O ano que termina foi o de uma escalada inédita no reforço do bloqueio econômico, financeiro e comercial que por quase seis décadas exercem os Estados Unidos contra Cuba.
Foi um período em que Washington se esmerou detalhadamente em fazer o maior dano possível à ilha, em particular fazer a vida difícil para a população com o propósito de provocar o desalento e que os cidadãos culpem seu governo pela privações derivadas do bloqueio.
Em maio, o presidente estadunidense Donald Trump decidiu ativar o capítulo III da Lei Helms-Burton, com o que se iniciaram reclamações nos tribunais de justiça estadunidenses contra empresas cubanas e de terceiros países acusadas de “traficar” com propriedades dos EE.UU.
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Foi uma das ações destinadas a desalentar o investimento estrangeiro e com isso afogar a economia da ilha, necessitada da participação internacional para despegar economicamente e tocar importantes programas de desenvolvimento.
Em junho, a Casa Branca proibiu as viagens turísticas e as travessias de cruzeiros, iates e aeronaves privadas à ilha, um golpe direto ao turismo, um dos principais motores econômicos e fonte de divisas para Cuba.
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O ministro de Turismo, Manuel Marrero, reconheceu que com isso os portos cubanos deixaram de receber mais de meio milhão de turistas.
Os terminais de cruzeiros cubanos ficaram vazios, graças a um pacote que restringiu também as viagens culturais e educativas de contato com o povo cubano (conhecidas como people to people) e dispôs afetações aos serviços de transporte, remessas, banco, negócios de comércio, entre outras disposições.
Ivonne Martinez
O ministro de Turismo, Manuel Marrero, reconheceu que os portos cubanos deixaram de receber mais de meio milhão de turistas.
Cuba: um ponto de apoio comunista
O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou com isso mudanças no Regulamento de Controle de Ativos Cubanos, ao considerar que “Cuba continua desempenhando um papel desestabilizador no Hemisfério Ocidental”.
O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, justificou a arremetida com o argumento de que Cuba “está proporcionando um ponto de apoio comunista na região e apoiando os adversários estadunidenses em lugares como a Venezuela e a Nicarágua ao fomentar a instabilidade”.
Tal hostilidade corresponde com a posta em marcha do Memorando Presidencial de Segurança Nacional assinado pelo presidente Donald Trump em 16 de junho de 2017 e intitulado Fortalecimento da política dos Estados Unidos para Cuba.
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A isso se soma a lista negra que inclui mais de 200 empresas cubanas às quais a Casa Branca, de maneira unilateral, impede de fazer transações com firmas de outras nações.
Junto a tudo isso estão as milionárias multas aplicadas pelos Estados Unidos a bancos e empresas estrangeiras, em sua maior parte europeias, por suas operações com Cuba, a despeito de serem companhias de países aliados de Washington.
O Governo de Donald Trump diz agir em favor da democracia em Cuba e de seu povo, mas suas ações vão dirigidas de maneira particular contra a população cubana, incluído o setor emergente da economia não estatal ou por conta própria, como se diz aqui.
Também se lançou contra o setor acadêmico e as universidades, os centros de pesquisa científica, as igrejas e outros setores aos quais interpôs um muro para impedir os contatos com seus contrapartes estadunidenses.
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Em setembro e parte de outubro a ilha sofreu o que o presidente Miguel Díaz-Canel definiu como como conjuntura energética.
Cuba padeceu desabastecimento de combustível ao romper-se o ciclo normal de chegada de navios tanques nesta data.
A administração Trump não escondeu seus castigos, ameaças e pressões a empresas de navegação e seguradoras.
Nessa linha, a Casa Branca aplicou castigos às empresas cubanas Cubametales e Corporación Panamericana S.A, por suas compras de combustível. O plano era, e continua sendo, apagar Cuba.
O governo caribenho, em seus diversos níveis, e com a ativa participação da população, adotou medidas de economia e outras de reorganização que mantiveram funcionando o país e em particular os serviços básicos, mas os danos econômicos, inegáveis, faltam ser divulgados.
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O que se sabe é quanto custou o bloqueio a Cuba desde abril de 2018 até março de 2019. Nesse lapso as perdas cubanas somaram quatro bilhões e 343,6 milhões de dólares.
Assim o consignou um informe oficial apresentando por Havana à Assembleia Geral das Nações Unidas, que adotou, por esmagadora maioria, uma resolução que pediu por vigésima oitava ocasião a cessação do cerco a Cuba.
Quando finalize dezembro, os danos causados pela guerra econômica aplicada há quase 60 anos pelos Estados Unidos contra Cuba terão superados os 138 bilhões e 843,4 milhões de dólares, o que explica que se trata do bloqueio mais longo e cruento da história.
*Orlando Oramas León, é chefe da Redação Nacional de Prensa Latina
**Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
***Tradução: Beatriz Cannabrava
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