperialistas.
O que é o Brasil do século 21?
Somos o legado do século 20 – Brasil fracassado como República. Temos hoje todos os centros de decisão submetidos aos interesses do capital ou subordinados à potência hegemônica, o imperialismo estadunidense e seus cúmplices da Otan.
Vivemos a ditadura do pensamento único imposto pelo capital financeiro. A universidade deixou de pensar e a mídia é a porta-voz do pensamento único. A produção industrial é menor do que a que tínhamos nos anos 1950.
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Desindustrialização e desemprego. Desestatização, privatização e desnacionalização. Desregulamentação, penúria, desalento.
Colheita de grãos batem todos os recordes. O que se ganha com exportação de soja se gasta na compra de fertilizante e agrotóxicos. O grão e o pasto, a mineração predatória, destroem as florestas, poluem os rios, matam os povos originários e ribeirinhos. Alimentamos o mundo com a nossa carne, literalmente, pois 33 milhões de pessoas passam fome, 110 milhões, metade da população, subnutrida, em insegurança alimentar. Que país é esse?
A campanha eleitoral mostra o fracasso também do pacto de 1988. Outra transição mediatizada sem que se tenha resolvido a questão militar. Partidos políticos são meros balcões de negócios e as campanhas políticas são campanhas de publicidade, vendem candidatos como se vende produto de consumo. Não há projeto de país nem programa de governo.
2 de outubro abrem-se novos horizontes. Há que aproveitar o impulso, o entusiasmo para organizar a grande frente de libertação nacional
Descaradamente compra-se votos.
Quanto vale um voto num país em que a renda média é de pouco mais de 2 mil reais? Em que 70% ganha menos que a renda média? Em que 33 milhões ganham menos que um salário mínimo de R$ 1.212 quando deveria ser pelo menos R$ 6.290. Só esses dados já mostram o fracasso desta república.
70% de analfabetismo funcional, metade da população ativa fora do mercado de trabalho. Estamos em pleno processo eleitoral e as pessoas sequer se deram conta de que somos um país ocupado, que o que temos em Brasília é um governo de militares, tropas pretorianas do império, e que há muito o que fazer para que se entenda que a luta é de libertação nacional.
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Darcy Ribeiro previu: sem educação campeia o fascismo
Darcy Ribeiro, o antropólogo que definiu o povo brasileiro, viu e descreveu uma crise civilizatória. Isso ainda na década de 1980. Antes, fazendo exercício de futurologia, no fim da década de 1960, no exílio no Uruguai, discorrendo sobre o Processo Civilizatório, ele previu a
Utilização exaustiva dos novos e prodigiosos sistemas de comunicação em massa para conformar uma opinião pública submissa e disciplinada, mediante uma doutrinação que a torne incapaz de qualquer opção radical. (…) No afã de perpetuar-se como classe dirigente, conduziram seus povos, muitas vezes, a processos de degradação extrema, com apelo ao despotismo e ao militarismo. Esses riscos são hoje muito mais graves… (…) porque pequeno grupo de elite pode apropriar-se da máquina do Estado para conduzir os assuntos nacionais segundo seus interesses e até mesmo contar com o apoio caloroso de enormes parcelas da população, suscetíveis de serem ganhas para as fases mais irracionais como recorda a experiência de Hitler.
A alusão a Hitler me remete a Heinrich Himmler, chefe da segurança do 3º Reich, que para submeter a Polônia, disse bastar deixar as crianças fora da escola, privada de qualquer instrução além das primeiras letras e somar.
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A alusão a Hitler me remete a Heinrich Himmler, chefe da segurança do 3º Reich, que para submeter a Polônia, disse bastar deixar as crianças fora da escola, privada de qualquer instrução além das primeiras letras e somar.
É também de Darcy o reconhecimento de que a má escola no Brasil é projeto de uma oligarquia que quer perpetuar-se no poder. Os tempos são outros. Hoje temos uma lumpen-oligarquia, uma ralé destituída de sentido de pátria e do próprio conceito de Estado soberano. Só vê o próprio umbigo.
Retrato de um país ocupado pelo imperialismo
A que ponto chegamos…
Doutores em medicina e generais que nunca leram um livro. Entre 2015 e 2020, 800 bibliotecas foram fechadas, 538 em São Paulo, 160 em Minas Gerais. Pra que livros se ninguém lê? A soma dos dez principais jornais impressos não chega a um milhão de exemplares. A revista Veja, que chegou a imprimir 800 mil exemplares, hoje não chega a 100 mil.
Mais de cinco milhões de crianças estão fora da escola. 650 mil jovens entre 19 e 21 anos saíram da escola. 44 milhões de crianças atendidas pelo programa Merenda Escolar estão repartindo um ovo entre quatro. Para a maioria dessas crianças, a merenda constituía a única refeição decente do dia. A União envia, quando envia, R$ 1,07 para as creches, R$ 0,53 para a pré-escola e R$ 0,36 para o fundamental. Quem vai ao supermercado sabe que não compra um pauzinho por esse valor.
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Desnutrida, a população adoece. A contrapartida é a desmontagem do SUS e o corte de R$ 1,2 bilhão da Farmácia Popular, que já não atende a demanda de remédios de uso contínuo de maior demanda, como para hipertensão e glicemia, e até mesmo frauda geriátrica.
Desenvolvimento só com educação e projeto
Educação é a chave para o Desenvolvimento. Aqui recorremos de novo ao mestre Darcy – Educação continuada de alto padrão ao longo de toda a vida produtiva.
Sabemos que isso não basta.
Há que ter uma estratégia de educação e esta tem que estar inserida em uma estratégia de desenvolvimento, orientada para a libertação nacional. Independência com soberania, desenvolvimento em harmonia com a vida.
Tempo integral na escola desde a creche à universidade. É a única solução. Contudo, não se conseguiu realizar. As consequências estão à vista de todo o mundo.
Como tirar o atraso? Como recuperar o tempo perdido, incluir mais de uma geração de marginalizados? Como vencer o analfabetismo funcional?
Só há um jeito. Devolver todo mundo, de todas as idades, para a escola. Esse conceito de continuada e por toda vida requer o engajamento de toda a população. Onde houver espaço com gente, tem que ser transformado em escola. O chão de fábrica, o escritório da empresa, todos envolvidos em elevar a consciência de nosso povo.
Vargas indicou o caminho e as coisas aconteceram
O Brasil dos anos 1930 venceu as oligarquias e rapidamente se transformou num país em desenvolvimento. Subdesenvolvido, mas em desenvolvimento. Chegamos a constituir o sétimo parque industrial do planeta. Havia uma revolução cultural em curso.
A desmontagem do projeto e a desnacionalização do parque industrial começam com o regime militar de 1964/85. Rapidamente, a indústria dinâmica, aquela de retorno mais rápido do investimento, nas mãos estrangeiras. O Estado ainda se manteve a cargo da infraestrutura e da indústria de base, necessária na então divisão do trabalho do imperialismo.
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Nova transição feita de novo pelos militares, de um lado. Do outro lado, o culturicídio de várias gerações e a alienação das novas gerações formadas na escola, como projeto de perpetuação do status quo, cimentam o alicerce sobre o qual se constrói o país no novo século.
O neoliberalismo como doutrina de Estado, tal qual num Estado teocrático, impõe-se a ditadura do pensamento único imposta pelo capital financeiro, a gestão do Estado através das cartilhas do Consenso de Washington.
A má escola volta a ser projeto. Para os neoliberais, manter uma criança todo o dia na boa escola custa muito dinheiro e o dinheiro é o que mais importa.
Sem visão estratégica, criaram muitas universidades sem ter alunos e professores preparados para seu funcionamento. Universidades que continuam formando continuadores do status quo, quando deveriam formar os quadros que requerem um projeto de país e uma estratégia de desenvolvimento.
Juventude formada sem noção de pátria, sem noção de independência e soberania. Não se dá conta de que o maior feito da política externa dos Estados Unidos foi a conquista do Brasil sem dar um tiro, sem o desembarque de suas tropas.
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O imperialismo mantém o domínio pela força do poder econômico agro-minero-exportador, dos bancos e financeiras e das forças armadas, tropas pretorianas a manter a ordem e a sabujice.
A pátria transformada em colônia de quinta categoria: terra de ninguém, porteira aberta para a destruição ambiental, o saque e o genocídio; desestatização, privatização, desnacionalização; desregulamentação, precarização, desemprego, desalento, desesperança.
2 de outubro abrem-se novos horizontes. Há que aproveitar o impulso, a alegria, o entusiasmo para organizar a grande frente de libertação nacional, esta sim, capaz de levar-nos à verdadeira independência, com soberania.
Paulo Cannabrava Filho, jornalista editor da Diálogos do Sul e escritor.
É autor de uma vintena de livros em vários idiomas, destacamos as seguintes produções:
• A Nova Roma – Como os Estados Unidos se transformam numa Washington Imperial através da exploração da fé religiosa – Appris Editora
• Resistência e Anistia – A História contada por seus protagonistas – Alameda Editorial
• Governabilidade Impossível – Reflexões sobre a partidocracia brasileira – Alameda Editora
• No Olho do Furacão, América Latina nos anos 1960-70 – Cortez Editora
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