Pesquisar
Pesquisar
Foto: Facebook de Joe Biden

Biden defende liberdade de imprensa enquanto arma Israel para matar jornalistas palestinos

Explosivos e munições feitas e entregues pela indústria estadunidense já mataram, além de jornalistas, suas famílias, um total de mais de 34 mil civis até o momento
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Em 3 de maio, foi o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa e, com isso, os líderes políticos deste país expressaram, como é rotina, que essa liberdade é sagrada, embora pouco antes tivessem autorizado o envio de mais bombas feitas nos EUA que já foram utilizadas para matar mais jornalistas do que em qualquer outro episódio bélico. Além disso, persistem na perseguição e encarceramento de um jornalista que publicou documentos sobre, entre outras coisas, crimes de guerra de Washington em seus conflitos bélicos.

“A imprensa livre é um pilar essencial da democracia”, declarou Joe Biden, acrescentando que os jornalistas se esforçam para expor a corrupção, documentar guerras e que “alguns jornalistas deram suas vidas por esse trabalho”. Sublinhou que o jornalismo “não deve ser crime” em nenhum lugar e se atreveu a comentar que 2023 foi um dos anos mais mortíferos para jornalistas ao assinalar que “uma razão para isso é a guerra em Gaza, onde muitos jornalistas, a grande maioria deles palestinos, foram mortos” (mas evitou identificar quem os matou e menos ainda a assistência de seu governo para essa guerra). Também disse que os Estados Unidos exigem a libertação de todo jornalista preso no mundo por fazer seu trabalho (evitou mencionar Julian Assange).

Leia também | Até quando os assassinos de jornalistas palestinos continuarão impunes?

A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) calcula que mais de 100 jornalistas foram assassinados desde 7 de outubro em Gaza. “Esses 103 jornalistas não são números, são 103 vozes que Israel calou, são 103 testemunhas a menos da catástrofe que se desenvolve na Palestina”, denunciou Christophe Deloire, secretário-geral da RSF (o número subiu para 105 pouco depois).

O Comitê de Proteção aos Jornalistas registra 97 repórteres falecidos em Gaza e denunciou que “os jornalistas pagaram o custo mais alto – suas vidas – para defender nosso direito à verdade”. Tanto o Comitê como a RSF destacam que este tem sido o período mais mortífero para jornalistas em pelo menos 30 anos.

Al Jazeera

Enquanto os israelenses afirmam abertamente que não podem garantir a proteção de jornalistas em Gaza – e em 5 de maio anunciaram o fechamento da Al Jazeera em Israel por razões de segurança nacional, algo ainda não condenado por Washington –, suas forças lançam bombas ou disparam munições feitas e entregues pelos Estados Unidos que mataram mais de 34 mil civis, incluindo jornalistas e suas famílias.

Em casa, apesar das palavras bonitas de Biden e outros, os Estados Unidos caíram 10 posições no índice anual da RSF, a “Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa 2024”, em comparação com 2023, ocupando agora o 55º lugar no mundo, uma classificação nada estelar para o auto proclamado campeão mundial da democracia. Embora tenham diminuído as violações e ameaças contra a imprensa que existiam durante o governo de Trump, que abertamente declarou os meios de comunicação como inimigo do povo – algo que continua repetindo –, o informe destaca que não foi resolvida uma série de problemas que ferem essa liberdade tanto a nível nacional como local, incluindo agressões contra jornalistas por políticos, bem como detenções de repórteres que cobriam protestos.

Leia também | É preciso lutar por Julian Assange; libertá-lo é garantir a nossa própria liberdade

A RSF e outros defensores da liberdade de imprensa continuam a denunciar a insistência do governo dos EUA em continuar com seus esforços para extraditar e julgar o fundador do Wikileaks, Julian Assange, reiterando ao suposto campeão da democracia que fazê-lo viola esse pilar da liberdade de imprensa.

Ao mesmo tempo, a maioria (2/3) dos estadunidenses acredita que a imprensa não tem plena liberdade para reportar as notícias e mais de 83% acreditam que a mídia opera sob influência de interesses financeiros ou políticos, segundo a Pew Research. “A liberdade de imprensa pertence ao homem que possui uma”, escreveu o jornalista AJ Liebling no The New Yorker em 1960.

Talvez os políticos devessem exercer o direito ao silêncio para evitar abusar de sua liberdade de expressão. “No nosso país, temos estas três coisas inevitavelmente preciosas: a liberdade de expressão, a liberdade de consciência e a prudência de não praticar nenhuma delas”, escreveu Mark Twain.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

LEIA tAMBÉM

Modelo falido polarização geopolítica e omissão de potências condenam G20 ao fracasso (2)
Modelo falido: polarização geopolítica e omissão de potências condenam G20 ao fracasso
Rússia Uso de minas antipessoais e mísseis Atacms é manobra dos EUA para prolongar conflito
Rússia: Uso de minas antipessoais e mísseis Atacms é manobra dos EUA para prolongar conflito
Após escalar conflito na Ucrânia com mísseis de longo alcance, EUA chamam Rússia de “irresponsável”
Após escalar conflito na Ucrânia com mísseis de longo alcance, EUA chamam Rússia de “irresponsável”
Misseis Atacms “Escalada desnecessária” na Ucrânia é uma armadilha do Governo Biden para Trump
Mísseis Atacms: “Escalada desnecessária” na Ucrânia é armadilha do Governo Biden para Trump