A recente celebração do dia do jornalista na Guatemala nos obriga a refletir sobre o papel dos meios de comunicação em um panorama tremendamente conflitivo e carregado de ameaças como o que se observa nesse país centro-americano, mas também em muitos outros ao redor do mundo. Aqueles que como nós nos desempenhamos neste ofício sabemos, por experiência, a envergadura das armadilhas na busca da verdade e até onde se pode obter informação de qualidade. Mas isso não afeta só os jornalistas; também para a sociedade a rota está repleta de obstáculos; pode-se ir unindo fragmentos de informação para armar o quebra-cabeças, mas sempre faltam peças indispensáveis, essas que poderiam dar uma pista sobre as causas e as consequências dos fenômenos que nos rodeiam.
Leitura obrigatória
Operação Verdade: 60 anos de luta contra as mentiras da mídia hegemônica
Os meios de comunicação – garantias de um dos pilares fundamentais de qualquer sistema democrático – foram se transformando em enormes monopólios cujos interesses corporativos marginalizaram, de uma vez e para sempre, sua responsabilidade social e sua missão de garantir não apenas a liberdade de imprensa, mas também o direito da cidadania à informação.
Saiba+
Mídia Venal, mas a humanidade resiste e esperneia
Essa rota, aparentemente inevitável pela necessidade de contar com a renda da publicidade comercial e condicionada por interesses particulares, tem causado um impacto negativo em seu trabalho informativo, mas também na integridade das estruturas democráticas e na maneira como as sociedades são induzidas a tomar posição diante dos fatos políticos, econômicos e sociais que lhes concernem.
Ante esta realidade, os meios alternativos – cuja presença abunda no mundo digital – têm se transformado em uma solução parcial e indubitavelmente valiosa para aqueles que buscam conhecer aquilo que os grande meios costumam calar por pressão dos governo ou por defender posições e interesses de grupo.
Sobre o tema
Roberto Savio “A imprensa tem perdido poder e dignidade”
Isto é especialmente notório na cobertura de acontecimentos de enorme transcendência como os protestos massivos contra governos ditatoriais e corruptos ao redor do mundo, assim como fenômenos de histórica data: o racismo, a visão sobre as migrações, a discriminação por gênero, a naturalização da pobreza, os feminicídios, e a criminalização das organizações e líderes populares.
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Armadilhas na busca da verdade
No entanto, estes meios alternativos são apenas um paliativo cuja presença alcança uma elite educada e com acesso à tecnologia. Na marginação e na obscuridade ficam as grandes massas da população submetidas à constante invasão de mensagens interessadas através da televisão e do rádio, os instrumentos de conexão com o mundo mais eficientes, e os mais perigosos quando não estão comprometidos com sua missão pela busca e difusão da verdade. A influência destes meios coniventes com os centros de poder resulta, então, em uma autêntica machadada sobre o próprio centro da democracia e da vida institucional das nações, inclusive naquelas que presumem de desenvolvimento, como sucede com as grandes cadeias noticiosas do primeiro mundo.
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A palavra, esse autêntico milagre capaz de traduzir as ideias para partilhá-las com outros, é um instrumento cujo poder não é valorizado em toda a sua dimensão. Por isso, usá-la de maneira responsável, assumir com isso o compromisso de respeitar a verdade e transmiti-la à sociedade apesar das pressões contra ela, é um ato de fé em sociedades profundamente feridas pela traição de seus líderes e pela inqualificável institucionalização da mentira.
O milagre da palavra não tem sido valorizado em toda a sua dimensão.
*Carolina Vásquez Araya, Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala
**Tradução: Beatriz Cannabrava
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