O presidente guatemalteco, Alejandro Giammattei, e seus aliados, já cometeram todos os delitos do catálogo político: obstrução à justiça; saqueio das arcas públicas; cumplicidade com as organizações criminosas e com os cartéis de narcotráfico; perseguição e prisão contra operadores de justiça, líderes comunitários, defensores de direitos humanos e quem se oponha a seus abusos e, como se isso fosse pouco, o ataque furibundo contra a imprensa independente, com ameaças explícitas a jornalistas e líderes de opinião valentes e capazes de desvelar suas manobras.
O tamanho de suas ofensas contra a democracia vai parelho com o medo de perder o controle do poder e se ver enfrentado à possibilidade de pagar por seus crimes. Daí a cooptação do Ministério Público, ao sustentar em sua máxima chefia a quem tem a potestade de se converter no braço vingador e retorcer impunemente a aplicação de suas funções.
O aparelho judicial, por sua parte, foi invadido por juízes e magistrados corruptos, tal e como sucede com um Congresso majoritariamente aliado, que apoia incondicionalmente suas decisões. Os fundos do Estado são sua “caixinha” com o objetivo de levar a cabo, sem qualquer oposição, seus planos de concretizar a destruição total da institucionalidade no país.
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A captura do jornalista José Rubén Zamora Marroquín, diretor do elPeriódico – meio que investigou e desvelou os maiores escândalos das recentes administrações – consumou-se rodeada de um escandaloso aparato policial. Leva uma mensagem evidente para todo membro da imprensa que ouse continuar com as denúncias e a exposição dos delitos da equipe de governo. O violento operativo de invasão da casa de Zamora Marroquín e dos escritórios do elPeriódico não deixam resquício à dúvida a respeito dos planos deste projeto de ditador, dado que amedrontar a imprensa independente é e tem sido sempre o covarde instrumento dos traidores.
Sem a intervenção das forças vivas do país, de sua cidadania consciente e comprometida com a democracia, nada mudará
A Guatemala tem vivido tempos escuros durante sua história. Experiências dolorosas e extremas que culminaram com uma virada inevitável para um sistema democrático. No entanto, as raízes do mal persistiram em instituições infiltradas por elementos corruptos e organizações criminosas. A depuração institucional ficou como um tema pendente, o que deixou abertas as oportunidades de reverter os esquemas para um quadro de excessos como o que a Guatemala vive hoje. Em síntese, a democracia tão desejada pela cidadania, não terminou de coalhar.
O panorama desse país não pode ser mais desalentador. Com uma população temerosa da violência estatal e calada pela fome e a miséria, o prato está feito. No entanto, ainda com as ameaças e perseguições, as investigações e denúncias publicadas pelo elPeriódico e outros meios – assim como as colunas de opinião opostas aos abusos da cúpula política – deixaram em evidência o sério perigo que ameaça todo o sistema político, econômico e social deste país centro-americano.
A comunidade internacional, por sua parte, concentrada em atender seus próprios problemas, só parece dar uma olhada tangencial sem maior impacto no desenvolvimento dos acontecimentos. Isto significa que, sem a intervenção das forças vivas do país, de sua cidadania consciente e comprometida com a democracia, nada mudará.
O direito à informação é um direito humano inalienável.
Carolina Vásquez Araya é colaboradora da Diálogos do Sul, da Cidade da Guatemala.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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