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EUA tentam instaurar uma guerra entre Colômbia e Venezuela, diz líder colombiano

“Povos estão se mobilizando para se contrapor e neutralizar toda tentativa intervencionista dos Estados Unidos na região”, garante Jaime Caycedo, em entrevista
Masiel Fernández Bolaños
Prensa Latina
Cidade do México

Tradução:

“A pretensão do presidente estadunidense, Donald Trump, de atiçar uma guerra entre a Colômbia e a Venezuela é inconcebível na América Latina e os povos estão se mobilizando para se contrapor e neutralizar toda tentativa intervencionista dos Estados Unidos”. A declaração é do secretário geral do Partido Comunista Colombiano, Jaime Caycedo, em entrevista à agência Prensa Latina.

Durante a conversa, Caycedo falou sobre a situação atual na América Latina, o processo de paz na Colômbia e o recrudescimento do bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba.

O dirigente comunista é mestre em Análise Política e doutor em Ciências Filosóficas.

Encontro Anti-imperialista de Solidariedade, pela Democracia e contra o Neoliberalismo, que será realizado entre 1º a 3 de novembro em Havana, abriu a entrevista, que conta com pinceladas históricas. Confira:

“Povos estão se mobilizando para se contrapor e neutralizar toda tentativa intervencionista dos Estados Unidos na região”, garante Jaime Caycedo, em entrevista

The White House
A pretensão do Trump, de atiçar uma guerra entre a Colômbia e a Venezuela é inconcebível na América Latina

Masiel Fernández Bolaños: Levando em consideração o complexo panorama na região, que importância o senhor atribui ao Encontro

Jaime Caycedo: Realmente nos parece muito oportuno e necessário do ponto de vista  da contraofensiva que há de parte do imperialismo e o fato de que ele volta a tomar as medidas mais extremas contra Cuba, seu povo, o governo revolucionário, contra um país que desempenha um papel tão importante no nível mundial e, sobretudo, na América Latina.

Isto o dizemos sobretudo porque — vou expressar do meu modo — sinto vergonha de que o Governo deste país, que se chama Colômbia, tenha uma atitude tão mesquinha com relação à ilha e ao reconhecimento que os colombianos devemos a Cuba, ao seu governo, à generosidade para acompanhar e para desempenhar um papel como garantia em um processo tão complexo como a busca da paz. 

Há necessidade de dizê-lo com toda a clareza; essa postura do governo colombiano não representa nem reflete a opinião nem a atitude do povo da Colômbia com relação a Cuba. 

No seu entender, o que pode ser feito a partir das organizações de esquerda, progressistas, diante do complexo contexto que se vive na América Latina?

Na Colômbia, teremos eleições locais em 27 de outubro, onde se dirimem assuntos locais e regionais, mas no fundo, o tema da paz ou da guerra atravessa o ambiente político e eleitoral deste momento, especialmente porque, de alguma maneira, uma certa forma da violência estrutural tem continuado. 

Digamos, é um episódio de continuação da guerra, onde há uma parte armada: o Estado e os paramilitares; e as forças alternativas, que são a parte desarmada. 

Isso está se refletindo de todas as maneiras no quadro da situação nacional e, de alguma maneira, tem que se refletir também na medida ganhem espaço as forças da paz e as forças que apoiam que o acordo de paz seja levado adiante e cumprido devidamente

e que o compromisso do Estado, em seu conjunto, seja cumprir junto com o acompanhamento da sociedade. Isso vai determinar muito do que ocorrer de 27 de outubro em adiante, no caso da Colômbia.

Na América Latina, teremos as eleições de 20 de outubro na Bolívia, com Evo Morales, e o que a Bolívia significa como o progresso de um país dirigido por um indígena, algo que sai da lógica das oligarquias tradicionais da região, com um grande respaldo social e com muito o que mostrar como desenvolvimento econômico. 

Isso tem permitido fortalecer e colocar a Bolívia no protagonismo da melhoria das condições sociais do continente. Isso é algo verdadeiramente assombroso e que deve nos encher de otimismo. 

Em 27 de outubro, serão as eleições na Argentina e no Uruguai. Vamos ver o resultado de todos esses processos porque são medições de força entre as correntes avançadas, democráticas, progressistas, que estão pela mudança, e o anti-imperialismo e os setores da direita. 

Estamos marcados pela crise do Peru, que também é uma situação muito complexa, mas, de toda forma, é um momento de luta no continente. 

Aqui os povos não estão quietos. Nem indiferentes diante da situação geral que se vê, nem muito menos aceitando que o imperialismo utilize, manipule e pretenda instrumentar situações extraordinárias e dramáticas na América Latina.

A pretensão do [presidente estadunidense, Donald] Trump, de atiçar uma guerra entre a Colômbia e a Venezuela é inconcebível na América Latina e os povos estão se mobilizando para se contrapor e neutralizar toda tentativa intervencionista dos Estados Unidos.

Nessa mesma linha, o recrudescimento do bloqueio contra Cuba, as novas medidas tomadas, que são crimes de lesa humanidade contra o povo cubano, é algo inadmissível e, portanto, o acompanhamento ao Encontro previsto em Havana é uma tarefa de muita importância para todos.

Depois de quase três anos da assinatura do Acordo de Paz entre o Estado colombiano e a ex-guerrilha FARC-EP, como avalia a sua implementação? 

O Acordo foi um fato de muita transcendência para a sociedade colombiana, para este país e para América Latina porque permitiu, pela primeira vez em um século, abrir o horizonte de uma possibilidade de mudança e de chegar a uma paz democrática. 

Nós chamamos de paz democrática uma ideia especificamente de projeto de país, político e nacional que consiste em que Colômbia, depois de um século de guerras civis internas camufladas e, sobretudo, envolvidas no pretexto anticomunista, possa encontrar um espaço de paz. 

Tudo isso, com base no aprofundamento da democracia, de avançar no sentido de resolver as profundas brechas sociais, da desigualdade que o capitalismo periférico, dependente, causou em nosso país e na América Latina.

Aqui com maior profundidade por causa da intervenção imperialista, que não é somente ter bases militares dos Estados Unidos ou tropas, ou intervir com o Plano Colômbia. Tem a ver fundamentalmente com a visão geopolítica que o imperialismo tem feito da Colômbia desde começos do século anterior. 

Levamos praticamente 125 anos em condições em que os Estados Unidos nos consideram uma espécie de neocolônia anexável, que em um determinado momento pode servir como um instrumento, como uma plataforma, como um porta-aviões de uma ação intervencionista no continente e no Caribe. 

É claro que ameaçando todo o coração amazônico, a Venezuela bolivariana e todas as suas riquezas e, em geral, o continente com a ideia de militarização. 

Nosso país está sendo convertido na cabeça de praia de uma política intervencionista ou, quando menos, de tolerância ao intervencionismo ou também de plataforma que em um momento determinado possa acompanhar uma aventura imperialista dessa natureza. 

Aqui as forças democráticas, da esquerda, dos processos unitários, das políticas de frente ampla, da União Patriótica e da Colômbia Humana se opõem a isso. 

É claro que estamos movendo todas as molas do movimento operário, dos movimentos estudantis, agrários e rurais que são tão importantes na consolidação do Acordo de Paz para que isto possa afiançar-se e, sobretudo, exigir do governo nacional uma mudança na postura em sua política exterior em relação à América Latina e o Caribe.

No próximo 13 de outubro acontecerá o Festivoz, considerada uma tradicional festa da esquerda colombiana e dos meios alternativos de comunicação. Que importância se atribui à realização desse evento, levando em consideração o momento que se vive neste país? 

Ele já se converteu em uma tradição significativa como parte dos eventos que trazem um relacionamento cultural e de problemáticas sociais e políticas de atualidade. 

Este ano terá um espaço para refletir sobre a solidariedade com Cuba. Ademais, será um espaço de referência muito claro à solidariedade com o povo irmão da Venezuela. Somos povos irmãos, povos gêmeos que estamos comemorando 200 anos de república. 

Estamos no bicentenário da criação de algo imaginado por Francisco de Miranda, que o chamou Colombeia e que [Simón] Bolívar e os revolucionários libertadores terminaram chamando, em 1819, de Colômbia, essa Colômbia original, revolucionária, que derrotou o colonialismo espanhol. 

Este país naquele momento colocou os seguintes temas: a libertação dos escravos, a liberdade plena, as garantias morais para uma república nas condições de então e a tarefa de liberar o resto da América do Sul. Ou seja, esta é uma criação de muita importância que vamos a seguir comemorando. 

O Festival vai tocar estes temas de alguma maneira e fazer referência ao 70º aniversário da República Popular Chinesa. 

Consideramos importante que no nosso país esse aniversário não passe como uma notícia de imprensa longínqua, quando atualmente esse Estado e seu partido governante, o Partido Comunista da China, desempenham um papel tão significativo na vida do planeta e na batalha pela paz e contra o imperialismo. 

Estes temas estarão presentes no evento como defesa das liberdades, da paz em nosso país, mas também defesa do internacionalismo que é uma das características do Partido Comunista e da Juventude Comunista colombianos. 

 **Tradução Beatriz Cannabrava

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Masiel Fernández Bolaños

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