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ToggleA roleta política em torno de Donald Trump e seus aliados por possíveis violações de leis de segurança nacional, obstrução de justiça, manipulação eleitoral e outras acusações continuou com todos apostando sobre se o ex-presidente finalmente terá que prestar contas perante a justiça ou, se uma vez mais, sairá ileso e pronto para tentar reconquistar a Casa Branca em 2024.
Trump exigiu, sem base legal, que “seus papéis” confiscados pelo FBI em uma busca sem precedentes em uma residência de um ex-presidente lhe sejam devolvidos de “imediato”. Ao continuar com sua narrativa de que é vítima de uma incessante perseguição política por um governo nas mãos da “esquerda radical democrata”, reiterou: “este é um assalto contra um opositor político [ou seja, ele] em um nível nunca visto antes em nosso país. Terceiro mundo!”.
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Insistindo que não cometeu nenhum delito, Trump intensificou seu contra-ataque afirmando que a busca e as acusações são parte da incessante “caça às bruxas” contra ele e até sugeriu que o FBI poderia haver semeado evidências em sua casa durante a operação.
Ao nutrir esta versão entre suas bases, gerando uma multiplicação de ameaças de violência por ultradireitistas que continuam falando até em “guerra civil”, nesta segunda-feira (15) Trump se atreveu a oferecer-se como um pacificador do país.
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“Este país está em uma posição muito perigosa. Há uma ira tremenda, uma que nunca vi antes” por esta “caçada às bruxas”, declarou à Fox News, e disse ainda que fará o que puder “para ajudar o país” e “reduzir a temperatura”. O ex-presidente acrescentou também que seus representantes haviam contatado o Departamento de Justiça para perguntar se ele poderia oferecer ajuda de algum tipo diante da ira de seus seguidores.
O Departamento de Segurança Interna e o FBI alertaram sobre um incremento de ameaças de violência contra agentes e instalações federais nos últimos dias. Na semana passada, um homem armado tentou ingressar nos escritórios do FBI em Cincinnati.
Na sexta-feira passada (12), quando a ordem de busca e uma lista geral dos materiais confiscados pelo FBI na residência de Trump, na Flórida, foram tornados públicos, foi revelado que o ex-presidente está sob investigação por possível violação da Lei de Espionagem e outras leis, e que vários dos documentos recuperados estavam marcados como “top secret” e outros como alta classificação. Desde então, é notável que fragmentou-se o apoio pleno de que ele gozava entre a cúpula republicana.
La Jornada
Rudolph Giuliani teve sua licença como advogado em Nova York suspensa por um juiz no ano passado
Em um caso separado, Rudolph Giuliani, advogado pessoal e assessor de Trump, foi notificado oficialmente de que está sob investigação criminal pelo promotor distrital de Atlanta, Fani Willis, em torno de seus esforços para reverter os resultados da eleição presidencial no estado da Geórgia.
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Esta é só uma das múltiplas investigações de Giuliani por seus esforços em tentar manipular os resultados da eleição. Sua licença como advogado em Nova York foi suspensa por um juiz no ano passado por suas atividades e declarações falsas na Geórgia, entre outros lugares.
Nessa mesma investigação estadual, um juiz federal recusou a solicitação do senador republicano Lindsey Graham – o qual se tornou em um dos aliados mais leais de Trump – para evitar ser obrigado a se declarar ante um grande júri especial sobre a interferência eleitoral na Geórgia.
Os promotores desejam interrogá-lo por suas tentativas, com outros e Giuliani, de reverter os resultados nesse estado chave, incluindo duas chamadas telefônicas que fez ao secretário de estado da Georgia para perguntar se havia maneira de invalidar algumas cédulas enviadas por correio.
Por outro lado, o Washington Post reportou que uma equipe de especialistas em computação foi dirigida por advogados trabalhando para Trump para arrecadar e copiar dados delicados de sistema eleitoral na Geórgia, como parte de um esforço secreto em muitos estados, muito mais ambicioso e exitoso que os revelados até agora, para aceder a máquinas eleitorais, tudo como parte da estratégia para reverter a derrota eleitoral de Trump em 2020.
Trump, segundo especialistas legais, poderia ver-se acusado diretamente pelas manobras de seus aliados e representantes na Geórgia.
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Está apertando cada vez mais a corda legal ao redor do pescoço do ex-presidente, mas ele escapou tantas vezes de ter que enfrentar as consequências de suas ações ilegais que poucos estão dispostos a apostar que desta vez será diferente.
A disputa sobre o futuro político do país continua girando em torno de Trump
A disputa pelo futuro político dos Estados Unidos continua aprisionada por Donald Trump, mesmo mais de 18 meses após o fim de sua presidência e ante múltiplas investigações judiciais federais e estaduais sobre ele e seus cúmplices. Entre elas, a investigação no Congresso pelo seu papel na tentativa de golpe de Estado em 6 de janeiro de 2021, tudo rodeado de ameaças de violência e até de morte por partes de seus sufocantes ultradireitistas contra juízes, legisladores e outras autoridades que investigam o ex-presidente, além de vinganças contra políticos de seu próprio partido que se atrevem a questionar ou repudiá-lo.
A deputada federal conservadora Liz Cheney perdeu – segundo prognósticos definitivos – sua primária republicana em Wyoming nesta terça-feira (16). Cheney – filha de Dick Cheney, o ex-vice-presidente de George W. Bush – foi uma de só 10 legisladores republicanos que se atreveram a votar a favor do impeachment de Trump em 2021 por seu papel de incitador do assalto ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Desses 10 deputados, sete já haviam se aposentado ou perderam em suas eleições internas (primárias). Nesta terça-feira, Cheney se converteu na oitava vítima da vingança trumpista.
Mas Cheney também se atreveu a ser uma de só dois republicanos a desafiar a liderança de sua bancada e integrar-se ao Comitê Seleto sobre o 6 de janeiro, dedicado a investigar a tentativa golpista que culminou com o assalto violento ao Capitólio.
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Cheney é co-presidente desse comitê, tem um papel chave no desenvolvimento da investigação contra Trump e seus cúmplices, revelando um complô muito mais amplo e sofisticado para reverter a eleição presidencial de 2020 e manter Trump na Casa Branca interrompendo, pela primeira vez na história, a transmissão pacífica do poder presidencial.
Para o ex-presidente, o papel de Cheney é imperdoável e por isso foi expulsa da liderança de sua bancada na câmara baixa e tem tido que viajar acompanhada de um policial armado do Capitólio por causa de ameaças contra ela.
Cheney sabia bem que se defender do que chama princípios constitucionais contra Trump muito provavelmente marcaria o fim de sua carreira política no Congresso. No entanto, ela e seus aliados indicaram que, com isto, ela se converte em uma das figuras nacionais republicanas anti-trumpista mais destacadas, e que isso inclui avaliar a possibilidade de lançar-se como pré-candidata presidencial nas próximas eleições.
Ela é parte de uma corrente anti-trumpista dentro do Partido Republicano junto com outras figuras proeminentes que defendem as linhas tradicionais do partido. Esta corrente, junto com democratas e outros opositores, estão examinando muito de perto as possíveis consequências da recém revelada investigação criminal de Trump pelo Departamento de Justiça, sob a qual foi realizada a busca em sua residência na Flórida pelo FBI no início da semana passada.
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Seu pai, retirado da política ativa, gravou uma publicidade eleitoral em apoio à sua filha onde sublinhou que Trump “é a maior ameaça à nossa república” na história do país, e que para sua filha “não há nada mais importante que poderia fazer que encabeçar o esforço para assegurar que Donald Trump nunca esteja perto do Salão Oval” da Casa Branca.
Enquanto isso, um juiz determinará, nesta quinta-feira (18), se torna pública uma declaração jurada de promotores federais usada para justificar a busca na residência de Trump, tal como desejam aliados do ex-presidente. O Departamento de Justiça se opõe a isso, argumentando que poria em risco “a integridade desta investigação de segurança nacional” sobre o manejo de documentos oficiais secretos depois que o ex-presidente saiu da Casa Branca.
Mas, para Trump, especulam alguns observadores, o que mais interessa agora é saber quem dentro de seu círculo próximo cooperou com o FBI, diante de versões de que o órgão tinha uma fonte confidencial que proporcionou informação chave para a busca.
A sombra de Trump continua obscurecendo o panorama nacional.
David Brooks, correspondente do La Jornada em Nova York.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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