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A situação é de guerra: urge mobilizar toda a nação para enfrentar o inimigo comum

É urgente que haja um comando unificado e único, um Comando de Salvação Nacional, e o envolvimento de toda a nação para enfrentar o inimigo
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

O Brasil inteiro será Manaus amanhã, advertiu na semana passada o cientista Miguel Nicolelis. Bingo! Aconteceu. 

Para chegar a 200 mil mortos foram 10 meses; para aumentar de 200 a 250 mil, foram só 45 dias e de 250 para 256, apenas três dias. A média diária de óbitos é hoje a mais alta do mundo.

Parece que ninguém ouviu. A situação piorou. Em menos de uma semana passamos de 1000 mortes por dia para 1.860. Um recorde.

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Nessa velocidade, já na próxima semana chegaremos a dois mil mortos por dia e se nada for feito alcançaremos os Estados Unidos que, no auge da crise, teve três mil mortos diários.

Nicolelis volta a advertir, desta vez, mais preocupado do que nunca. Somos Stalingrado! A cidade russa que sofreu o mais mortal dos ataques das tropas nazistas. Cidade sitiada. Somos um país sitiado.

O nosso drama. O país sitiado por um inimigo invisível, de alto grau de letalidade, e ocupado militarmente pelas forças armadas. Um governo militar que tem que dizer qual o seu propósito, que será responsabilizado perante a história por crime de genocídio.

Situação de guerra exige estado-maior, planejamento e envolvimento de toda a população. É o que vimos reclamando desde meados do ano passado.

É urgente que haja um comando unificado e único, um Comando de Salvação Nacional, e o envolvimento de toda a nação para enfrentar o inimigo.

Todas as empresas, todas as instituições da sociedade civil, devem dirigir seus esforços e energia para enfrentar o inimigo comum.

A nação dessangra, o governo e os partidos estão discutindo e se organizando para a eleição de 2022.

Haverá país em 22?

Os partidos estão fora da realidade ao não mobilizar suas hostes para enfrentar o invasor invisível e as forças de ocupação, essas sim, visíveis até demais, legislando e usando o poder em causa própria.

Sem a vacinação em massa não sairemos desse buraco em que está a economia. Quem adverte é o economista liberal Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central. Será que ele consegue convencer a turma do Paulo Guedes que está no comando e diz que não há dinheiro, que é preciso reduzir e congelar os salários dos servidores públicos?

A mídia e o governo têm memória curta. Vale lembrar que em 1975, em plena ditadura militar, houve a campanha de vacinação contra a meningite. Foram vacinadas 80 milhões de pessoas em poucos meses. Em São Paulo, vacinaram 10 milhões em cinco dias. Todos os anos o Brasil é referência mundial em campanhas de vacinação. Então, não há justificativa que não a adoção de uma necropolítica.

É urgente que haja um comando unificado e único, um Comando de Salvação Nacional, e o envolvimento de toda a nação para enfrentar o inimigo

CUT
Fora Bolsonaro

Economia | Auxílio emergencial 

O governo determinou que seja de R $250 pagos apenas três parcelas do novo auxílio emergencial. Na quarta-feira (3), o Senado aprovou destinar R $44 bilhões para gastar este ano com a pandemia. Com isso, no lugar de três parcelas, serão quatro, entre R $150 e R $375, conforme a composição familiar, para 45 milhões de pessoas. A medida pode entrar em vigor na próxima semana.

Para conseguir aprovar o texto, teve que tirar do projeto de PEC a cláusula que desobrigava estados e municípios a investir de 12% a 15% em saúde e 25% em educação. Um pesadelo a menos. Principalmente os municípios já têm dificuldade para obedecer ao preceito constitucional, com a liberação seria o fim dos serviços de saúde e educação públicos.

O Bolsa Família, atualmente com valor médio de R $190, os novos valores não foram ainda definidos.

O programa alcançava 30 milhões. Em 2021 está programado para 13,9 milhões. Agora pagam R $41 para cada filho, podendo cada família cadastrar no máximo cinco crianças. Se houver adolescentes na família, pode receber R $89 de benefício limitado a dois filhos. E as famílias mais pobres recebem R $89. O máximo que uma família poderá receber é R $336.

Em 2020, o auxílio emergencial era de R $600 a R $1.200 por família, pagos a 68 milhões de pessoas e custou R $295 bilhões, mais os R $19 bilhões do Bolsa Família. Agora, querem liberar 70 bilhões, inclusive os 44 do auxílio emergencial. É nada.

Dinheiro tem

Temos quase R $5 trilhões na gaveta!

São R $1,289 trilhão na conta única do Tesouro Nacional, R $1,836 trilhão em reservas internacionais, R $1,393 trilhão de sobra de caixa dos bancos parados no Banco Central, rendendo juros somente aos bancos. E ainda temos 1,2 trilhão que no ano passado o governo cedeu aos bancos para garantir liquidez. Cadê esse dinheiro?

Além disso, tivemos superávit de mais de US$ 50 bi na balança comercial em 2020, com o dólar a R$ 5, são mais R$ 250 bilhõespotencial para arrecadar outros R$ 500 bilhões dos sonegadores e em tributos de ricos que não pagam e várias outras fontes de recursos, pois o Brasil é riquíssimo!

Além disso, emitir moeda não é pecado, todo o mundo faz.

Antigamente, a moeda tinha lastro em ouro. Os Estados Unidos acabaram com isso e passaram a impor sua moeda lastreada em 6 frotas navais. Mas em qualquer país, o que lastreia a moeda é o conjunto do que o país produz.

Veja, os EUA jogaram quase R $3 trilhões na economia e não houve inflação. Na crise dos bancos foi a mesma coisa: trilhões para não deixar os bancos quebrarem.

Lula propôs, com acerto, emitir R $500 bilhões para investir em infraestrutura. A situação, no entanto, é tão grave que exige pelo menos R $800 bilhões.

Nós sugerimos que deveríamos destinar um trilhão para dar um salário mínimo para R $100 milhões de pessoas por dez meses, ou seja, enquanto durar a pandemia e a crise econômica herdada.

Temos esse dinheiro? É o que o governo gasta por ano com juros e amortização da dívida: R$ 1,381 trilhão.

Por que não declarar moratória por um ano? É absolutamente legítimo em situação de guerra.

Esse dinheiro, seja 500, 800 bilhões ou um trilhão jogados na economia, geraria produto, riqueza, trabalho e renda de volta para a União na forma de tributos.

O que deve ser feito

Primeira coisa: constituição de um Estado-Maior conjunto, envolvendo setores da sociedade civil e da administração pública para planejar e executar o Plano de Emergência para enfrentar o inimigo.

Também precisamos de uma campanha envolvendo todos os meios de comunicação para esclarecer a população sobre a gravidade da pandemia e ter a adesão para as medidas de contingência a serem tomadas.

Como seria o fechamento exigido pela gravidade da situação no Brasil?

Fomos verificar o que está sendo feito na Itália, onde a situação começou bem grave, mas se acalmou.

Mobilidade — estão proibidas as viagens intra-regionais. Veja: no Brasil, uma variante do vírus foi detectada no Amazonas, outra na Inglaterra e já estão espalhadas por todo o Brasil. Proíbe-se, portanto, viagens como, por exemplo, ir do Rio Grande do Sul para São Paulo ou de Brasília para Belém.

Viagens – Os Aeroportos, lá, estão fechados para passageiros do Brasil, dos Estados Unidos e da Inglaterra. Aqui estão abertos para o mundo. Dos viajantes, são exigidos testes que tenham sido feitos 48 horas antes com resultado negativo, além de 14 dias de resguardo para quem chega.

Bares e Restaurantes – na Itália é permitido servir comida até às 18 horas, em mesas de quatro pessoas se forem da mesma família. Depois das 18, é proibida a venda de comida e bebida, livre só para entrega em casa até as 22 horas.

Centro Comercial – só abrem para quem vende gêneros alimentícios, produtos agrícolas ou comida.

Visitas – visita a familiares só em dupla das 5 às 22 horas. Veraneio – Ida para uma segunda casa só permitido para o núcleo familiar. Vedado para amigos e parentes.

Esportes – Academias, clubes, termas, piscinas e parques aquáticos estão todos fechados. Permitida a prática de atividade física ao ar livre, desde que com o devido distanciamento e proteção.

O que se conclui é que vacinar é uma medida econômica: o óbvio.

Só com toda a população vacinada pode se restabelecer plenamente todas as atividades econômicas.

Aqui temos o absurdo de que algumas escolas estão funcionando sem que todos os professores e funcionários tenham sido vacinados. Só depois de todos os professores vacinados, assim mesmo respeitando distanciamento e resguardo, é que se poderia retornar às aulas presenciais.

Ruim pros meninos e meninas? Pior sem eles. Com eles vivos a gente trata de recuperar o tempo perdido mais adiante.

Paulo Cannabrava Filho, jornalista e editor da Diálogos do Sul


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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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